ARARIPINA

ARARIPINA

domingo, 9 de setembro de 2018

APRESENTADORA - SOB GRITOS DE "GRAÇA GUERREIRA", MULTIDÃO SE DESPEDE DE GRAÇA ARAÚJO

Ao som de gritos de "Graça guerreira!", música religiosa e muitos aplausos guiados pela melodia pungente de uma sanfona, uma multidão se despediu da apresentadora de TV e jornalista Graça Araújo, no meio da tarde deste domingo (9). Com uma bandeira sobre o féretro, o corpo de Graça foi conduzido, dentro do Cemitério Morada da Paz, em Paulista, na Região Metropolitana do Recife, para o crematório. A jornalista faleceu no início da tarde desse sábado (8) aos 62 anos, em decorrência de um Acidente Vascular Cerebral (AVC) hemorrágico extenso após ter passado mal na noite da última quinta-feira (6) quando estava na academia de ginástica, em Boa Viagem, no Recife.

Durante todo o velório, iniciado na noite desse sábado, milhares de pessoas, entre amigos, fãs e familiares, passaram pelo cemitério para dar o último adeus à jornalista. Uma hora antes da cremação, marcada para as 16h, houve um culto evangélico celebrado pelo reverendo Ivan Rocha, da Igreja Episcopal Carismática. A cremação foi restrita à família. "De Graça fica a graça. Era nosso esteio, nosso orgulho, nossa paixão. Ficamos sem graça. Uma vida totalmente sem Graça", desabafou a irmã da jornalista Conceição Araújo.

Amigo da apresentadora há trinta anos, o radialista Geraldo Freire estava bastante emocionado no velório. "Choca mais do que as mortes comuns de amigos tão importantes e tão bons quanto ela porque Graça, mais do que todos nós, se preparou para viver muito. Até por conta do consultório médico que fazia na rádio, Graça foi se disciplinando a comer folha, passou a correr, a viver santamente e se preparando para viver muito. O assunto morte não fazia parte do cardápío de Graça. De repente vem um negócio desse. Aí você diz 'Puxa, com essa rapidez! Com esse peso'. Olhe, a gente sente todo mundo, mas ela não estava na hora de ir. Parece até uma bala perdida, uma bala doida de Deus, é uma loucura. A gente fica aqui despedaçado", disse. "Não tenha duvida, estou morto, aos pedaços", desabafou.

"O maior legado que Graça deixa é a dignidade ao tratar dos assuntos, a forma como se comportava enquanto pessoa. A lealdade dela era realmente impressionante, são 27 anos. Não são 27 dias, principalmente nesse meio jornalístico. Ela tinha um trabalho bonito. Deus tenha ela num bom lugar", afirmou empresário João Carlos Paes Mendonça, presidente do Grupo JCPM - proprietário da TV e Rádio Jornal, onde a apresentadora trabalhava havia quase três décadas. 

Entre os presentes ao velório, estava o atual diretor da TV Universitária, José Mário Austregésilo, de 73 anos. José Mário era diretor da TV Jornal durante sua reestruturação, nos anos 1990. Ele resolveu lançar Graça, então chefe de redação, como âncora televisiva."Ela tinha o perfil. Conhecia o jornalismo. Acertamos em cheio. Em três meses superamos a concorrência", recordou. Ele destacou a seriedade de Graça em relação ao trabalho e o impacto que sua figura gerou na época. "Era uma mulher inteligente, negra e extremamente talentosa. A gente não tinha nessa época nenhuma apresentadora com o perfil de Graça", acrescentou José Mário, agradecendo "a amizade e a generosidade que ela tinha para comigo". 

O personal trainer Pedro Henrique Soares, que foi a última pessoa a conversar com Graça Araújo e chegou a lhe prestar os primeiros socorros, também foi se despedir da amiga. "Ela estava comigo no momento do treino. Era o último exercício, estava prestes a ir para casa. Não tinha se queixado de nada, chegou normal na academia, tomou um cafezinho, bateu papo. Só estava um pouco calada e mexendo muito no celular porque naquela tarde tinham esfaqueado um político. De repente, ela levantou da maca, segurou no meu braço e disse, 'Estou passando mal, Pedro'. E aí caiu no chão", relatou. Pedro conta que a cena foi muito chocante. "Deitei com ela no chão, segurei nos braços. Fiz o que pude, lá, na hora. Fiz massagem cardíaca, acompanhei Graça na ambulância e lá ela teve outra parada. Menos mal que aconteceu na academia porque ela mora só e, se tivesse acontecido em casa, não teria ninguém para prestar os primeiros socorros", afirmou. 

Leia também:


O professor de Educação Física contou que ainda não conseguia acreditar no que aconteceu, mas que se sentia privilegiado por ter sido a última pessoa a estar com ela. "Tenho um carinho muito grande por Graça e ela gostava muito de mim. Sei que ela não gostaria de ver ninguém chorando. Graça sempre falava que a gente deve sorrir pra vida e brindar a ela. Nunca a vi triste nem aperreada com nada, estava sempre feliz. Era uma mulher sábia, que vai deixar eternas saudades", disse, emocionado.

A cantora Cristina Amaral também reforçou a mensagem de que é preciso falar de Graça com alegria. "Ela deixa um legado muito bonito", afirmou. "Fui entrevistada algumas vezes por ela. Ela gostava de forró, dizia que esse estilo de música dá vontade de dançar, mas não sabia dançar", riu Cristina, ao relembrar. "Graça era uma pessoa muito envolvida com com a cultura e com os artistas pernambucanos. Era super dada e fez muito pelo jornalismo, pela cultura, por tudo em que estava presente".

Fãs

Entre os espectadores que admiravam o trabalho da apresentadora da TV Jornal e da Rádio Jornal e foram ao local prestar homenagens, estava Maria Pereira, de 77 anos, moradora de Igarassu. "Eu assistia o programa dela todos os dias, achava linda a voz dela, aquele gesto dela fazer o trabalho dela, muito delicada, atendendo as pessoas", disse.

O aposentado José Rosa Ferreira, de 70 anos, contou que sentia como se tivesse perdido alguém da família. "A gente vai passar uns dias lembrando bastante. Quando a família da gente morre, a gente fica sentido, e é o que estamos sentindo por ela. Sinto que ela é uma pessoa próxima, ela era pobre igual a mim e morava no interior, mas ela estudou muito", afirmou.

Da Folha de Pernambuco

Nenhum comentário: