ARARIPINA

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sexta-feira, 22 de outubro de 2010

JUSTIÇA RÁPIDA - PRESO ASSASSINO DO RADIALISTA F. GOMES


Vingança. Este foi o motivo revelado pelo desempregado João Francisco dos Santos para assassinar o jornalista e radialista Francisco Gomes de Medeiros, com reconhecida atuação na região do Seridó e conhecido em todo o Estado como F. Gomes. Após vários depoimentos ao delegado Ronaldo Gomes, da Deicor, que preside o inquérito sobre o crime, Dão, como João Francisco é conhecido, afirmou haver jurado de morte o comunicador desde 2007, quando foi preso por roubo qualificado.

Ao delegado Ronaldo Gomes, o desempregado disse que F. Gomes teria dado grande visibilidade ao crime praticado por ele e, por esse motivo, a Justiça teria decidido mante-lo em regime fechado durante um ano e meio, e não sete meses, como esperava Dão. Ele afirmou, ainda, que desde então começou a elaborar um “plano” para matar F. Gomes.

Há cerca de 30 dias, Dão começou a seguir F. Gomes e levantar informações sobre a rotina do jornalista. Ficou sabendo que o jornalista tinha o hábito de ficar na calçada com amigos no início da noite. Depois disso, o criminoso comprou uma arma em Caicó e decidiu executar o jornalista na noite de segunda-feira (18).


João Francisco chegou à casa de F. Gomes, na rua Professor Viana (bairro Paraíba, em Caicó) por volta das 21h15. O jornalista estava sentado na calçada, conversando com o cunhado e amigo Ronaldo Santiago. Quando o amigo virou-se para voltar para casa, João Francisco agiu. Ronaldo, a pouco metros de distância, lembra-se apenas de ter ouvido cinco tiros. Do criminoso, viu apenas que “era um homem baixo e forte que estava com uma jaqueta verde, em uma moto preta”.

Os tiros (três deles) o atingiram no tórax. Socorrido para o Hospital Regional, ele não resistiu aos ferimentos. F. Gomes atualmente dirigia o departamento de radiojornalismo da Caicó AM. Como jornalista, atuou nas emissoras A Voz do Seridó e Rural AM. Ele era casado com Eliane Gomes, e tinha três filhos. Toda a família estava em casa na hora do assassinato.

Após atirar no jornalista, João Francisco fugiu na moto e, mesmo com poucas informações que pudessem identifica-lo, acabou preso horas após por Policiais Militares que faziam buscas por suspeitos. Por ser conhecido da polícia e estar de moto, ele foi levado para a delegacia da cidade. Interrogado pelo delegado George Davi, acabou liberado no fim da madrugada de ontem. O delegado não viu “indícios de que ele tivesse ligação com o crime”.


No meio da manhã, PMs encontraram em um matagal do bairro Paraíba, por trás do Batalhão de Engenharia de Construção do Exército, roupas iguais a que estariam sendo usadas pelo atirador. Além de uma jaqueta que é utilizada pelos mototaxistas da região, utilizada como disfarce, foram encontrados um jeans, sandálias e camisa. Um capacete cinza, igual ao descrito por testemunhas da fuga do atirador, também foi encontrado.


O delegado Ronaldo Gomes – chefiando uma comissão de mais dois delegados Lenivaldo Pimentel e Célio Roberto Santana nomeada pelo secretário Cristovam Praxedes para investigar o crime – determinou que João Francisco fosse novamente trazido à delegacia. Durante os novos depoimentos, ele acabou confessando o crime e os motivos, desde que lhe fossem dadas garantias de que ficaria preso no presídio regional de Caicó.

CAICÓ PAROU PARA SEPULTAR A " VOZ DO SERIDÓ"

O clima de comoção tomou conta da cidade de Caicó após a confirmação da morte de F. Gomes, ainda na noite de segunda-feira. Ontem, às 5h30, já havia fila na Loja Maçônica Regeneração do Seridó, onde o radialista foi velado. "Vim me despedir do meu amigo. Era uma tradição aqui em Caicó escutar o programa de F., o líder de audiência na rádio seridoense", falou a dona-de-casa Maria Dantas, que sequer chegou a conhecer F. Gomes pessoalmente.

O reconhecimento de F. Gomes da cidade é tão grande que as três principais rádios AM da cidade (Rural, Seridó e Caicó) se juntaram e convocaram a população a promover um buzinaço às 11h, horário em que diariamente o radialista apresentava o”Comando Geral”. A homenagem, que inicialmente iria durar 5 minutos, se estendeu por mais de 20 minutos em todos os pontos de Caicó. Às 15h, o corpo foi levado em um caminhão do Corpo de Bombeiros para a igreja São José. Assim que a missa de corpo presente foi encerrada, por volta das 17h, o cortejo seguiu para o cemitério Campo Jorge.

DELEGADO NÃO ACREDITA NA VERSÃO DE DÃO

O delegado Ronaldo Gomes de Moraes não acredita na versão apresentada pelo desempregado João Francisco dos Santos, o Dão, que confessou ter planejado sozinho a execução do radialista F. Gomes. "Ele resolveu confessar o crime após vários interrogatórios que fizemos durante todo o dia. Mesmo assim, eu considero a versão apresentada por ele muito simples, sem consistência. Por esse motivo, vou continuar investigando esse assassinato", falou.

Ronaldo Gomes foi designado diretamente pelo governador Iberê Ferreira para investigar, de maneira exclusiva, o assassinato de F. Gomes. "Ele disse que queria se vingar por ter permanecido preso por um período maior devido a uma série de denúncias do radialista. Para completar, ainda segundo o Dão, F. Gomes estaria comentando nos bastidores que ele seria um traficante. Eu acho isso muito fútil para provocar um assassinato".

Por esse motivo, Ronaldo Gomes vai permanecer em Caicó para apurar o crime. "Eu realmente acredito na culpa do Dão na execução, mas ainda acho que ele tenha cometido o crime a mando de alguém. Mas não posso me antecipar e apontar quem seriam os mandantes".

CRIME TEM REPERCUSSÃO NACIONAL


O assassinato do jornalista F. Gomes foi noticiado por alguns dos principais veículos de comunicação do país. As versões online da Folha de São Paulo e do Globo deram chamadas para a notícia no hotsite sobre as Eleições de 2010, classificando o crime como “emboscada”, apontando como um dos possíveis motivos a denúncia da suposta troca de votos por crack, denunciada por F. Gomes.

O jornal Extra também destacou o assassinato, enaltecendo o perfil traçado do jornalista pelos veículos da imprensa potiguar, assim como a versão online do jornal Globo, o blog do jornalista Ricardo Noblat e o portal G1. O blog “Repórter de Crime”, do jornalista Jorge Antônio Barros e hospedado no Globo.com, também relatou a morte de F. Gomes.

Além de noticiar o fato, o jornalista também fez uma espécie de desabafo ao fim da postagem: “assassinar um jornalista que serve ao público é como tentar abafar a voz de toda sociedade. Não tolere isso em hipótese alguma. Mataram um jornalista do Rio Grande do Norte, mas a voz dele há de se multiplicar por mil. Os jornalistas potiguares não vão se calar! E precisam do apoio dos jornalistas e de toda a sociedade”, disse Jorge Antônio Barros.

JORNALISTOAS SE INDIGNAM COM O HOMICÍDIO

Alguns dos principais jornalistas do Rio Grande do Norte se mostraram indignados com o assassinato de F. Gomes. Albimar Furtado, Jânio Vidal e Osair Vasconcelos afirmaram que F. Gomes era um repórter muito atuante.

De acordo com Albimar Furtado não havia notícias de ataques contra jornalistas no RN e que o jornalismo policial é de extrema importância para a sociedade. Albimar disse ainda que deve-se lamentar o que aconteceu com F.Gomes e que o jornalismo perde um profissional exemplar. “Ele era um homem corajoso. Se expôs. É da natureza da profissão. A vitória do jornalista é dar a notícia. Isso é jornalismo puro e ele cumpria muito bem a sua função”.

Jânio Vidal iniciou ontem o programa: Encontro com a Notícia - onde é âncora na TV Tropical (Record) com elogios ao profissional. “O jornalismo do RN está de luto. Ele era exemplo de um repórter investigativo”. Em entrevista à Tribuna do Norte, o jornalista enfatizou que F. Gomes tinha um histórico extremamente, positivo.

Para Osair Vasconcelos deve-se avaliar que a violência no Estado já está instalada. “Começaram a matar os pobres, depois o crime organizado se alastrou e agora a violência atinge um profissional que estava exercendo o seu trabalho – o de informar. Ele era uma pessoa pública”.

Nelly Carlos, presidente do Sindicato dos jornalistas profissionais do RN apontou como falha, o sistema de segurança no Estado. “A polícia precisa estar nas ruas e não nos gabinetes. Não temos segurança”. A jornalista afirmou que o profissional foi vítima de um crime de pistolagem. “Foi um cala boca. É revoltante. Estou indignada”.

Ednalva Moura, presidente do Sindicato dos Radialistas e Publicitários do RN, enfatizou a insegurança: “Ninguém tem segurança neste Estado. Nem para chegar em casa, nem para sair da nossa residência”.

JORNALISTAS MORTOS

Segundo a ONG Campanha Emblema de Imprensa (PEC, em inglês), 59 jornalistas morreram ao redor do mundo, no exercício da profissão, só no primeiro semestre de 2010, superando o número do ano anterior (53).

A América Latina é a recordista na categoria, com 24 mortes registradas no último semestre. De acordo com os números divulgados pela PEC, o México está no topo da lista, com nove profissionais de imprensa mortos, vítimas da guerra contra o narcotráfico. No Brasil, a PEC citou o caso do cronista esportivo Clóvis Silva Aguiar, assassinado no Maranhão. Na Ásia, o ranking macabro é liderado por Paquistão e Filipinas, com seis e quatro mortes.

Por Fred Carvalho - Tribuna do Norte

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