ARARIPINA

ARARIPINA

segunda-feira, 19 de dezembro de 2022

COPA DO MUNDO 2022 - O TRI DA ARGENTINA E A ÚLTIMA DANÇA DE MESSI


DOHA (CATAR) - Demorou, mas veio à altura. À altura do sonho do pequeno Lionel Andrés Messi que nascia um ano após o último título mundial da Argentina e que se transformou em realidade. Trinta e cinco anos depois. Praticamente o mesmo tempo que a albiceleste ficou sem conquistar o torneio. É como se o destino estivesse preparando uma nação para a redenção de um herói. Sim, herói. Não dá para usar um outro termo para descrever a carreira de Leo com a seleção argentina e a final da Copa do Mundo 2022 é uma prova disso.

A preparação não foi fácil. Regada às frustrações de quem bateu literalmente na trave nos mundiais de 1990 e 2014, ficando com o vice; à incredulidade de quem sucumbiu de forma precoce em 2002, sendo eliminada ainda na fase de grupos; à tristeza de quem não se conformava com os sucessivos fracassos, mesmo tendo o melhor jogador do mundo em campo; ao luto, de quem perdeu o melhor jogador da sua história.

Mas, aí veio a esperança de quem acreditava que o ‘melhor jogador da sua história’, agora, de algum lugar celestial, poderia emanar forças sobrenaturais e, por um elo, guiar o melhor jogador em campo a chegar na glória. E chegou. De forma mágica, brilhante, quase sobrenatural e, como quase sempre, dramática, mesmo que, no início, a ilusão tenha feito acreditar que não seria tanto assim.

O gol de pênalti de Messi aos 23 e o de Di Maria aos 36 minutos do primeiro tempo fizeram a atmosfera do “já ganhou” tomar conta das arquibancadas, sobretudo diante de uma ausência de reação por parte dos franceses que foram para o intervalo sem terem conseguido chutar uma única bola no gol de Emiliano Martínez. O retorno para a etapa complementar quase da mesma forma fez a torcida argentina gritar “Olé!” faltando 25 minutos para o apito final, afinal o placar de 2x0 deixava tudo sob controle. 

O que poderia dar errado?

Os últimos 10 minutos do jogo chegaram como uma bomba nos jogadores e torcedores, seja os presentes ao Estádio Lusail ou os que estavam a mais de 13,2 mil quilômetros de distância dali, lotando as ruas de Buenos Aires. E essa bomba tinha nome, sobrenome e três fortes estágios de detonação.

O primeiro, aos 35 minutos, quando, de pênalti, Kylian Mbappé diminuiu o placar. O atacante francês sequer comemorou. Apenas correu até o fundo das redes para pegar a bola, chamou todo o time para o campo de defesa para que o jogo pudesse ser recomeçado. Parecia premeditar algo. No minuto seguinte, uma assistência por elevação do Thuram e a segunda detonação: Mbappé sequer deixou a bola tocar o chão e emendou um chute, causando uma explosão de alegria na torcida francesa e um banho de água fria nos argentinos.

Neste momento, tudo indicava que seria mais uma noite de fracasso, de frustração e de “quase”. O fim do tempo regulamentar e a ida para a prorrogação serviram para lembrar que havia alguém, em algum lugar, intercedendo por Lionel.

Aos três minutos do segundo tempo da prorrogação, Messi fez o segundo dele, colocou a Argentina na frente de novo a 12 minutos do fim. Agora, não teria mais como dar errado. No entanto, ainda faltava a terceira detonação da bomba Kylian: um pênalti, a dois minutos do fim da prorrogação. Mbappé marcou o terceiro gol dele no jogo, empatou a partida e é o segundo jogador a fazer um hat-trick em final de Copa do Mundo – o primeiro foi o inglês Geoff Hurst marcou três dos quatro gols da Inglaterra, na vitória por 4x2 diante da Alemanha, em 1966.

Leia também





Sequer esse feito histórico de Mbappé foi suficiente para tirar o brilho que estava sobre Messi. Era um brilho que transcendia o plano material. Lionel estava destinado a ser campeão.

Nos pênaltis, o 10 argentino abriu a sequência convertendo a primeira cobrança. Em seguida, o 10 francês deixou tudo igual. No empate entre os protagonistas, foi a vez do coadjuvante Emiliano Martínez que defendeu a cobrança de Coman. Dybala e Paredes abriram vantagem para os argentinos e Tchouameni bateu para fora. Agora, recaía sobre o lateral-direito Gonzalo Montiel, de 25 anos. Com a frieza de poucos veteranos, acabou de vez com o sofrimento e começava, a partir daquele momento, a felicidade eterna.

O último ato do capitão Lionel Andrés Messi com a camisa da seleção argentina em Copas do Mundo não poderia ser diferente. Após receber o prêmio de Bola de Ouro, como o melhor jogador do mundial, uma rápida ‘paquerada’ no objeto mais desejado da noite. Um beijo que fez todos entenderem que ele voltaria já para pegá-la. Voltou.

Com a taça da Copa do Mundo em mãos, Messi ergueu como se estivesse pondo à contemplação de Diego. Argentinos no Estádio Lusail, em Buenos Aires ou em qualquer lugar da face da terra sentiram o mesmo. Todos estão conectados através da terceira estrela albiceleste.

Por Victor Pereira - Folha de Pernambuco

Nenhum comentário: