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terça-feira, 19 de abril de 2011

REI - ROBERTO CARLOS COMPLETA 70 ANOS DE MAJESTADE


Talvez Roberto Carlos Braga seja o mais humano de nossos reis. Teve uma perna esmagada em acidente de trem na infância, sofreu com as perda de sua mãe e a esposa Maria Rita, ambas de maneira lenta e dolorosa; e no fim de semana, deu adeus a uma enteada que criou como filha. E em nenhum momento perdeu a majestade que, com os 70 anos completados nesta terça-feira (19) só dá mostras de que vai atravessar incólume os tempos. Ele passou reto como uma flecha pelo tropicalismo, bossa nova, punk e new wave. Aqui, inalcançável como um rei sobrehumano de literatura infantil.

E ainda há quem o critique. Aponte o alcance de sua voz como muito baixo, as melodias simplistas, as letras pobres. Mas onde há pobreza no verso "Se chorei ou se sofri/o importante é que emoções eu vivi" se foi algo que ele sentiu na carne e expõe para todos nós há meio século?

As emoções começaram em Cachoeiro do Itapemirim, interior do Espírito Santo, quando Laura Moreira Braga deu à luz seu quarto e último filho com o relojoeiro Robertino Braga. A música esteve intrinsecamente ligada à família, já que foi Dona Laura a dar os primeiros passos ao filho ensinando-lhe violão e piano. A educação formal veio no Conservatório Musical da cidade. Precoce, a primeira apresentação pública foi ao snove anos, na Rádio Cachoeiro. Como prêmio, ganhou um punhado de balas.

Essa foi a primeira grande vitória depois de um trauma violento. Três anos antes, Roberto brincava com uma colega de escola, Fifinha, na plataforma da estação de trem. Uma locomotiva aproximou-se. A professora que os acompanhava puxou a menina. Ele não teve a mesma sorte e cai, tendo a perna direita esmagada e amputada um pouco abaixo do joelho. Até os 15 anos, idade em que usou a primeira prótese, andou com a ajuda de muletas.

RIO - Nada que acabesse com seu sonho. Na metade final da década de 1950 mudou-se para o Rio de Janeiro, mais precisamente a cidade de Niterói. Foi lá que travou conhecimento com a maior revolução músical do século passado, o rock and roll. Em 1957, formou a primeira banda, chamda de The Sputniks, referência ao satélite soviético lançado ao espaço naquele mesmo ano. Na turma de amigos que gravitava em torno das bandas da época, estava Erasmo Carlos, futuro parceiro musical do Rei.

Quando os Sputniks encerraram sua breve carreira, Roberto iniciou a carreira solo que perdura até hoje. Cantava em clubes, festas e hotéis até Carlos Imperial convidá-lo para o programa Clube do Rock, na TV Tupi. Ali começaram as gravações de compactos que culminaria no primeiro álbum, Louco Por Você, de 1961.

O marco inicial, porém, veio no ano seguinte. Splish Splash, composta com Erasmo e que também deu nome ao LP o alçou a ídolo da juventude. Seguiram-se Parei na Contramão, O Calhambeque e É Proibido Fumar. Hoje, todos clássicos. A imagem do cantor e, claro, de suas músicas, ganharam ainda mais força com o programa Jovem Guarda, de 1965 ao lado de Erasmo (O Tremendão) e Wanderléa (A Ternurinha).

No ano seguinte, sua amizade e trabalho com Erasmo sofreu o primeiro abalo. Um programa em homenagem a Erasmo creditava a autoria de Parei... e Quero Que Vá Tudo Pro Inferno unicamente a ele. Por mais de um ano foi cada um para seu lado. Mesmo sem sua melhor metade, a inspiração de Roberto não tinha fim e o Rei deu ao mundo Quando, Como é Grande o Meu Amor Por Você, Por Isso Corro Demais, Querem Acabar Comigo e Namoradinha de um Amigo Meu. Além delas, versões de Esqueça (Roberto Corte Real), Negro Gato (Getúlio Côrtes) e Nossa Canção (Luiz Airão).

A colaboração com o Tremendão voltou por conta do filme Roberto Carlos em Ritmo de Aventura, de 1967. Roberto não conseguia terminar a letra de Eu Sou Terrível. Apelou para o parceiro, que o ajudou e os dois voltaram às boas.

VIRADA - Já perto dos 30 anos, o cantor iniciou a grande virada de sua carreira. O álbum "Roberto Carlos", de 1969 foi o marco inicial da verve romântica que o acompanharia ao longo das décadas seguintes. Foi naquele bolachão que estavam gravados Sua Estupidez e As Curvas da Estrada de Santos. Mesmo com um novo rumo sendo traçado, ainda havia tempo para o segundo filme ainda como alvo a juventude: Roberto Carlos e o Diamante Cor de Rosa e o mesmo sucesso de Ritmo de Aventura.

Nos anos 1970, o rock no resto do mundo já ganhara contornos mais adultos, tanto no comportamento dos artistas quanto na pluralidade de sons desbravados. Se essa complexidade musical não chegou ao Rei, ao menos deixou sua obra mais adulta, o que para os detratores seria futuramente chamado de brega ou cafona. Rótulos à parte, foi durante esse período que ele marcou seu nome definitivamente na Música Popular Brasileira.

O ano de 1971 marcou seu último filme - Roberto Carlos a 300km por Hora. O ciclo adolescente estava definitivamente fechado e esse mesmo ano teve outro disco, novamente chamado Roberto Carlos, como todos os subsequentes. O álbum é um verdadeiro desfile de hinos: Amada Amante, Todos Estão Surdos, Debaixo dos Caracóis dos Seus Cabelos (homenagem a Caetano Veloso) e Como Dois e Dois (do próprio Caetano). Isso sem falar em Detalhes, talvez seu maior sucesso.

Uma nova mudança na carreira veio acontecer novamente em 1974, na véspera do Natal. A Rede Globo convidou o cantor para fazer um especial. O sucesso foi tamanho que até hoje é item obrigatório na grade da emissora carioca. O final da década marcou uma popularidade estrondosa. Os álbuns, religiosamente lançados todo ano, vendiam entre um milhão e um milhão e meio de cópias. Os shows, sempre com lotação esgotada. De triste, o fim do casamento com Cleonice, que lhe deu Rafael, Roberto Carlos Segundo e Luciana - além de Ana Paula, filha do primeiro casamento de Nice, mas que ele considerava como filha legítima.

Se no Brasil, Roberto Carlos já virara uma instituição, a década de 1980 marcou o reconhecimento fora do País. Ganhou o Prêmio Globo de Cristal. Seguiu-se um Grammy de Melhor Cantor Latino em 1988. As duas décadas seguintes - 1990 e 2000 - marcaram a superação de recordes de vendagens. Em 1994 superou os Beatles como artista que mais vendeu na América Latina. Superou a marca de 70 milhões de cópias - no total, já superou a barreira dos 100 milhões.

Em 1995, casou-se novamente - estava separado da atriz Myriam Rios desde 1989. A "rainha" se chamava Maria Rita Simões. Em 1998, Rita teve diagnosticado um câncer, que agravou-se até o ano seguinte, chegando por fim a tirar-lhe a vida em dezembro de 1999. Por isso, naquele ano não houve disco nem especial da Globo.

A perda da companheira só o fez voltar aos palcos em novembro de 2000, tendo o Recife como palco da nova turnê. Em 2001 refez os arranjos de algumas músicas para a gravação do Acústico MTV, outro grande sucesso. Na década seguinte manteve o ritmo normal de shows e turnês. Em outubro do ano passado perdeu a mãe, Laura, aos 96 anos. Mesmo assim, encontrou forças para um grande show na praia de Copacabana, no dia de Natal.

HOMENAGENS - A sólida carreira fez Roberto Carlos receber diversas homenagens ao longo dos anos. Em 1994, um time de músicos gravou o cd Rei, todo com regravações do cantor. Skank (É Proibido Fumar), Barão Vermelho (Quando) e Chico Science e Nação Zumbi (Todos Estão Surdos) eram algumas das estrelas.

No entanto, o maior reconhecimento viria justamente no ano de seu 70º aniversário. A escola de Samba Beija-Flor escolheu o cantor como enredo para o Carnaval. Intitulado "A Simplicidade de um Rei", o carnaval da agremiação faturou seu 12º título, que contou com o homenageado no desfile.

Wladmir Paulino
Do NE10

Um comentário:

Maria Adeladia disse...

Gosto muito do Roberto.
Suas músicas, são lindas demais.