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quarta-feira, 22 de abril de 2020

CORONAVÍRUS - 30 MEDICAMENTOS SE MOSTRAM PROMISSORES PARA COMBATER A DOENÇA

Trinta medicamentos existentes e seguros para uso humano são promissores para combater a Covid-19, constatou uma equipe de pesquisadores norte-americanos e de Hong Kong. Os cientistas divulgaram na plataforma aberta bioRxiv um estudo no qual descrevem três dezenas de substâncias que impedem a replicação do Sars-Cov-2 — apenas três delas já em teste com esse objetivo. De acordo com eles, até agora, nenhum outro grupo havia identificado os outros remédios como promissores, o que aumenta o número de candidatos a enfrentar o coronavírus, enquanto não se tem uma vacina.

Os medicamentos foram identificados por meio da triagem de mais de 12 mil substâncias da coleção de redirecionamento de medicamentos ReFRAME — uma biblioteca de moléculas que foram aprovadas pelo Food and Drug Administration (FDA) dos Estados Unidos para outras doenças ou que foram testadas extensivamente quanto à segurança para uso em humanos.

O ReFRAME foi criado pelo instituto de pesquisas Scripps Research, na Califórnia, para acelerar os esforços no combate a doenças mortais. Todos os compostos foram testados contra o Sars-Cov-2 vivo, isolado de pacientes no estado de Washington e na China. Desses, 30 medicamentos foram selecionados com base na capacidade de interromper a replicação viral.

“Acreditamos que essa seja uma das primeiras pesquisas abrangentes de medicamentos que usam o vírus Sars-Cov-2 vivo, e nossa esperança é de que um ou mais desses remédios salvem vidas enquanto aguardamos uma vacina para a Covid-19”, diz Sumit Chanda, diretor do Programa de Imunidade e Patogênese da Sanford Burnham Prebys, na Universidade da Califórnia em Los Angeles, e autor sênior do estudo. “Muitos medicamentos identificados nesse estudo — muitos dos quais são novos na comunidade de pesquisadores da Covid-19 — podem ser utilizados em testes clínicos imediatamente ou em alguns meses após exames adicionais.”

“Para nós, o ponto de partida para encontrar qualquer novo medicamento antiviral é medir sua capacidade de bloquear a replicação viral no laboratório”, diz Chanda. “Como os medicamentos que identificamos nesse estudo já foram testados em seres humanos e são comprovadamente seguros, podemos pular mais de meia década de estudos normalmente necessários para obter aprovação para uso humano.”


A equipe de Chanda fez parceria com o cientista que descobriu o primeiro vírus da Sars, Kwok-Yung Yuen, diretor de doenças infecciosas da Universidade de Hong Kong; e com Shuofeng Yuan, professor-assistente de pesquisa no Departamento de Microbiologia da mesma instituição, que teve acesso ao Sars-Cov-2 vivo em fevereiro. Juntos, os laboratórios recriaram a alta tecnologia automatizada de Chanda e refizeram a triagem de drogas no laboratório de Yuen. Lá, identificaram 300 drogas da biblioteca ReFRAME que poderiam manter as células vivas, apesar da infecção pelo Sars-Cov-2.

Doses toleráveis

Esses 300 medicamentos avançaram para uma segunda rodada de testes no laboratório de Chanda em La Jolla, na Califórnia. Lá, os pesquisadores usaram ferramentas moleculares, como reação em cadeia da polimerase (PCR) e microscopia de imunofluorescência, para identificar 30 compostos que eram os mais eficazes para interromper a replicação viral.

Dos 30, 27 medicamentos que não estão atualmente em avaliação para a Covid-19 foram eficazes ao interromper a replicação viral. Desses, 17 têm um extenso registro de segurança humana em estudos clínicos em doenças não relacionadas à Covid-19, incluindo quatro que foram previamente aprovados pelo FDA para outras indicações.

Até agora, seis dos 17 demonstraram ser eficazes em concentrações, ou doses, provavelmente eficazes e toleráveis em humanos. Quatro desses foram testados clinicamente para doenças como artrite reumatoide, doença de Crohn, osteoporose e câncer.

Além dos 27 candidatos a medicamentos, três atualmente em ensaios clínicos para a Covid-19, incluindo remdesivir e derivados de cloroquina, demonstraram ser eficazes na interrupção da replicação do Sars-Cov-2. Segundo Chanda, “os resultados reafirmam sua promessa como possíveis tratamentos para a Covid-19 e apoiam a continuação de ensaios clínicos em andamento para provar sua eficácia nos pacientes”.

Ensaios clínicos

Dependendo da orientação regulatória, os candidatos a medicamentos recém-identificados podem prosseguir diretamente para os ensaios clínicos da Covid-19 ou passar por mais testes de eficácia em modelos animais. “Com base nos extensos dados desse estudo, acreditamos que quatro medicamentos descritos representam as mais promissoras novas abordagens para um tratamento de Covid-19 em curto prazo”, diz Chanda. “No entanto, acreditamos que todos os 30 candidatos devem ser totalmente explorados, pois mostraram-se claramente ativos e eficazes em nossos testes.”

A equipe de Chanda conseguiu trabalhar com o vírus vivo porque seu laboratório é certificado como nível de biossegurança 3, ou BSL-3, o que significa que está equipado com salvaguardas para proteger o pessoal do laboratório — assim como o ambiente e a comunidade ao redor — de patógenos que podem causar doença grave ou potencialmente letal. A instalação foi criada em 2016 para apoiar a pesquisa sobre antivirais de amplo espectro — medicamentos que funcionam contra muitos vírus — para HIV, influenza, dengue e vírus do Nilo Ocidental.

“Optamos por divulgar essas descobertas para a comunidade científica e médica agora para ajudar a resolver a atual emergência global de saúde”, observa Chanda. “Os dados dessa triagem de drogas são um tesouro, e continuaremos a extrair informações dessa análise com o objetivo de encontrar candidatos adicionais — sozinhos ou combinados — à medida que forem identificados.”

“Uma prioridade da nossa equipe é testar drogas aprovadas, ou drogas com dados significativos de segurança em humanos disponíveis, quanto à atividade contra o Sars-Cov-2”, afirma o pesquisador Dennis Burton, chefe do laboratório no Scripps onde os compostos estão sendo identificados. “Esses medicamentos poderiam ser disponibilizados para tratar pacientes com coronavírus em uma escala de tempo muito mais rápida do que as novas terapias”, justifica.

Fonte - Correio Braziliense

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