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terça-feira, 20 de setembro de 2022

RAINHA - FUNERAL DE ELIZABETH II REUNIU 2 MIL SÚDITOS E CENTENAS DE CHEFES DE ESTADO


Elizabeth II caminha pelo campo. Jovem, usa óculos escuros e tem um lenço na cabeça. Na mão direita, segura uma bengala. Sobre o braço esquerdo, carrega um casaco. "Que as revoadas dos Anjos cantem para o teu descanso", afirma o texto que acompanha a foto. Minutos antes de a família real publicar a imagem pela primeira vez em sete décadas de reinado, o corpo da rainha havia baixado à sepultura dentro da Capela de St. George, no Castelo de Windsor, a 40km da Abadia de Westminster, onde 2 mil súditos e centenas de chefes de Estado, reis e dignitários participaram do funeral de Estado.

Por volta das 19h30 (15h30 em Brasília), a monarca de 96 anos foi enterrada ao lado do marido, o príncipe Philip; do pai, o rei George VI; da mãe, Elizabeth I; e da irmã, Margaret. O fim da segunda "era elisabetana" ocorreu em um dia solene e intenso, quando o Lorde Chamberlain, mais alto funcionário da Casa Real, quebrou o bastão da governante. Outro momento simbólico foi a retirada da Coroa Imperial — uma peça crivada de 3 mil pedras preciosas, incluindo 2.868 diamantes, 273 pérolas, 17 safiras, 11 esmeraldas e cinco rubis — e do cetro sobre o caixão da rainha.

Em meio a uma cerimônia que contou com o som de gaitas de fole e de clarins, além de um protocolo rígido, foram os detalhes do funeral de Estado que chamaram a atenção da historiadora britânica Elizabeth Norton, especialista sobre rainhas da Inglaterra e sobre a dinastia Tudor. "Os elementos mais comoventes, para mim, foram os toques menores e mais pessoais. As flores colocadas sobre o caixão da monarca foram cultivadas a partir do mirto que Elizabeth II usou no próprio buquê de casamento. Algumas das músicas tocadas hoje (ontem) também compuseram a trilha de suas bodas, em 1947", afirmou ao Correio.

Dedicação

Norton disse ter ficado impactada com a dor da família real e com o fato de os cães da raça corgi e do pônei da soberana terem esperado, em Windsor, a chegada da urna fúnebre. O rei Charles III, filho de Elizabeth II, estava visivelmente emocionado, enquanto a princesa Charlotte, filha do príncipe William (herdeiro do trono) e bisneta da rainha, foi fotografada em prantos.

Durante o sermão na Abadia de Westminster, o líder espiritual da Igreja Anglicana e arcebispo de Canterbury, Justin Welby, enalteceu a dedicação de Elizabeth II por seus súditos. "As pessoas que amam servir são raras em qualquer âmbito da vida. Líderes que amam servir são ainda mais raros. Mas, em todos os casos, aqueles que servem serão amados e recordados, enquanto aqueles que se apegam ao poder e aos privilégios são esquecidos", afirmou.

Um dos convidados para o funeral, o consultor da monarquia e especialista em família real britânica Chris Imafidon disse à reportagem que a cerimônia foi muito emocionante e dolorosa. "A rainha Elizabeth II foi uma mãe verdadeira para todos nós. Ela sinceramente amava pessoas de todas as origens, crenças e classes sociais. Exemplificava majestade e modéstia, maternidade e monarquia, magnificência e magnanimidade, modernidade e modelo de liderança. O mundo experimentou uma perda colossal de magnitude indescritível", relatou ele, que esteve pela primeira vez com Elizabeth II em 16 de fevereiro de 2007. "Naquela ocasião, ela e o príncipe Philip conversaram comigo e com meus alunos."

Ao fim da cerimônia na Abadia de Westminster, que reuniu presidentes como Jair Bolsonaro (Brasil), Joe Biden (Estados Unidos), Emmanuel Macron (França) e Andrzej Duda (Polônia), além do rei Felipe VI (Espanha) e do imperador do Japão, Naruito, foram respeitados dois minutos de silêncio em homenagem a Elizabeth II. Pouco depois da execução de God save the King, o hino nacional do Reino Unido readaptado após a morte da rainha, o caixão foi retirado do templo e depositado sobre uma carruagem de armas do Estado da Royal Navy (Marinha Real) — a mesma utilizada nos funerais de três reis antecessores e de Winston Churchill, premiê britânico entre 1940 e 1945 e entre 1951 e 1955.

Big Ben e marchas

Da Abadia de Westminster, seguiu em uma procissão de quase dois quilômetros, no centro de Londres, até o Arco de Wellington, no Hyde Park, ao som das marchas fúnebres de Beethoveen, Mendelssohn e Chopin. O rei Charles III, os irmãos Anne, Andrew e Edward, além dos filhos William e Harry, marcharam, a pé, atrás do caixão. O cortejo final foi anunciado pelo Big Ben — o imenso sino instalado no Palácio de Westminster ressoou 96 vezes, uma a cada minuto, até o fim do trajeto. Uma alusão à idade de Elizabeth II. George e Charlotte, filhos de William e de Kate Middleton e bisnetos da monarca, acompanharam a procissão no primeiro de vários automóveis oficiais. Milhares de súditos aguardaram a passagem do caixão. O percurso entre o Arco de Wellington e o Castelo de Windsor foi feito com um carro fúnebre, que chegou ao destino coberto de flores.

"A pompa do funeral foi projetada para chamar a atenção e refletir sobre a gloriosa vida e o reinado da rainha", explicou a historiadora Elizabeth Norton. "Elizabeth II foi, sem dúvida, a personalidade mais reconhecida do mundo. Sua importância está marcada pela presença de chefes de Estado de diferentes partes do planeta em seu funeral. Ela deixa o legado de estabilidade para o Reino Unido. Embora o mundo tenha mudado imensamente durante seu reinado, a rainha se manteve em uma constante notável. A monarca foi, sem dúvida, o maior ativo diplomático da Grã-Brentanha. Por várias vezes, suavizou relações e representou sua nação no cenário internacional."

Por Rodrigo Craveiro - Correio Braziliense

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