Auxiliares do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) dizem que a eventual entrada do ex-ministro Sergio Moro na corrida eleitoral de 2022 deverá ter impacto sobre a chamada terceira via, mas sem força suficiente para romper a esperada polarização com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Primeiro titular da Justiça no governo Bolsonaro e ex-juiz da Lava Jato, Moro planeja se filiar ao Podemos na quarta (10) . Ele sinalizou a aliados que pretende entrar na disputa pelo Palácio do Planalto.
Caso participe da corrida eleitoral, Moro vai se somar à lista de possíveis candidatos que tentam romper o protagonismo de Lula e Bolsonaro no próximo pleito.
Fazem parte do grupo Ciro Gomes (PDT), João Doria (PSDB), Eduardo Leite (PSDB), Luiz Henrique Mandetta (DEM) e Rodrigo Pacheco (PSD), entre outros.
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Moro abandonou a 13ª Vara de Curitiba para assumir o Ministério da Justiça de Bolsonaro, logo após o segundo turno das eleições de 2018, com a promessa de que teria carta-branca na pasta. Em 2020, deixou a pasta acusando Bolsonaro de tentar uma interferência na Polícia Federal. O principal revés do ex-juiz ocorreu em junho deste ano, quando o STF (Supremo Tribunal Federal) o declarou imparcial no julgamento de Lula no caso tríplex.
Apesar de Moro ter aparecido em pesquisas recentes bem posicionado entre os nomes da chamada terceira via –em alguns cenários com 8% das intenções de voto–, conselheiros de Bolsonaro destacam que ele ainda está longe do patamar do presidente e de Lula.
O atual desempenho de Moro nas pesquisas se deve, segundo aliados de Bolsonaro, a eleitores que ainda identificam no ex-juiz da Lava Jato um símbolo do combate à corrupção.
Esses mesmos aliados, porém, ressaltam que Moro deve ter pouco espaço para crescer. O principal argumento é que o ex-juiz dificilmente conseguirá construir uma aliança partidária com congressistas e prefeitos que lhe dê sustentação para avançar na disputa.
Uma das consequências, dizem assessores palacianos, é que Moro não deve ter acesso a um tempo de televisão competitivo.
Embora o próprio Bolsonaro tenha vencido o primeiro turno das eleições de 2018 sem exposição relevante no horário eleitoral gratuito, auxiliares admitem que o cenário não deve se repetir em 2022.
Tanto que Bolsonaro vem levando em consideração a obtenção de um amplo tempo de rádio e TV nas negociações para seu ingresso em um partido político. Atualmente, as conversas mais avançadas ocorrem com PL e PP.
Um exemplo das dificuldades que Moro deve enfrentar para costurar acordos políticos ocorreu durante sua mais recente passagem por Brasília, na primeira semana de novembro.
Moro passou um dia na capital e tinha pré-agendado reuniões políticas com a bancada do Podemos e um grupo de congressistas do PSL.
A agenda, no entanto, acabou esvaziada e os encontros não ocorreram. No lugar, Moro se reuniu com congressistas do Podemos e de outras legendas que já eram simpatizantes do lavajatismo.
Na votação da PEC (Proposta de Emenda à Constituição) dos Precatórios, auxiliares palacianos viram uma nova sinalização de que Moro tem dificuldades de interlocução política.
O ex-juiz publicou uma mensagem nas redes sociais em defesa da responsabilidade fiscal e contra o desrespeito ao teto de gastos (regra que limita o aumento das despesas), em uma manifestação contrária à aprovação da PEC. No entanto, metade dos dez deputados do Podemos votou sim à proposta.
Além dos problemas nas alianças políticas, assessores palacianos dizem que Moro enfrenta forte rejeição entre os apoiadores mais fiéis tanto de Bolsonaro como de Lula.
Entre os eleitores petistas, Moro é rejeitado por ter condenado Lula a 9 anos e 6 meses de prisão pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro no caso do tríplex de Guarujá (SP).
O ex-presidente ficou preso por 580 dias em Curitiba. Ele foi solto após o STF ter mudado entendimento sobre prisão após segunda instância, determinando que só pode ocorrer após o trânsito em julgado (fim dos recursos).
Em 2021, o STF anulou as condenações proferidas contra Lula pela 13ª Vara Federal da Justiça Federal de Curitiba. Meses depois, em uma dura derrota para o ex-juiz, o Supremo declarou Moro parcial na condução do processo.
Diferentes pontos levantados pela defesa de Lula levaram à decisão dos ministros, como condução coercitiva sem prévia intimação para oitiva, interceptações telefônicas do ex-presidente, parentes e advogados antes de adotadas outras medidas investigativas e divulgação de grampos.
A posse de Moro no governo Bolsonaro e os diálogos entre integrantes da Lava Jato obtidos pelo site The Intercept Brasil também pesaram.
As conversas dos aplicativos de mensagem expuseram a proximidade entre Moro e os procuradores da Lava Jato.
O então juiz indicou testemunha que poderia colaborar nas investigações contra Lula, orientou inclusão de prova contra réu em denúncia do Ministério Público, entre outros elementos explorados pelas defesas dos condenados na Operação Lava Jato.
Moro e os procuradores sempre repetiram que não reconhecem a autenticidade das mensagens, mas que, se verdadeiras, não contêm ilegalidades.
Já para os bolsonaristas, Moro é visto como um traidor por ter saído do governo disparando contra o presidente. Ao deixar a Esplanada, o ex-ministro acusou o presidente de tentar interferir na Polícia Federal.
Bolsonaro foi interrogado pela PF, na noite de quarta (3), sobre as acusações de ingerência na corporação, em um processo iniciado a partir das suspeitas levantadas por Moro.
O mandatário admitiu ter pedido a troca do comando da PF, mas disparou contra o ex-juiz. Afirmou que ele condicionou atender o pedido à sua indicação para uma vaga de ministro do STF. A defesa de Moro nega as acusações.
No final do depoimento de 13 perguntas, Bolsonaro se queixou de o ex-ministro estar "administrando a pasta sem pensar no todo, sem alinhamento com os demais ministérios e o Gabinete da Presidência".
O desentendimento com o chefe do Executivo ocorreu em abril do ano passado, quando Moro deixou o ministério. O lavajatismo era tido como um dos pilares do governo, e até ministros de Bolsonaro achavam que sua saída abalaria muito a popularidade do presidente, o que não ocorreu.
O fato de o mandatário ter conseguido manter base de apoiadores forte, mesmo diante das acusações de Moro e de sua saída tumultuada do governo é também um dos motivos citados por auxiliares palacianos para desacreditar a possibilidade de a candidatura do ex-juiz vingar.
A demissão de Moro não rachou o bolsonarismo e, dizem interlocutores do presidente, não teria como arrematar parcela considerável de apoiadores em 2022 –o que é visto como outra razão para a descrença de que uma eventual candidatura do ex-aliado possa ameaçar a de Bolsonaro.
Folhapress
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