Sem previsão para acabar, a folia dos concurseiros segue embalada por videoaulas, fóruns, exercícios, livros e apostilas. Passada a euforia do carnaval, candidatos a uma vaga no funcionalismo público aumentam a expectativa em torno do lançamento de editais. Querem ânimo novo para a pesada rotina de estudos que, assim esperam, os levará à tão sonhada estabilidade.
Nesta semana pós-folia, há 26.312 vagas oferecidas em 216 concursos com inscrições abertas em todo o país, de acordo com levantamento feito pelo Correio/Diario. Há oportunidades para níveis médio e superior em diversos cargos. Nos certames para delegado (100 vagas) e médico-legista (20 vagas) da Polícia Civil do Distrito Federal, os salários chegam a R$ 15,3 mil.
Mas há concursos cujos editais despertam ansiedade nos candidatos antes mesmo da divulgação. Entre eles, destacam-se os do Tribunal de Justiça do DF (TJDF) e o do Superior Tribunal de Justiça, ambos aguardados para este primeiro semestre. Na segunda metade do ano, devem se concretizar seleções como a da Câmara dos Deputados e a da Câmara Legislativa.
A esperança dos concurseiros de que novas chances surjam daqui para frente (veja quadro) tende a aumentar a procura por cursos presenciais e online. “Agora, o bicho vai pegar. Muita gente ainda espera o carnaval terminar para parar e pensar direito na vida”, acredita o professor e advogado Max Kolbe, especialista em concurso público.
Já no próximo domingo, o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) realiza o primeiro certame da história do órgão. Estarão em jogo 87 vagas de analista e técnico, com salários de R$ 5,9 mil e R$ 8,1 mil. A advogada brasiliense Sibelle Maia, 26 anos, está inscrita na prova e chega hoje do litoral do Espírito Santo — onde descansou por alguns dias — para o “gás final”, conta ela.
Se a aprovação para o CNMP não vingar, Sibelle planeja se empenhar ainda mais para outras seleções, até conquistar a vaga desejada. O sacrifício a fez, inclusive, trancar temporariamente a matrícula na academia de ginástica. “Estudar sozinha em casa exige muita disciplina, mas é possível”, defende a jovem, que abriu mão dos cursinhos tradicionais.
A preparação para concursos passa por mudanças, puxadas, sobretudo, pelo fenômeno dos cursos virtuais. Desde o advento das escolas preparatórias, na década de 1990, os empresários do setor não tinham um ano tão desafiante como 2014. Em Brasília, nem as marcas mais tradicionais escaparam da crise e, para não quebrarem, foram obrigadas a enxugar a estrutura.
Na esteira da inflação, a escalada dos preços dos cursos espantou alunos, esvaziando as salas. Até o início do ano passado, o professor de direito constitucional Valter Silva ministrava, em média, 12 aulas por semana. Hoje, não passa de quatro. A demanda foi ainda mais prejudicada pela conjuntura econômica desfavorável: o arrocho fiscal estrangulou o número de editais e adiou nomeações.
Na busca pela sobrevivência, redes como Gran Cursos e Vestcon repensaram a estratégia de atuação no mercado. Com bem menos alunos, os cursinhos não conseguiram sustentar salários mensais de professores de até R$ 40 mil. Docentes demitidos desses grupos acabaram montando escolas menores, cobrando dos alunos valores mais em conta.
Mesmo que seja mais movimentado do que 2014 — quando praticamente não surgiram grandes oportunidades —, não se verá este ano o mesmo ritmo de oferta de vagas observado no início da década. “O momento do país não é bom. Apesar da expectativa, não sei se teremos muitos editais. No entanto, concurseiro tem de olhar para frente e continuar estudando”, estimula Silva.
Nos próximos meses, feriados como o da Páscoa, do Dia do Trabalho e de Corpus Christi tentarão os candidatos. Para quem não pretende perder o foco, a dica é cumprir, com rigor, o cronograma de estudos. “O planejamento precisa contemplar momentos de lazer, mas a prioridade de quem deseja passar em concurso é a ralação”, insiste Silva.
Enquanto milhões de pessoas pulavam carnaval, bravos concurseiros encaravam as grossas apostilas e não relaxavam. O professor de direito administrativo Mariano Borges deu 11 aulas nos dias de folia. “Muita gente, sabendo da concorrência acirrada, aproveitou o feriado para reforçar conteúdos”, diz. A partir de hoje, aposta, o interesse dos alunos deve aumentar.
Para quem garantiu participação em concursos com editais já lançados, como o do Ministério Público da União (MPU), do Banco do Brasil e da Petrobras, o professor Mariano sugere dedicação total aos exercícios no tempo restante para as provas. “A esta altura, não dá para ficar mais na teoria. O que não entender decora: é assim mesmo, sem traumas”, orienta.
Parceria
Entre idas e vindas na maratona de estudos, o casal de namorados Rodolfo Bayma, 29, e Sarah Fernandes, 27, se dedica ao sonho do funcionalismo há quatro anos. Nesse carnaval, eles permitiram-se conciliar as horas de estudo com a presença em alguns blocos de rua da capital federal. “Parece que agora a gente fica mais focado. O ano começou para valer”, afirma ela.
A rotina já conhecida dos dois será retomada sem moleza. “Basicamente estudar, estudar e estudar, o dia inteiro”, resume Sarah. As pausas se restringem às refeições e aos momentos de atividade física e oração. “Quando vem o cansaço, um anima o outro. É o que queremos, é o nosso futuro”, emenda ele, com a concordância da namorada.
Sarah, formada em relações internacionais, almeja o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, cuja seleção ainda não aparece na lista das esperadas para este ano. Rodolfo, publicitário, está atento ao concurso da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), também sem previsão. Por ora, os dois não perdem o ritmo e ficam de olho em outros certames.
Assustados com a alta dos preços dos cursinhos, o casal recorreu às aulas on-line no caminho firme da aprovação. “O professor está aqui, na minha frente”, sublinha Sarah, com o laptop sobre a mesa. “Não é um estudo solitário: dá para tirar dúvida por meio dos fóruns”, acrescenta o namorado. Os cursos virtuais contratados por eles chegam a custar quase três vezes menos que os presenciais.
Com frequência, os dois estudam juntos. Em casa, ganham o tempo que despenderiam com deslocamento. Porém, precisam se concentrar para não se renderem a distrações. Ele tem de esquecer o violão. Ela conta com a compreensão da família para manter a televisão em volume baixo. “É desafiante, mas depois que assumimos a rotina, passou a fluir melhor”, pontua Rodolfo.
O que vem por aí
Veja alguns dos concursos mais aguardados por quem sonha em fazer carreira no funcionalismo público:
Câmara dos Deputados
» Mesa Diretora autorizou concurso para este ano. Número de vagas não definido, mas haverá chances para níveis médio e superior, com remunerações entre R$ 11.684,43 e R$ 17.684,43.
Receita Federal
» Planejamento afirmou que há recursos previstos para contratação de auditores. Ainda não há definição de número de vagas nem data de lançamento do edital.
INSS
» Foram solicitadas 4.730 vagas. Seleção oferecerá oportunidades para técnico do seguro social (2.000), médico perito (1.150) e analista do seguro social (1.580). Salários entre R$ 4,8 e R$ 10,8 mil.
Ministério do Planejamento
» Concurso oferecerá 556 vagas, sendo 22 para a Escola Nacional de Administração Pública (Enap). Edital deve sair até junho. Chances para nível superior. Salários não divulgados.
Ministério das Comunicações
» Pasta pretende abrir concurso com 187 vagas de níveis médio e superior. Planejamento analisa pedido.
Polícia Militar do DF
» Certame autorizado em 2013. Serão oferecidas 204 vagas, sendo 51 imediatas e 153 para cadastro de reserva, para postos de segundo-tenente dos quadros de oficiais e capelães.
Secretaria de Fazenda do DF
» Concurso autorizado: órgão está em fase de escolha da banca organizadora. Serão 100 vagas. Definições sobre cadastro de reserva, salários e exigências serão divulgadas no edital.
Inmet
» Órgão abrirá 242 vagas e está prestes a escolher banca organizadora. Cargos, salários e lotação não divulgados. Haverá chances para Brasília.
Polícia Federal
» Associação Nacional dos Delegados anunciou que este ano será aberto concurso com 600 vagas, para escrivão (450) e delegado (150). Salários chegam a R$ 17 mil.
Ministério do Trabalho e Emprego
» Planejamento analisa pedido de concurso com 800 vagas. Cargo contemplado será o de auditor fiscal do trabalho, com remuneração de R$ 15.743,64.
Superior Tribunal de Justiça
» Assessoria do órgão confirmou novo concurso em breve. Não há definição de vagas e cargos.
IBGE
» Instituto pediu ao Planejamento novas vagas para os postos de técnico, tecnologista e analista.
Anac
» Agência solicitou abertura de novo concurso público. Detalhes não definidos.
ANTT
» Agência pretende abrir 670 vagas de níveis médio e superior.
Novacap
» Serão abertas 379 vagas e cadastro de reserva. O Tribunal de Contas do DF chegou a multar o secretário de administração por não lançar concurso.
Secretaria de Desenvolvimento Social do DF
» Concurso autorizado: serão 200 vagas, para especialista (nível superior) e técnico em assistência social (nível médio). Salários de R$ 4.239,20 a R$ 5.789,36.
Agência Nacional de Águas
» Serão abertas 32 vagas para analista (nível superior) em Brasília. Salário de R$ 11.071,29.
Anvisa
» Serão abertas 120 vagas de nível médio, para técnico administrativo em Brasília. Salário de R$ 4.760,18.
Tribunal de Contas da União
» Já autorizado, certame oferecerá 30 vagas para os postos de auditor (12) e técnico (18). Chances serão distribuídas entre DF, Acre, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pernambuco e São Paulo.
Dnit
» Departamento aguarda autorização do Planejamento. Expectativa de 1.131 vagas, para postos de níveis médio e superior. Salários de R$ 3.342,50 a R$ 6.647,41.
Ministério da Cultura
» Pasta pediu abertura de 140 vagas de nível superior e 89 de nível médio. Pedido em análise. Salários podem chegar a R$ 6.330,28.
Do Correio Braziliense
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