ARARIPINA

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quinta-feira, 1 de abril de 2010

A PÁSCOA - POR REINALDO OLIVEIRA


Estudei, muito, no Ginásio Vera Cruz, para fazer a minha primeira comunhão. Roupa branca de calças curtas, camisa de seda branco-prateada e uma vela grande na mão com um laço de vida amarrado e na outra um catecismo. Durante semanas tivemos aulas de religião, acho que com padre Argemiro, que depois encontraria quando ingressei no Ginásio do Recife que mudou o nome para Colégio Padre Felix, meu grande educador, até quando morreu, em 1945.

A Páscoa, após me convencer da importância da primeira comunhão, era incutida no espírito de cada um de nós, como importante. Jamais duvidei. A Páscoa era o festejo, no período pré-mosaico, dos pastores nômades, pela chegada da primavera. É a festa anual dos cristãos, comemorativa da ressureição de Cristo.

É a comunhão coletiva celebrada em cumprimento ao preceito pascoal. Nos colégios religiosos era festa anual, de certo modo obrigatória, em que a comunhão era, ansiosamente, esperada. Ainda hoje, em escolas e agremiações diversas, é celebrada com carinho religioso.

A Semana Santa ajuda a criar a atmosfera necessária à crença. Há os retiros, as alimentações selecionadas, os alimentos proibidos na Sexta-Feira Santa, o consumo do bredo como representante da vegetação na qual Jesus expirou, e o espírito da Ressureição tornando a todos felizes e mais crentes e caridosos.

Em meu tempo de criança e adolescente, e, até no de hoje em dia, compro o meu molho de bredo que acompanha o peixe e o quibebe, aquele pirão de jerimum, que me transporta de volta ao que a cozinheira de mamãe, dona Felizmina, fazia. A albacora veio, por algum tempo, substituir os peixes com espinha, que eu detestava, como cioba, guarajuba e camorim.

A cavala perna de moça ainda fazia incursões em minha mesa, respeitadas as espinhas mestras que, jamais, me agradaram. Era o tempo em que minha mãe fazia o que chamava de caruru, uma mistura de vatapá e caruru que ela, espirituosamente, chamava de vatapuru. Era uma delícia aquele pirão em que entravam o peixe, o camarão, o gengibre e o arroz de coco, indispensável à mistura. Comia e repetia, tendo o pedido de terceira vez, impugnado pelos poderes competentes. Ninguém, até hoje, conseguiu repetir a fórmula que ela usava nos seus famosos vatapurus.

A Semana Santa era toda de feriados. Da segunda ao sábado de Aleluia, não havia aulas. A quinta-feira era de reclusão, de rezas, de audição de músicas clássicas na Pra-8, Rádio Clube de Pernambuco. À noite ver algum espetáculo do Mártir do Calvário, em teatros ou, até mesmo, no Circo Nerino ou no Fekete, cujo final, após Cristo estar na cruz, no meio do palco, recebia cortina a ser fechada, bem rente ao nariz e, ao ser aplaudido, abria com as duas mãos a nesga do pano e gritava, ainda caracterizado de crucificado:

- Eu quero avisar que, amanhã, haverá vesperal, às 16 horas...

Coisas de minha meninice, infelizmente mais crente do que hoje em dia. Capela obrigatória, todas as manhãs, em que o padre Felix Barreto nos pregava sua santa palavra. Ou as confissões que padre Aníbal, nosso professor de latim, nos arrancava, quando íamos ter aulas em sua casa, ao lado de sua mãe, dona Luíza. Era a turma de aulas particulares de latim, comigo, Raul Bandeira, Carlos Silveira de Albuquerque Lima e Gustavo Paula Lopes que, de tanto assoviar para o peru do quintal, fazia-o terminar rouco, sem poder fazer o glu-glu-glu.

Bons tempos quando acreditávamos um pouco mais na religião e nos julgávamos mais santos. Durante muitas semanas ia à Missa dos domingos, mesmo porque Dona Maria Adélia da Câmara Lima, minha avó de criação, que morou conosco até morrer, não me deixava faltar. Até hoje rezo as orações que ela me ensinou, ao deitar.

Procuro ser amigo de Deus, talvez sem merecê-lo, demais.

Boa Páscoa para vocês!

Reinaldo de Oliveira - Membro da Academia Pernambucana de Letras e dos Conselhos de Cultura do Estado e do Município.

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