Nos últimos dias, brasileiros preocupados com a segurança de seus filhos passaram a compartilhar alertas sobre uma ameaça que estaria circulando em vídeos infantis do YouTube. Segundo esses relatos, uma personagem chamada Momo estaria aparecendo no meio dos vídeos e dando instruções para que as crianças ferissem a elas mesmas e cometessem suicídio. O Ministério Público do Estado da Bahia (MPBA) instaurou procedimento para apurar o caso e notificou o Google, empresa responsável pela plataforma de vídeos, e o WhatsApp para que removessem eventuais conteúdos relacionados à denuncia.
Os alertas se espalharam nas redes sociais e em grupos de WhatsApp, deixando muitos pais assustados. A veracidade sobre os vídeos ameaçadores, no entanto, não foi confirmada, e a se julgar pelo que já ocorreu em outros países, pode ser apenas uma fraude, criada não para colocar crianças em risco, mas os pais em pânico. Nesta segunda-feira (18), a revista Pais e Filhos publicou uma reportagem dizendo que um menino de 4 anos teria tentado cortar os próprios pulsos por influência da Momo. A informação, porém, não foi confirmada por nenhuma autoridade do Goioerê (PR), cidade onde o caso teria ocorrido. A Polícia Civil do Paraná não registrou nenhuma ocorrência semelhante à denúncia.
Coordenador do Núcleo de Combate a Crimes Cibernéticos (Nucciber) do MPBA, o promotor Moacir Nascimento informou que, após a manifestação das empresas, o órgão estudará o que fazer. Ele afirma que não é possível responsabilizar as plataformas pelo conteúdo, mas que o MP espera que elas utilizem o "arsenal" tecnológico usado, por exemplo, para garantir o respeito aos direitos autorais, para filtrar conteúdos infantis. "Entende-se que essas empresas precisam colocar essa mesma infraestrutura também a serviço da proteção do direito de crianças e adolescentes", frisou.
Procurado pelo Correio, o YouTube se pronunciou na tarde desta segunda-feira (18), por meio de nota, dizendo que não há evidências da aparição de Momo nos vídeos do canal Kids da plataforma. O texto ressalta, ainda, que esse tipo de conteúdo "violaria as políticas da empresa e que seria removido imediatamente". Leia o comunidade na íntegra:
"Ao contrário dos relatos apresentados, não recebemos nenhuma evidência recente de vídeos mostrando ou promovendo o desafio Momo no YouTube Kids. Conteúdo desse tipo violaria nossas políticas e seria removido imediatamente. Também oferecemos a todos os usuários formas de denunciar conteúdo, tanto no YouTube Kids como no YouTube. O uso da plataforma por menores de 13 anos deve sempre ser feito pelo YouTube Kids e com supervisão dos pais ou responsáveis. É possível que a figura chamada de 'Momo' apareça em vídeos no YouTube, mas somente naqueles que ofereçam um contexto sobre o ocorrido e estejam de acordo com nossas políticas. Para mais detalhes, vale consultar a página sobre Segurança Infantil no YouTube"
Leia a seguir o que se sabe até agora sobre esse novo medo surgido da internet:
1. O que é/seria Momo?
Momo seria uma espécie de boneco animado que guarda semelhanças à personagem Samara, do filme O chamado. Segundo os relatos, pequenos vídeos em que Momo aparece dando instruções para que as crianças procurem objetos cortantes em casa e se cortem estariam sendo inseridos no meio de vídeos voltados para o público infantil. Assim, meninos e meninas poderiam ser expostos ao conteúdo ameaçador sem que seus pais soubessem.
2. Relatos no Brasil
Nos últimos dias, algumas mães passaram a divulgar, na internet, a existência desses vídeos, postando em redes sociais ou compartilhando pelo WhatsApp exemplos de como as inserções seriam feitas. Alguns internautas chegaram a dizer que seus filhos choraram e disseram ter visto a Momo. O Correio chegou a conversar com uma dessas mães que postou alertas na internet. Ela parecia certa de que a filha realmente tinha visto um vídeo com a animação, mas admitiu à reportagem que ela mesma só tinha visto os vídeos divulgados pelo WhatsApp.
3. Em outros países
Antes de esse alerta assustar pais brasileiros, ele causou pânico em outros países, fazendo, inclusive, com que algumas autoridades policiais pedissem para que os pais tivessem cuidado com o que os filhos estavam assistindo pela internet. Após esses episódios, no entanto, muitos veículos de comunicação respeitados começaram a alertar sobre a falta de evidência sobre a realidade desta história.
Como se trata de algo que, se verdadeiro, pode trazer graves riscos às crianças, muitos veículos de comunicação ficam reticentes em afirmar com certeza se se trata de mais uma fake news. Há, no entanto, indícios. De qualquer forma, estar atento ao que os filhos assistem é sempre recomendado.
4. Indícios de "pegadinha"
A imprensa norte-americana vem, desde o fim de 2018, publicando reportagens que ressaltam a falta de evidências de que a história de Momo seja real. Em setembro passado, o Washington Post publicou uma matéria mostrando que os primeiros relatos sobre o vídeo surgiram na Argentina e foram se espalhando para outros países, mas "nunca foram confirmados".
Já o site da rede de tevê CNN publicou um artigo que dizia aos pais para deixar de se desesperar por causa do "Desafio da Momo". "Não há praticamente nenhuma evidência concreta de que se trata de algo verdadeiro", escreveu os jornalistas AJ Willingham e Harmeet Kaur, no artigo atualizado em 1º de março.
No dia seguinte, o New York Times publicou artigo no qual segue uma linha semelhante e afirma: "Momo realmente está atingindo algumas pessoas de uma maneira parecida como a descrita, mas não são as crianças. São os pais delas".
O The Atlantic, por sua vez, classificou claramente a história de Momo como uma "pegadinha".
5. Publicidade proibida
Nos Estados Unidos, o YouTube decidiu proibir a publicidade em qualquer vídeo que mencione Momo, por considerar que eles violam sua política de uso. Segundo o New York Times, a decisão sugere que o YouTube não queria que pessoas lucrassem com o pânico instalado a partir das notícias propagadas sobre Momo.
6. Como surgiu a figura de Momo
Momo é o nome de uma escultura de Keisuke Aiso, que trabalha em uma empresa de efeitos especiais. A escultura foi exposta em uma galeria de arte e, em 2016, acabou ganhando as redes sociais, segundo o site Know your meme.
Na noite desta segunda-feira, o digital influencer Felipe Neto publicou um vídeo no YouTube, falando exatamente sobre a suposta aparição da Momo em vídeos infantis na plataforma. Com mais de 8 milhões de seguidores no Twitter, o youtuber, descreve em 17 minutos, o que pensa sobre a personagem.
Fonte - Correio Braziliense/ Diário de Pernambuco
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