Com o fim do Carnaval, é comum que alguns excessos e faltas fujam do equilíbrio no dia a dia de quem curtiu a folia por dias seguidos. Depois de confetes, músicas e uma maratona atrás de troças e blocos pelas ruas, a má alimentação, junto da redução das horas de sono e do excesso de ingestão de bebidas alcoólicas começam a apresentar alguns sinais de “alerta” para a saúde de quem participou da festividade, suspensa nos últimos dois anos por conta da pandemia provocada pela Covid-19.
Especialistas conversaram com a reportagem da Folha de Pernambuco analisando possíveis quadros clínicos e trouxeram orientações e dicas para o restabelecimento do bem-estar.
Em 13 unidades da rede pública de saúde do Recife, 3.194 pessoas receberam atendimento médico por apresentarem sintomas como dor de cabeça, febre, dificuldades para respirar, diarreia e vômito. Desse total, 1.068 eram crianças. Também foram registrados 112 atendimentos com dentistas e 212 em traumato-ortopedia no período de Carnaval.
Já em Olinda, o Serviço de Pronto Atendimento (SPA), em Peixinhos, recebeu 38 crianças com os mesmos sintomas, das quais 23 eram do gênero masculino e 25 do feminino. O número completo de pessoas atendidas na cidade não foi repassado pela prefeitura.
A reportagem da Folha de Pernambuco também procurou a Secretaria de Saúde de Pernambuco (SES-PE), que ainda está fazendo levantamento dos dados totais junto aos municípios.
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O infectologista Paulo Sérgio Ramos, que atua como pesquisador na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) no Recife e professor associado do Centro de Ciências Médicas (CCM) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), garantiu um aumento no número de infecções e doenças nas semanas seguintes ao período carnavalesco, e listou as proliferações mais comuns, incluindo a Covid-19. “As principais são relacionadas às infecções de vias aéreas, como resfriados, gripes, Covid-19 e a doença do beijo. Há ainda aquelas relacionadas ao consumo de água e alimentos contaminados, que podem causar gastroenterites se manifestando com vômitos e diarreia”, explicou.
Alguns métodos simples para auxiliar no tratamento após uma consulta médica foram apresentados por ele. “Aumentar a ingestão de água e outros fluidos, além de controlar sintomas como o uso de analgésicos e antitérmicos habituais, mas obrigatoriamente deve se comunicar com algum canal de serviço básico de saúde”, ressaltou.
O médico também fez questão de mencionar que a suspensão das festas de Carnaval não teria sido encerrada após dois anos, caso a vacinação não tivesse avançado no Brasil. E também criticou o atraso até que isso acontecesse. “As vacinas têm um papel muito relevante, jamais poderíamos falar em Carnaval ou qualquer outro evento de massa sem que tivéssemos tido esses imunizantes. E se políticas públicas de saúde tivessem sido tomadas em um tempo mais rápido, muitas vidas teriam sido salvas. Essa será uma mancha na nossa história”, disse. O índice atual de mortes pela doença em território nacional é de 698 mil.
Além da Covid-19, outras doenças que afetam o sistema respiratório do corpo podem se manifestar. A fisioterapeuta Glizia Souza detalhou como costuma atuar nesses casos. “A fisioterapia pode ajudar a minimizar as sintomatologias de viroses. Em casos de problemas respiratórios associados, ela pode atuar na remoção de secreção, no aumento das capacidades e volumes pulmonares, permitindo assim alívio e contribuição com a melhora da respiração”, iniciou a fisioterapeuta.
Ela também ensinou duas formas “caseiras” de reduzir secreções que estejam dificultando o fluxo respiratório. “Exercícios que tenham expansão da caixa torácica ajudam, como colocar as duas mãos nas regiões da costela e respirar fundo e soltar sentindo a abertura e compressão dessa caixa. Outro exercício é na posição deitada, escolhendo o lado mais afetado após uma ausculta (avaliação médica para saber como está o pulmão) para permitir uma abertura da cadeia, dando alívio na respiração. Lembrando que mesmo com exercícios fáceis que conseguimos realizar em casa, se faz necessário uma boa avaliação e prescrição com um fisioterapeuta para que sejam coordenados da maneira mais acertada possível”, frisou Glizia.
Uma outra preocupação que aumenta a demanda de procura por fisioterapeutas nesse período prolongado de “pós-festa” são as entorses, causadas por quedas, escorregões ou desnivelamento ao andar. Os sintomas também podem ser minimizados nesse quesito.
“Os mais comuns no início são dor, hematomas e edemas, que dificultam o andar. Precisamos começar protocolos para controle da inflamação com compressas de gelo para dar alívio na dor e controle do edema. Em seguida, começamos com movimentos para evitar a restrição do mesmo, consequência muito comum e que pode servir de predisposição para problemas no futuro como dor no joelho, quadril e até mesmo uma nova entorse”, salientou.
Outra parte do corpo que “ligou o alerta” desde a fase de prévias carnavalescas tem ligação com a visão. Protagonistas de cenas de irritabilidade em consequência ao uso de pomadas modeladoras capilares, os olhos continuaram sendo tratados com atenção mesmo após a suspensão dos produtos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Foi o que ressaltou a oftalmologista Alessandra Carneiro Lira, ao explicar os quatro tipos de conjuntivite e suas causas, recorrentes após o Carnaval.
“É comum um aumento do número de casos de conjuntivite, podendo ser viral, pelo aglomerado de pessoas ou troca de fluidos; bacteriana, ao tocar os olhos sem higienizar as mãos, ou com o compartilhamento de maquiagens e óculos; alérgica, por contato com pigmentos, talco e glitter; e química, que acontece através de uma substância corrosiva irritante sobre córnea, como álcool, spray e tinta”, classificou.
A oftalmologista ainda apontou a existência de outros tipos de traumas oculares, provocados por contusões, cotoveladas, quedas e cortes com objetos pontiagudos.
Dicas de saúde
Com a alimentação
Aumentar ingestão de água diariamente, e diversificar com sucos e água de coco
Evitar bebidas e comidas de origem desconhecida, afastando riscos de contaminação
*Fonte: Paulo Sérgio Ramos (infectologista)
Com os olhos
Usar colírios lubrificantes
Não compartilhar óculos nem maquiagens
Higienizar as mãos antes de levá-las aos olhos
Lavar os olhos abundantemente com água ou soro fisiológico
Verificar o prazo de validade de maquiagens
*Fonte: Alessandra Carneiro Lira (oftalmologista)
Com o corpo
Quando necessário, usar medicamentos habituais
Utilizar compressa com gelo para aliviar dores locais
Exercícios de expansão da caixa torácica, com as mãos nas costelas e respiração profunda
*Fonte: Glizia Souza (fisioterapeuta)
Por Ana Beatriz Venceslau - Folha de Pernambuco