Para alguns, a indústria brasileira está vivendo o ano da construção civil, com crescimento acelerado nas obras de infra-estrutura e na habitação, inclusive com a entrada de novas empresas no mercado do Recife. Mas, para os empresários do Araripe, o momento é encarado como o ano do gesso. Em 2007, o setor cresceu 26% e a projeção para 2008 é aumentar mais 32%, dinamizando este importante pólo econômico de Pernambuco. “Temos uma produção de 4,4 milhões de toneladas de gipsita por ano e geração de 14 mil empregos. Isso já é muito representativo e estamos acompanhando o crescimento da construção civil”, afirma o diretor do Sindicato da Indústria do Gesso de Pernambuco (Sindusgesso), Hidelberto Alencar. Depois de anos de muitas reclamações, os empresários do setor sabem que ainda têm muito o que fazer, mas comemoram os números que mostram a melhora do mercado para os seus produtos. São quase 800 empresas espalhadas nas cidades que compõe o pólo gesseiro do Araripe, formado por municípios como Araripina, Trindade, Ipubi, Ouricuri e Bodocó. O maior número de empresas está no setor de pré-moldados, que fabrica placas. A cadeia do gesso também engloba a mineração da gipsita – matéria-prima do gesso – e a calcinação, a queima da pedra bruta para a transformação do gesso em pó. O maior faturamento hoje está nas fábricas de drywall, que é usado na construção. Mas essa é apenas uma das aplicações do gesso, que é múltiplo. “Temos 32 tipos de produtos. A placa foi a que chegou primeiro ao mercado e deixou a imagem de fragilidade. Mas ela é feita assim para dilatar conforme a construção, é o papel dela”, explica Alencar. Mas, lembra o empresário, há blocos de gesso super resistentes e aplicações na área ortopédica e na dental. Além de aumentar o volume de gesso já aplicado nas construções, os empresários do Araripe trabalham para o desenvolvimento de novas utilidades de maior valor agregado. Contam a partir de agora com o início efetivo do funcionamento do Centro Tecnológico do Araripe, que teve sua construção emperrada durante anos e só foi inaugurado em 2006. A obra custou R$ 5 milhões e possui auditório, laboratório, salas de aulas e um forno de calcinação. Mesmo assim, a unidade ofereceu apenas um curso, mas não chegou nem a concluí-lo. Desta vez, serão oferecidos dois cursos presenciais – o de processos industriais de produção de gesso e o de segurança do trabalho com até dois anos de duração –, além de cursos a distância de informática, agente comunitário de saúde e gestão de varejo. As inscrições vão até o final deste mês e as aulas devem começar já em agosto. “Nós precisamos de funcionários para gerenciar os processos produtivos. E o que existe hoje são pessoas que aprenderam com os erros, sem estudo formal”, diz Ariston Pereira, do Centro de Desenvolvimento do Nordeste (Cedene), organização parceira do centro tecnológico. “Os alunos entrarão nas empresas como menores aprendizes, garantindo uma maior empregabilidade”, destaca a gestora do Centro, Cibele Lopes Lima. O setor também investiu fortemente em qualificação e promoção, com auxílio do Sebrae e da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex). De grandes empresários a trabalhadores avulsos, o gesso movimenta a região do Araripe. “Aqui eu ganho R$ 450, muito melhor do que na roça, que mal dá para tirar R$ 200 por mês”, diz Lorismar Pereira, que trabalha como ajudante numa pequena fábrica de placas em Araripina. A unidade estava fechada, porém voltou a funcionar há alguns meses. Sinal de aquecimento do mercado.Na Chapada do Araripe, as questões do meio ambiente e energia estão intrinsecamente ligadas. No processo de calcinação, é preciso muita geração de calor para alimentar grandes fornos. Com o aumento dos preços dos derivados de petróleo, várias empresas passaram a utilizar a madeira da caatinga, muitas vezes extraída de forma ilegal. Agora, o Ibama e a Agência Estadual do Meio Ambiente (CPRH) passaram a coibir mais fortemente este tipo de ação. “Cerca de 16 mil a 20 mil hectares de caatinga estavam sendo devastados por ano”, diz o superintendente do Ibama em Pernambuco, João Arnaldo Novaes. Após os trabalhos de fiscalização do Ibama, cerca de 30% das empresas foram punidas, com interdição de atividades e multas. “É um número alto, mas mostra que o setor está se organizando. Antes era praticamente 100%. A tendência é diminuir”, afirma Hidelberto Alencar. O Ibama também cobrou o licenciamento de todas as unidades fabris. “Com isso, a gente não cobrou apenas a utilização de madeira regularizada, mas também a colocação de filtros para melhorar a qualidade do ar”, complementa Novaes. Hoje, estima o superintendente do Ibama, 90% das empresas já deixaram de usar caatinga da região. “Parte está vindo agora de manejo ambiental e outra parte de podas de árvores frutíferas ou exóticas”, diz. Mas para tornar a atividade viável, o setor pede alternativas energéticas competitivas. Já se experimentou de quase tudo na área, desde gás liquefeito de petróleo (GLP) até óleo BPF, passando por coque e outras fontes energéticas. Ariston Pereira, também empresário de calcinação, guarda na memória a variação de preço das alternativas energéticas. “O coque de petróleo já foi vendido a R$ 160 a tonelada e hoje está a R$ 400. O óleo BPF saiu de R$ 0,15 o quilo, quando contava com um subsídio, para até R$ 1,15”, afirma. Por isso, o sonho dos empresários locais é a chegada do gás natural, ideal para a queima da gipsita. Entretanto, para isso o setor depende da construção de um gasoduto até a região do Araripe (hoje a tubulação da Copergás ainda nem chegou a Caruaru) e ainda corre o risco de ver o preço do gás natural continuar subindo e inviabilizar mais uma vez outra alternativa energética. O segundo sonho dos empreendedores do gesso do Araripe está na Transnordestina, a ferrovia que cortará Pernambuco e ligará os Portos de Pecém a Suape. Com isso, o frete do gesso e da gipsita cairá drasticamente, aumentando os ganhos para o setor. Entretanto, sem fonte energética adequada, empresários correm o risco de ver o beneficiamento sair da região. “Se chegar ferrovia sem geração de energia adequada vai ser criado um grande buraco no Araripe. Com o transporte mais barato, a tendência é que levem a gipsita daqui e façam o beneficiamento onde tenha gás natural”, diz Hidelberto Alencar, do Sindusgesso. “Ferrovia sem gás é um suicídio. A região pode virar apenas área de extrativismo”, teme.
FONTE-JC
Um comentário:
"Desenvolvimento - O Melhor Ano do Gesso". Muito boa a reportagem. Mostra a verdadeira realidade de uma região que precisa da atenção dos políticos para que a população desta região não tenham que procurar um meio de sustento para sua familia em outras regiões do país. Acho que a solução está na construção do gasoduto até aquela região.
José Luiz Negreiros
João Pessoa - Pb.
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