É numa casa de taipa no interior de Pernambuco, no Sertão nordestino brasileiro, que vive Maria Francisca da Conceição, de 104 anos. Desde que nasceu, em 1910, no município de Floresta, a 433 km da capital pernambucana, ela sobrevive à seca e ao calor característicos da região. As mãos calejadas e a pele enrugada revelam o sofrimento que esta mulher passou para plantar e colher os frutos de uma pequena fazenda.
Sobrinha de segundo grau de Lampião, Maria foi acostumada a comer cheléu assado com rapadura durante longas secas. "O segredo da vida é comer macambira e cheléu [xique-xique]. Hoje em dia as pessoas comem veneno [agrotóxicos]. Antigamente as roças não eram feitas como agora", lamenta. A macambira e o xique-xique são plantas típicas do Sertão. Maria batalhou bastante para conseguir criar os filhos e conta que seu maior medo é mordida de cobra e cachorro. "Eu passei muita fome no passado. Mesmo assim, tive 10 filhos, e criei nove, porque um deles já nasceu morto". Com simplicidade, ela não se envergonha de dizer que faz as necessidades fisiológicas no "mato".
Católica devota de Nossa Senhora, os momentos de diversão desta mulher centenária sempre foram a dança chamada por ela de "samba", mas que na verdade era o conhecido forró de Luiz Gonzaga. Mesmo com a idade avançada, até hoje ela conta não ter nenhum problema grave de saúde. O mais curioso é que ela já fuma caximbo há cerca de 50 anos. Segundo ela, não tem grandes sonhos na vida, mas quer a felicidade e sucesso dos filhos.
A nora de Dona Maria, Celina Antônia de Barros, 51 anos, foto acima, e o neto dela, Edmilson Severiano, 22, são quem cuidam da casa e colaboram com o sustento. Celina lamenta não poder fazer plantações devido à seca que atinge a região nos últimos anos. Segundo ela, a caixa d'água de plástico instalada ao lado da residência foi essencial para este momento de estiagem. "O carro pipa abastece a caixa e dá pra gente beber durante um bom tempo", explica Celina.
SECA - Os reservatórios do Sertão e Agreste pernambucano podem ficar sob ameaça de crise caso não chova nos primeiros meses de 2015. A possibilidade de colapso nas cidades sertanejas e do Agreste vem colocando a população em grande racionamento há pelo menos três anos. De acordo com monitoramento feito pela Agência Pernambucana de Águas e Clima (Apac), no Agreste, há 21% de acumulação em relação à capacidade máxima. Já no Sertão, o nível cai para apenas 6%. Na Região Metropolitana do Recife (RMR) e Zona da Mata a situação é mais tranquila, pois o índice é de 59%.
EMERGÊNCIA - Por causa da estiagem, 54 cidades pernambucanas decretaram situação de emergência e foram reconhecidas em âmbito federal no último mês de outubro. Serra Talhada, Floresta, Tacaratu e Ibimirim, no Sertão do Estado, são algumas das mais afetadas.
Do NE10
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