Janeiro é marcado pela campanha de prevenção e combate à hanseníase, também conhecida como ‘lepra’, doença infecciosa crônica causada pelo Mycobacterium leprae, bactéria que afeta a pele, os nervos periféricos, olhos e mucosa nasal. Atualmente, a hanseníase está em situação endêmica em diversos estados brasileiros.
De acordo com o Boletim Epidemiológico de Hanseníase de 2024, divulgado nesta terça-feira (23) pelo Ministério da Saúde, em 2022 foram registrados em todo o mundo 174.087 casos novos da doença, uma taxa de detecção de 21,8 casos por 1 milhão de habitantes. No Brasil, o número de casos novos reportados passou de 10 mil, o que classifica o país em segundo lugar no ranking mundial em número de casos novos, atrás apenas da Índia.
O estudo também contempla análises de indicadores epidemiológicos e operacionais da hanseníase no Brasil entre os anos de 2013 e 2022. Dentro do período de pesquisa (2013 a 2022) foram notificados 316.182 casos de hanseníase no Brasil, o que inclui casos novos, transferências, recidiva e outros reingressos da doença no país.
Em um recorte de gênero, 55,6% dos 254.918 casos novos da doença foram em homens. Já entre faixa etária, 53,9% dos infectados tinham entre 30 e 59 anos, 24,6% com 60 anos ou mais e 15,2% de 15 a 29 anos de idade.
Em 2024, o Ministério da Saúde notificou a entrada de 955 municípios das 27 unidades da federação em situação endêmica, quando há o registro de mais de 10 casos por 100 mil habitantes. A infectologista Naíra Bicudo explica que o grande número de casos nos estados brasileiros pode estar associado à pobreza, ao acesso precário de moradia, alimentação, cuidados de saúde e educação.
“É uma doença antiga, que apesar de ter tratamento e ser curável, ainda permanece endêmica em várias regiões do mundo. Pode ser transmitida pelas vias respiratórias, pessoa a pessoa, mas pode permanecer incubada por muitos anos até aparecerem os primeiros sintomas. O atraso no diagnóstico faz com que a doença permaneça em transmissão entre os acometidos pela hanseníase não tratados e com alta carga bacilar”, explica a especialista.
Cura
No Brasil, a hanseníase se tornou fator de dificuldade para as autoridades de saúde no controle de infecção. De acordo com os dados do Boletim Epidemiológico, durante o período analisado, pode ser observado uma redução de 9,3% nas médias de cura, onde passou de 84,0% em 2013 para 76,2% em 2022, mantendo-se em um parâmetro “regular”. Todas as regiões brasileiras apresentaram diminuição na proporção de cura, com maior redução no Centro-Oeste, com uma queda de 13,7% e a mudança de parâmetro de “regular” para “precário”.
Apesar da dificuldade, a doença tem cura. De acordo com o infectologista Manuel Renato Retamozo, o tratamento é baseado no uso de antibióticos específicos. “A duração do tratamento varia de acordo com a forma da doença, e pode durar de seis meses ou até mais de um ano”.
A importância do tratamento vai para além da saúde pessoal, influenciando na sociedade como um todo. “Ele previne a progressão da doença e a transmissão para outras pessoas. É importante que o paciente siga rigorosamente o tratamento prescrito para poder garantir uma cura completa”, finaliza o infectologista do hospital Anchieta.
Para além do tratamento convencional, a vacina Lepvax é uma ação conjunta do Ministério da Saúde e do laboratório Fiocruz, sendo a primeira vacina específica para a hanseníase do mundo. O projeto espera liberação da Anvisa para seguir para as próximas fases de testes.
Fonte - Correio Braziliense
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