Em 10 dias, a quantidade de casos confirmados do novo coronavírus (Covid-19) no Brasil pode chegar a 4.970, segundo estimativa feita por pesquisadores do Rio de Janeiro. Isso significaria um aumento de pouco mais de 1.600%, considerando os registros confirmados nessa terça (17), de 291 pessoas infectadas. O estudo mostra cálculos específicos para São Paulo e Rio de Janeiro. O primeiro concentraria 68% dos casos confirmados no Brasil até o dia 26 de março, totalizando 3.380 registros, segundo previsão.
A pesquisa foi feita pelo Núcleo de Operações e Inteligência em Saúde (Nois), formado por pesquisadores da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), da Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro (SES-RJ) e do Instituto D'Or. Nota técnica elaborada pelo grupo aponta três cenários: otimista, mediano e pessimista. O cálculo se baseou em dados registrados até o último domingo (15) e no cenário de propagação do novo coronavírus em oito países, onde a epidemia está mais avançada: Irã, Itália, Coreia do Sul, Espanha, França, Alemanha, China e Estados Unidos.
Observando dados de casos confirmados até ontem, o número estimado pelo estudo no país está um pouco acima do real: no cenário otimista, foram previstos 319 casos, no dia 17 de março e, no cenário pessimista, 459. Até a noite dessa terça, entretanto, o Ministério da Saúde havia confirmado 291 casos.
Um dos integrantes do grupo, o infectologista e pesquisador da Fiocruz Fernando Bozza explicou que a previsão é probabilística e que o número oficial depende de dois fatores: que os casos sejam diagnosticados e que sejam notificados. Para ele, a subnotificação e o subdiagnóstico são problemas que podem afetar a previsão. “Isso é uma responsabilidade de todos os agentes públicos, que os dados sejam reportados corretamente e que todos os casos sejam colocados de forma transparente para que sejam acompanhados por toda a sociedade”.
A pesquisa ressalta a importância de uma reação rápida no Brasil ao comparar a evolução do número de casos confirmados na Itália e Coreia do Sul. O segundo teve uma reação mais rápida, proibindo a entrada de pessoas da província de Hubei, na China, quando havia 16 casos confirmados. Além disso, o governo coreano começou a emitir recomendações após a confirmação do 104º caso. Essa agilidade pode ter refletido em um crescimento de casos menos acelerado. Já na Itália, conforme estudo, a primeira recomendação do governo aconteceu somente após a confirmação do 3.089º caso, no dia 4 de março.
Bozza pontua que as ações implementadas demoram de uma semana a dez dias para que seus efeitos sejam percebidos. Por isso, a importância, segundo ele, de medidas tomadas de forma precoce.
O médico explica que o comportamento do crescimento de propagação o vírus no Brasil dependerá, principalmente, de medidas de mitigação da epidemia, para reduzir a transmissão e evitar um grande aumento de número de casos em um curto espaço de tempo. “O que estamos tentando mostrar é que podemos seguir um caminho, com uma expansão grande, ou seguir outro, no qual a epidemia tem um impacto menor. Vai depender das ações que serão tomadas pelos gestores e da aderência da população”, resumiu o pesquisador.
Infectologista do Instituto Emílio Ribas, de São Paulo, Jamal Suleiman afirma que a maior preocupação é ter justamente uma "explosão" de casos: se houver muitas pessoas adoecendo, exigindo atendimento hospitalar, a rede de saúde não terá estrutura para atender a todos.
“A gente está pedindo para que as pessoas fiquem em casa para conseguir achatar a curva (de crescimento). Porque se eu espaçar os doentes no tempo, eu consigo atender a todos. Se eu não conseguir, não tem como atender”, disse.
Suleiman critica o presidente Jair Bolsonaro por ter ido ao encontro de manifestantes, na porta do Palácio do Planalto, durante manifestações no último domingo (15), e por ter chamado a situação envolvendo a pandemia de “histeria”. “Tem governo no Brasil? Ou é alguma piada de comediante ruim? Independentemente da cor partidária que ocupa o governo, isso não é brincadeira. O vírus escolhe humanos, e não partidos”.
Para o especialista, “o mínimo que se exige da autoridade pública é empatia”. E continua: “Se alguém não entendeu que isso é grave, se coloque na situação de alguém acometido pelo problema”.
Fonte - Correio Braziliense
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