O presidente Jair Bolsonaro (PSL) afirmou neste sábado (24) que os incêndios na região amazônica não acontecem na floresta e estão restritos a pontos de desmatamento.
A declaração contraria dados oficiais do governo, que mostram que o fogo já atingiu áreas protegidas. "Agora, a floresta não está pegando fogo como o pessoal está dizendo. O fogo é onde o pessoal desmata", disse o presidente ao deixar o Palácio da Alvorada.
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Vestindo uma camisa de clube de futebol, Bolsonaro parou para cumprimentar apoiadores na porta de casa e fez uma breve declaração à imprensa. Ele foi ao Palácio do Jaburu, a poucos metros do Alvorada, para almoçar com o vice-presidente, general Hamilton Mourão. "A média das queimadas está abaixo dos últimos anos e está indo para a normalidade esta questão", afirmou.
A declaração confronta dados divulgados recentemente pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), elaborados a partir de imagens de satélite. De acordo com o órgão, com 72.843 focos de incêndio do início de janeiro até segunda-feira (19), o Brasil já registra um aumento de 83% em relação ao mesmo período do ano passado. Descontrolado, o fogo também avança sobre áreas protegidas. Somente nesta semana, houve 68 ocorrências dentro de terras indígenas e unidades de conservação estaduais e federal.
Entre as áreas protegidas mais afetadas neste ano está o Parque Nacional de Ilha Grande (PR). Somente até a última quinta-feira (19), o fogo destruiu 32,5 mil hectares, o equivalente a 206 Parques Ibirapuera, segundo nota do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade).
Em Mato Grosso, o Parque Nacional Chapada dos Guimarães (MT), que perdeu 12% de sua vegetação, e a Terra Indígena Parque do Araguaia (TO), localizada na ilha do Bananal, com 1.127 focos registrados desde o ano passado.
Já a Nasa, que divulgou imagens dos incêndios, disse que apenas com o passar do tempo será possível analisar se as queimadas são recordes.
Bolsonaro modificou o discurso que vinha fazendo ao longo da semana sobre a autoria do fogo. Ele antes falava em queimadas criminosas e chegou a lançar suspeitas de autoria das ONGs sem apontar dados.
Agora, falou que alguns incêndios podem ser espontâneos. "É lamentável o que acontece. Alguns incêndios são espontâneos, outros parecem criminosos. Geralmente começam na beira da pista, bituca de cigarro", disse.
Um dos apoiadores então interrompeu a fala do presidente e disse que o agronegócio tem como prática a realização de queimadas entre as safras. Ele endossou o comentário.
"O pessoal mesmo faz essa queimada. É quase uma tradição. Não é apenas educar, não é fácil, lá são 20 milhões de habitantes. Depende em parte do incentivo do estado nesse sentido", afirmou.
Bolsonaro disse não ter planos de viajar para a região. "Tive na Amazônia há poucas semanas, se quiser eu retorno para lá", disse. Questionado se não estuda ir para ver o trabalho das Forças Armadas, afirmou que isso dependeria do que estiver acontecendo lá.
O decreto de GLO (Garantia da Lei e da Ordem), assinado na sexta (23) por Bolsonaro, entrou em vigor neste sábado (24), autorizando o início do trabalho das Forças Armadas.
"Agora é conter os focos de incêndio, está chovendo. Você pega uma faixa lá no Noroeste e Sudeste tem chuvas, acabamos de ver aqui num site adequado essa questão de chuva. Agradeço a Deus ai", afirmou.
Questionado sobre se o governo demorou para agir
, o presidente não respondeu, apenas disse que a Amazônia é maior que a Europa.
Bolsonaro comentou ainda a conversa que teve na sexta com o presidente americano, Donald Trump. Ele disse ter conversado neste sábado com o chileno Sebastián Piñera e com líderes da Espanha e do Equador.
O presidente não soube explicar como os EUA podem ajudar o Brasil no combate às queimadas, como foi anunciado por Trump. Ele citou a experiência do país norte americano tem experiência devido às queimadas da Califórnia.
Bolsonaro disse estar sendo "extremamente educado" com o presidente francês, Emmanuel Macron, que o chamou de mentiroso sobre o compromisso do governo brasileiro com políticas de meio ambiente.
"Depois de tudo que ele falou a meu respeito, você acha que vou ligar para ele, pô?", afirmou.
Questionado se ele conversaria com Macron, caso a iniciativa parta do presidente francês, respondeu de forma afirmativa. "Se bem eu estou sendo educado. Se ele ligar, eu atendo. Estou sendo extremamente educado com ele depois de ele me chamar de mentiroso", afirmou.
Brasil e França vivem uma crise diplomática após Macron ter ido às redes sociais para criticar a política ambiental do governo Bolsonaro. Ele levou a questão das queimadas na Amazônia à reunião de cúpula do G7, realizado neste sábado no balneário francês de Biarritz. O Brasil não participa do fórum.
O presidente diz ter conversado com o chanceler Ernesto Araújo sobre a possibilidade de convocar o embaixador do Brasil na França, Luiz Fernando Serra, para voltar ao país.
No meio diplomático, esse gesto seria visto como um agravamento nas relações entre os dois países.
Irritado, Bolsonaro não quis explicar a liberação de recursos financeiros no combate às queimadas. Primeiro disse que o governo ia destinar R$ 40 milhões.
Confrontado sobre anúncio feito na manhã deste sábado pelo Ministério da Defesa, de descontingenciamento de R$ 28 milhões do Orçamento, disse não tem como saber de tudo.
"Não sei, não vou falar mais nesse nível com vocês. Não posso ter todos os números na minha cabeça, impossível. Ontem se falou em R$ 38 milhões na reunião."
Segundo o ministro da Defesa, ficou acertado o descontingenciamento de cerca de R$ 28 milhões -que já estavam no orçamento do ministério para este ano, mas acabaram sendo bloqueados- para a realização da GLO na Amazônia.
"Está combinado com Paulo Guedes [ministro da Economia], mas estou numa fase que só acredito quando abrir o cofre e ver", disse o ministro da Defesa, Fernando Azevedo, em entrevista coletiva neste sábado.
O ministro observou, porém, que esse montante dura pouco. Como comparação, a GLO realizada na comunidade da Maré, no Rio de Janeiro, custava cerca de R$ 1 milhão por dia.
Fonte - Folhapress
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