“Presidente, o senhor completa 100 dias à frente do governo na próxima semana. Qual foi o dia mais tenso?”. Jair Bolsonaro, presidente da República, ri e murmura: “Mais tenso, mais tenso...”. Diante do chefe, o ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, responde, antes de mais um gole do inseparável chimarrão: “A gente paga um preço por estarmos todos aprendendo.”
Durante café da manhã com jornalistas de alguns jornais e tevês do país (e a apresentadora Luciana Gimenez), no terceiro andar do Palácio do Planalto, o presidente Jair Bolsonaro demonstrou descontração. E desapego. Quase no fim do encontro de uma hora, a reportagem quis saber de Sérgio Moro, apontado antes das eleições como um dos homens públicos mais populares do país pela atuação na Lava-Jato, se o ministro gostaria de ocupar o único lugar da mesa onde havia uma pequena câmera à frente para registro das falas presidenciais. Antes de o ministro da Justiça responder (“Tem de ser um pouco louco”), Bolsonaro se antecipa e pergunta: “Quer trocar, Moro?”.
Risos do ministro, dos jornalistas e do presidente, que complementa: “Eu disse na campanha que, em janeiro, ou estaria aqui nessa cadeira ou na praia. Me dei mal”. Mais risos. Horas depois, em evento com servidores do Planalto, o presidente chegou a dizer, também em tom de brincadeira: “Não nasci para ser presidente, e sim militar.”
Além dos titulares da Casa Civil e Justiça, Jair Bolsonaro estava acompanhado de três generais ministros: o porta-voz Otávio do Rêgo Barros; o secretário-geral da Presidência, Floriano Peixoto; e o chefe do gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno (“Nosso guru”, como definiu Lorenzoni). Bolsonaro revelou que fará, na próxima semana, uma exposição dos pontos que considera mais importantes dos primeiros 100 dias de seu governo. Provocado a eleger a marca do início de seu mandato, ele respondeu: “A transparência”. Fez uma pausa: “Também a escolha de ministros sérios”. Depois de outra pausa, encerrou com uma frase de efeito: “Não fomos acusados de nada do que os outros foram acusados”.
Muitas vezes, durante o café da manhã (água, suco de laranja, pão de queijo, biscoito de queijo e bolo de coco), um ministro complementava as respostas do presidente. Se o assunto eram as articulações com o Congresso Nacional, Lorenzoni tomava a iniciativa. Supostas divergências entre os militares no Planalto? Assunto para Heleno comentar. E de forma incisiva: “Tentam criar brigas para nos desunir, mas podem perder a esperança. Somos amigos há 40 anos. Não existe esse troço de ala militar”.
Economia
Para o balanço dos 100 dias, porém, foi Sérgio Moro quem tomou a palavra para enaltecer uma iniciativa do “mais importante” dos ministérios, na avaliação de Bolsonaro: o da Economia. “O governo apresentou uma reforma consistente de Previdência, e isso não é trivial”, destacou o titular da Justiça, antes de citar o pacote anticrime e outras medidas no âmbito de seu ministério — como a reestruturação das equipes da Polícia Federal e da Lava-Jato que, segundo Moro, “nos bastidores, ia se esvaziando”.
O presidente parecia bem à vontade durante o encontro com jornalistas. Brincou na hora de fazer fotos com o grupo reunido: “Vocês vão se queimar, hein?”. Respondeu tudo que lhe foi perguntado. Ou quase tudo. Silenciou apenas depois da seguinte questão: “O senhor está satisfeito com o desempenho do ministro Vélez?”. Mas deu pistas em relação ao destino do titular do MEC. “É uma boa pessoa, de coração grande, muito bom para conversar. Mas não tá dando certo. Está faltando gestão. Até segunda-feira, isso vai estar resolvido.”
Fonte - Estado de Minas/ Diário de Pernambuco
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