Um número parecido ao da instituição bancária em que a veterinária Fernanda Nicoletti é cliente, ligou para ela. Ao atender, um suposto funcionário do banco disse que reconheceu uma tentativa de acesso suspeito na conta de Fernanda e por isso ela teria que bloquear a conta em algum caixa eletrônico. Nervosa, com medo de invadirem a sua conta e retirarem dinheiro, Fernanda foi a um caixa eletrônico e, assim que chegou, recebeu orientações do suposto funcionário. Ele pedia para ela acessar a conta e clicar na opção de autorizar a verificação de celular. Em seguida, ele pediu para ela fazer a leitura do QR Code com o celular dela.
Como o QR Code não foi lido pelo celular de Fernanda, o suposto funcionário ligou para ela por chamada de vídeo. Depois desse momento, Fernanda não sabe como ele conseguiu acessar a conta dela. Ela relatou que ele deve ter lido o QR Code pelo celular dele através da tela do caixa mostrada no vídeo. Em seguida, ele pediu para ela digitar um código na tela do caixa. Foi assim que um golpe foi aplicado. O golpista fez um pagamento de R$ 1.078 com o dinheiro de Fernanda.
“Na ligação, ele disse que precisaria ser rápido porque havia uma tentativa de acesso à minha conta. É impressionante, eles tinham todos os meus dados. Eu percebi que era um golpe apenas no caminho de volta para casa porque eu recebi um SMS do meu próprio banco dizendo que eu tinha alterado o número do meu celular. Sinceramente, eu fiquei muito nervosa e acabei caindo”, contou Fernanda.
Uma outra pessoa, que preferiu não se identificar, quase repassava valor para um golpista. O celular do tio dele foi clonado e ele não sabia. Foi quando o golpista, que teve acesso ao WhatsApp do tio, entrou em contato e pediu dinheiro com urgência via PIX. O fraudador disse que depois pagaria o valor. “Percebi que era um golpe porque decidi ligar para minha mãe e para minhas irmãs e elas acharam estranho porque não era típico do meu tio fazer esse tipo de pedido”, relatou a pessoa.
Esse sistema de transferências rápidas, pagamentos instantâneos e sem custo chegou para facilitar a rotina dos consumidores no Brasil. Há pouco mais de seis meses, em novembro de 2020, chegava o PIX, serviço do Banco Central (BC) que conquistou muitas pessoas pela sua praticidade. Por outro lado, houve aparecimento de golpes que utilizam a ferramenta para que as vítimas façam transferências imediatas. Seja através de links enviados por e-mails, SMS, redes sociais, sobretudo pelo WhatsApp, ou até mesmo ligações, os golpistas conseguem as senhas das pessoas ou se passam por ela para aplicar golpes em outras vítimas.
Com a pandemia da Covid-19 e a necessidade de manter o isolamento social, as transações digitais garantem praticidade aos consumidores. Nesse contexto, criminosos se aproveitam do maior tempo on-line das pessoas e da rapidez possível pelo PIX para conseguir o dinheiro cada vez mais rápido. Por isso, é preciso ficar bastante atento. Segundo especialista, ao longo dos últimos seis meses, houve um aumento de 60% nos golpes aplicados relativos ao PIX.
“Muitas fraudes estão sendo aplicadas. O aumento do número de usuários no PIX, aumenta o número de golpes via esse sistema. Hoje, são cerca de 100 milhões de Pessoas Físicas cadastradas no PIX. O que chama atenção dos golpistas, sobretudo, são pessoas com pouca experiência digital. Temos vários tipos de golpes aplicados que utilizam o PIX, por falsas centrais de telefonia, falsos e-mails e outros falsos caminhos”, alertou Afonso Morais, sócio-fundador da Morais Advogados, especializado em direito bancário e recuperação de crédito.
A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) já relatou que os bancos estão usando toda a expertise com todos os sistemas de pagamentos para o PIX. Para isso, contam com as melhores tecnologias e o que há de mais moderno em relação à segurança cibernética e prevenção a fraudes.
Como evitar cair em golpes e transferir valores via PIX?
É possível tomar conhecimento de alguns tipos de golpes aplicados (ver infográfico). Para prevenir situações em que golpistas se aproveitam de falhas ou desatenção das vítimas, especialistas relatam algumas dicas importantes.
“As pessoas sempre devem suspeitar de mensagens pedindo dinheiro, principalmente quando são urgentes. Antes de qualquer ação, busque ter certeza se está falando realmente com alguém que você conhece. Pode ligar para a pessoa ou familiares para checar a informação”, disse Morais.
Algo simples, mas que também pode passar despercebido é a confirmação dos dados para quem deseja enviar o valor. “É essencial ter certeza da razão social (nome da pessoa) quando digitar a chave do PIX. Se tiver dúvida, liga para a pessoa e pede o nome dela antes de confirmar a transferência”, indicou Paulo Alencar, economista e professor do Centro Universitário Tiradentes (Unit-PE).
É importante ressaltar que os dados confidenciais do cliente jamais são solicitados ativamente pelas instituições financeiras, tampouco funcionários de bancos ligam para clientes para fazer testes com o PIX. Além disso, os sistemas bancários são avançados para apresentarem “bug” que dê dinheiro às pessoas. Na dúvida, sempre deve-se procurar o banco para obter esclarecimentos.
A Febraban informa que o cadastramento das chaves PIX deve ser feito diretamente nos canais oficiais das instituições financeiras, como o aplicativo bancário, internet banking, agências ou através de contato feito pelo cliente à central de atendimento. O consumidor não deve clicar em links recebidos por e-mails, pelo WhatsApp, redes sociais e nem por mensagens de SMS, que direcionam o usuário a um suposto cadastro da chave do PIX.
“Se for possível, também deve evitar compras na internet via PIX porque se o site for de golpistas, o consumidor não terá a devolução do dinheiro. Outra possibilidade é limitar transferências em determinados horários que se sinta mais vulnerável, como horários noturnos, ou limitar, junto ao banco, valores de transferência”, disse Alencar.
Outra medida para evitar golpe é habilitar, no WhatsApp, a opção "Verificação em duas etapas". Basta acessar Configurações/Ajustes, depois Conta e, em seguida, Verificação em duas etapas. Desta forma, é possível cadastrar uma senha que será solicitada periodicamente pelo aplicativo. Contudo, os golpistas já estão conseguindo vencer essa barreira. Então, de qualquer forma, é essencial deixar familiares e amigos cientes de que não vai solicitar dinheiro através desse aplicativo.
"Como pode ver, os aproveitadores nem precisam mais clonar o WhatsApp. Por isso, outro alerta importante é sobre a necessidade de cuidado com a exposição de dados em redes sociais. Fique atento a sorteios e promoções que pedem o número de telefone do usuário. Além disso, recebendo mensagem de alguém que afirma ter mudado o número, certifique-se dessa informação", alertou Afonso Morais.
Por Eduarda Barbosa - Folha de Pernambuco
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