Advogado de formação, José Martiano de Alencar, conhecido mais por José de Alencar e seus trabalhos na literatura brasileira, aniversaria nesta quarta-feira (1º). 189 anos desde seu nascimento, o cearense passou pela história do país, deixando sua marca mais notória na literatura, mas o multifacetado Alencar, tem em seu currículo, extensas experiências, passando por jornalista, crítico e político, chegando até mesmo ser Ministro da Justiça no Brasil.
No Ceará, estado onde nasceu, o resgate da memória e de seu acervo literário fica a cargo da Casa José de Alencar, equipamento que é ligado a Universidade Federal do Ceará (UFC). Criada ainda na década de 60, o espaço é um casarão que abriga hoje, pinacoteca, biblioteca, auditório, restaurante, museu, e ainda mantém uma das estruturas originais da casa de Alencar que resistiu ao tempo: uma pequena construção que, dizem alguns historiadores, servia para esconder a mãe de José de Alencar, ele e os irmãos, quando o pai, senador do império e padre, recebia visitas no sítio Alagadiço novo.
Na casa, que também provavelmente servia para empregados do sítio, existem um cômodo principal, com duas janelas e duas portas; um recinto com uma grande porta que pode ter servido para entrada de charretes, onde ficariam guardadas; além de um outro cômodo com uma porta que dá acesso a uma varanda com telhado baixo, e um fogão de alvenaria, com espaço para queimar a lenha e esquentar a comida.
Próximo à esta casa, resite ainda parte das ruínas do engenho do sítio Alagadiço Novo, onde era moído a cana de açúcar (o sítio também tinha uma plantação de cana) para a produção de cachaça.
Para abrigar os equipamentos culturais, o casarão foi desenhado também para servir como ponto de apoio da UFC. Hoje também funcionam aulas de músicas para os moradores da região, além de espaço para receber treinamento e convenções.
"O objetivo da casa é se tornar referência para pesquisa e produção de material que esteja ligado ao José de Alencar", afirma o historiado Fred Pontes, que trabalha como coordenador cultural do espaço.
Para tanto, recentemente a casa terminou de digitalizar parte a produção de José de Alencar, que fica disponível para pesquisadores nos computadores do equipamento. São mais de seis mil páginas de produção do autor entre cartas, peças teatrais, contos, romances e documentos. Esse material, antes, só podia ser acessado na Fundação Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro.
A novidade da digitalização desse acervo é que produções, consideradas inéditas (não antes publicadas) passam a ser disponibilizadas na Casa, entre eles, o primeiro romance de Alencar, "Os Contrabandistas", além de peças teatrais e documentos e artigos de opinião política do autor.
Para visitação, a casa José de Alencar é aberta ao público, gratuitamente, de segunda a sexta-feira entre 8h e 17h. Aos sábados a casa funciona de 8h ao meio dia. No local também funciona o restaurante, que aos sábados estende o atendimento até as 15h, com música ao vivo.
BIOGRAFIA - Filho de José Martiniano Pereira de Alencar e Ana Josefina, nasceu em 1º de maio de 1829, na região da então Vila de Mecejana (na época a escrita ainda era com C e não com ss, como grafado hoje Messejana). O Sítio Alagadiço Novo, residência da família Alencar, era típico de uma família com posses: uma grande casa, plantações de cana de açúcar, um engenho, onde produzia cachaça.
A família tinha história na política e na luta contra o império. O pai de José de Alencar participara da Revolução de 1817 e da Confederação do Equador (1824). Mas mesmo na luta contra o império, Alencar pai tinha seus prestígios. Era senador (cargo vitalício na época, indicado pelo Imperador) e ainda foi presidente da província do Ceará por duas vezes (1834 a 37 e 1840 a 1841). Além disso era padre, e talvez esso fato fosse o mais complicado, para não chamar de escandaloso, na época. José Martiniano era casado (não oficialmente, claro) com sua prima, Ana Josefina, com quem teve sete filhos, todos assumidos oficialmente em carta testamento antes de morrer.
Há historiadores que levantem a hipótese de que seja por isso que a casa de José de Alencar fosse tão distante da Vila de Mecejana. Também há teorias de que uma pequena casa, que poderia ser de uso de empregados, e onde seria guardada as charretes, serviria de esconderijo para a esposa e filhos, quando o senador Alencar recebia visitas no sítio. Polemicas à parte, José de Alencar viveu apenas sete anos no Ceará, quando em 1837 começa a jornada dele e sua família para Bahia e depois para o Rio de Janeiro.
Sua vida após 1840 se divide entre Rio de São Paulo, onde dá início ao curso de direito, em 1846. Em 1848 transfere o curso para a faculdade de direito de Olinda, no Pernambuco, mas um ano depois retorna para São Paulo onde se forma. Entre 1851 e 1853 trabalha como praticante de direito no escirtório de advocacia do Dr. Caetano alberto Soares. Mas é em 1855 que sua veia literária, iniciado ainda em 1847 com seu primeiro romance, "Os Contrabandistas", dá uma alavancada.
Começa escrevendo para a seção "Ao Correr da Pena", no Correio Mercantil. Em 1856 assume como como redator-chefe do Diário do Rio de Janeiro. É lá que lança o romance que traria ao sucesso na época, lançado ainda em folhetim. "O Guarani".
Em 1858 assume chefia da Secretaria do Ministério da Justiça no país. Na política, se torna deputado pelo Ceará em 1860 e em 68 se torna ministro da Justiça até 1870. Em 69 não é nomeado pelo Imperador Dom Pedro II como senador (há historiador que diga que sua nomeação não foi aceita porque Alencar era ferrenho contestador do Império).
Na literatura sua obras são lançadas mesmo após 1857. Depois de "O Guarani", Alencar ainda lança os romances Cinco Minutos (1857), A Viuvinha (1860), Lucíola (1862), Diva (1864), Iracema (1865), A Pata da Gazela (1870), O Gaúcho (1870), Guerra dos Mascates (1871), O Tronco do Ipê (1871), Sonhos d'Ouro (1872), Til (1872), Alfarrábios (1873), Ubirajara (1874), Senhora (1875), O Sertanejo (1875), Encarnação (1893).
Entre os destaques das obras, Alencar se torna conhecido pela literatura que resgata a cultura indígena com as três obras: O Guarani, Iracema e Ubirajara. Em Iracema, Alencar resgata ainda a lenda do início do Ceará, e o encontro da índia com Martins Soares Moreno.
Leonardo HefferDo NE10
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