Duas pesquisas divulgadas nesta quarta-feira (22) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) trazem diagnósticos complicados sobre o saneamento básico em Pernambuco. A Pesquisa Nacional de Saneamento Básico (PNSB) mostra que 19% das cidades pernambucanas não tem rede coletora de esgoto; 50,9% da água tratada se perde no caminho até a casa do consumidor; e o estado tem o maior percentual de captação de água salobra do país - 23%, mais que todo o Nordeste (10,2%) e muito acima da média nacional (2,7%).
Já a Pesquisa de Informações Básicas Municipais (Munic) revela que somente 83 cidades de Pernambuco fiscalizam a qualidade da água que chega à sociedade. Outro ponto que chama a atenção é a deficiência do saneamento em zonas rurais - em 56 municípios não tinham rede de distribuição de água e outros 111 não contavam com sistema de coleta de esgoto para essas áreas.
Das 185 localidades pernambucanas (184 cidades + Fernando de Noronha), só o município de Inajá, no Sertão, estava sem abastecimento de água no período analisado pela pesquisa - o serviço tinha sido interrompido por causa da estiagem. No tocante à zona rural, apenas as de Calçado, Camutanga, Ferreiros, Itaíba, Lagoa do Ouro e Quipapá tinham plena distribuição de água em sítios e povoados, e somente a de Frei Miguelinho contava com rede de esgoto.
Os dois estudos tem como referência o ano de 2017, mas são os dados são os mais recentes e consolidados possíveis, tendo em vista a periodicidade. A PNSB foi realizada nos anos de 1989, 2000 e 2008, enquanto a Munic coletou dados de saneamento municipal em 2011 e 2017. Há também diferenças de enfoque: enquanto a PNSB avalia a operação do serviço, a Munic analisa a gestão das prefeituras.
Consumo
A PNSB mostra que Pernambuco distribui, todos os dias 1,47 milhão de metros cúbicos de água, mas apenas 721 metros cúbicos são consumidos, de fato, pela população. Isso significa que 50,9% da água se perde pelo caminho, índice maior que as médias nordestina (44,5%) e nacional (39,9%). O estado tem uma base de 2,4 milhões de economias ativas - o IBGE classifica com esse nome locais onde houve pagamento de conta ou consumo, seja uma casa de família ou uma indústria. 95% delas são residências.
No Brasil, o volume de água consumido por dia por economia ativa foi de 420 litros, com consumo médio de 140 litros por dia por pessoa, considerando-se que, em cada domicílio, vivem três pessoas, em média. Em Pernambuco, no entanto, o consumo foi de 302,3 litros - o menor do Brasil. Ainda assim, o número está acima do recomendado pela Organização das Nações Unidas (ONU), que é de 110 litros por dia por pessoa.
Pernambuco também tem um índice alto de captação de água salobra, salgada ou salina. Dos mais de 2,3 milhões de m³ de água captada no estado, 528 mil m³ (23%) estavam nessas condições - valor acima das médias do Nordeste (10,2%) e do país (2,7%). Por fim, apenas 51 cidades pernambucanas contam com estações de tratamento de esgoto (ETE) - um percentual de 34,2% do estado, o quarto pior do país. À frente, estão Sergipe (33,3%), Amazonas (25,0%), e Amapá (16,7%). No Brasil, há ETEs em 62% das cidades.
Dificuldade
Dentro do Munic, as disparidades entre áreas urbanas e rurais ficam mais evidentes. Todos os 184 municípios pernambucanos (exceto Inajá) disseram que ofereciam o serviço em área urbana, mas a entrega só era total em 99 deles. Já na zona rural, 124 cidades afirmaram ter sistema de distribuição, mas somente 6 tinham cobertura total - Calçado, Camutanga, Ferreiros, Itaíba, Lagoa do Ouro e Quipapá, como mencionado no início do texto.
O serviço de esgotamento é oferecido em 158 cidades, mas apenas 28 têm cobertura total de sua zona urbana. Já na zona rural, somente 42 municípios disseram que tinham redes coletoras em sítios e povoados, mas esse alcance só era pleno em Frei Miguelinho.
Paciência
Para a gerente de planejamento e gestão do IBGE em Pernambuco, Fernanda Estelita, os dados atestam o longo caminho para garantir o acesso de todos ao saneamento básico. “O mais gritante que observamos é esse percentual de 50,9% de água tratada desperdiçado. É uma quantidade grande, que incorre em custos pelo tratamento, e não é aproveitada. Pode ser que haja muita ineficiência na distribuição, vazamento ou até não-tarifamento de consumo efetivo”, analisa.
As diferenças entre zona urbana e zona rural se explicam por suas condições: “É o reflexo da dificuldade do acesso. Nos grandes centros é mais simples de se trabalhar em relação ao interior”. Ainda, há o ponto de que nenhuma área rural tem água e esgoto plenos ao mesmo tempo - como Frei Miguelinho, que tem rede de esgoto, mas não tem água encanada. “É uma situação bastante peculiar. Mas aí cabe aos órgãos responsáveis explicarem isso”, pondera. O Diario procurou a Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa) para comentar as pesquisas e aguarda retorno.
Fonte - Diário de Pernambuco
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