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sábado, 25 de março de 2023

BARULHO DO TRÂNSITO PODE CAUSAR HIPERTENSÃO - APONTA PESQUISA


Morar perto de uma via movimentada causa transtornos diversos, como dificuldade para estacionar na própria garagem, trabalhar e dormir. Os problemas podem ser ainda mais sérios, com efeitos sistêmicos. Uma pesquisa publicada, nesta semana, na revista JACC: Advances, um dos periódicos do Journal of the American College of Cardiology, mostra que viver em um local com constante barulho de trânsito desencadeia o aumento da pressão arterial.

O estudo desenvolvido pelo American College of Cardiology e liderado por Jing Huang, professor da Universidade de Pequim, na China, é o primeiro a estabelecer essa relação de causa e efeito, segundo os autores. Investigações anteriores mostraram uma conexão significativa entre o tráfego rodoviário ruidoso e o aumento do risco de hipertensão. Porém, não estava claro quem desempenhava um papel maior: o ruído ou a poluição do ar. "Ficamos um pouco surpresos ao constatar que a associação entre o ruído do tráfego rodoviário e a hipertensão foi robusta mesmo após o ajuste para a poluição do ar", relata, em nota, Huang.

Para chegar à conclusão, a equipe analisou dados colhidos de mais de 246 mil habitantes do Reino Unido, com idades entre 40 e 69 anos, sem o diagnóstico de pressão alta no início do acompanhamento, que durou, em média, 8,1 anos . O barulho do trânsito próximo a casa dessas pessoas foi estimado com base no endereço residencial e utilizando o Método de Avaliação de Ruído Comum, uma ferramenta europeia.

Os pesquisadores verificaram que pessoas que moravam em locais com barulho de trânsito estavam mais propensas a desenvolverem hipertensão. Segundo Huang, dos 246.477 participantes, 21.140 apresentaram incidência de hipertensão primária, o equivalente a 8,5% da amostra. Também foi observado que esse risco aumentava à medida que elevavam os níveis de barulho ao qual o morador era exposto."Dos participantes, 6,2% foram expostos a barulho de trânsito com intensidade maior que 65 decibéis, 5,9%, entre 60 e 65 decibéis, 35,9%, entre 55 e 60", detalha o pesquisador.

Políticas públicas

A associação entre barulho de tráfego e pressão alta se manteve mesmo quando os cientistas consideraram a poluição do ar causada por dióxido de nitrogênio e pequenas partículas. Um ponto chamou a atenção da equipe: os participantes expostos aos dois fenômenos apresentaram risco ainda maior de desenvolver hipertensão. O líder da pesquisa aponta para a importância desse tipo de estudo. "Essas descobertas indicam que a formulação de políticas pode aliviar os impactos adversos do ruído do tráfego rodoviário como um esforço social."

Em comentário publicado na mesma edição da JACC: Advances, Jiandong Zhang, bolsista de doenças cardiovasculares na Divisão de Cardiologia da Universidade da Carolina do Norte em Chapel Hill, também indica a aplicabilidade ampliada do estudo. "Os dados demonstrados fornecem evidências de maior qualidade para justificar o potencial de modificar o ruído do tráfego rodoviário e a poluição do ar tanto a nível individual quanto social, na melhoria da saúde cardiovascular", afirma.

Cardiologista do Hospital Daher, Benedita Ferreira Machado lembra que a hipertensão, doença que acomete cerca de 25% da população brasileira, pode ter causas multifatoriais, como questões genéticas, hábitos de vida e condições socioeconômicas. "Ao contrário do que a maioria pensa, em apenas 5% dos casos ela pode ser secundária a algum problema hormonal ou mesmo ter uma causa específica."

Aumento do risco de morte

“Há tempos, os estudos vinham mostrando que havia uma associação entre fatores socioambientais comuns da vida moderna e um risco aumentado de eventos cardíacos. Recentemente, evidências mais robustas conseguiram provar uma relação direta de causalidade entre eles. E mais que isso, essa relação se deu de forma independente e com um efeito de dose acumulada. No caso da hipertensão, sabemos, agora, que os níveis de poluição do ar e a taxa de ruídos sonoros nas grandes cidades são causas relevantes para o aumento da pressão, e esse pode ser o principal motivo para o aumento do risco de morte por doenças cardíacas em muitos pacientes.”

Por Isabella almeida - Correio Braziliense

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