Procurar por informações na internet sobre os mais variados assuntos já faz parte do dia a dia do brasileiro. Porém, especialmente quando o tema é saúde, é preciso se cercar de cuidados para não cair em armadilhas.
Em uma pesquisa recente, abordando sites relacionados a problemas cardiovasculares e vídeos postados no YouTube, por exemplo, dos 1.152 endereços analisados, apenas 4,3% apresentavam informações corretas.
Entre os temas mais procurados em cardiologia, chegou-se à conclusão de que a hipertensão arterial é o mais recorrente. "Dos 281 vídeos encontrados com essa terminologia, apenas 20 (7,1%) foram considerados minimamente apropriados, contendo informações confiáveis", diz a formanda em medicina Nathália Monerat, uma das autoras do estudo.
O assunto arritmia, por sua vez, trouxe 561 vídeos espontâneos, dos quais apenas 18 (3,2%) continham informações seguras. Já para a expressão insuficiência cardíaca, foram analisados 310 vídeos, sendo que apenas 23 (7,4%) apresentavam conteúdo verdadeiro. O estudo ainda observou que nenhum dos vídeos apresentava informações bibliográficas, nem embasamento teórico.
"Em vez de esclarecer o público leigo, esses vídeos podem colocar em risco a saúde do internauta. Como se não bastasse, o estudo mostra que, de fato, a maioria dos sites traz informações erradas, podendo comprometer o estado de saúde do paciente", enfatiza ela.
A pesquisa liderada por Monerat foi apresentada no 30° Congresso de Cardiologia da Socerj - Sociedade de Cardiologia do Estado do Rio de Janeiro, realizado recentemente. A ideia de estudar este tema teve origem no GETICMED (Grupo de Estudo em Tecnologia e Informação em Comunicação Médica), de Centro Universitário de Volta Redonda.
Dr. Google
"Hoje todo mundo recorre ao 'Dr. Google'. E quando o assunto é a própria saúde ou de familiares, os riscos são enormes, não só porque as informações podem ser incorretas, mas porque os tratamentos devem ser individualizados. O que serve para um paciente, pode não servir para outro e até mesmo prejudicá-lo", afirma Monerat.
Segundo ela, "há quem, após pesquisar em sites na internet, resolva por conta própria trocar o tratamento e até o medicamento prescrito pelo seu médico".
"Outros, na dúvida, começam a seguir simultaneamente os dois tratamentos: o encontrado em algum site e o receitado em consultório. E há internautas que nem chegam a procurar um médico e decidem se automedicar", conta Monerat, que se forma em dois meses.
Para a médica cardiologista Magaly Arrais, do HCor – Hospital do Coração, de São Paulo, antes mesmo da internet, já havia quem desse ouvidos aos conselhos de amigos e vizinhos em vez de recorrer ao médico.
"Não é de hoje que ouço falar de pacientes que seguem as dicas de tratamento de conhecidos e acabam não procurando um médico. Isso pode levar a uma intoxicação medicamentosa, sem falar na piora do quadro clínico", explica.
No caso dos internautas, ela os aconselha a pesquisar questões de saúde, como as cardiovasculares, em sites especializados e de conteúdo com credibilidade, a exemplo da Sociedade Brasileira de Cardiologia e os das sociedades estaduais.
"Além disso, o paciente deve trazer o resultado de suas pesquisas para discutir com o seu médico durante a consulta, para avaliarem juntos se o que encontrou é válido no seu caso", recomenda a especialista.
Após pesquisar na internet, há quem resolva trocar o tratamento por conta própria
Consultas-relâmpago
Na opinião do médico cardiologista Antonio Carlos Bacelar Nunes Filho, do Hospital Israelita Albert Einstein, a busca por informações de saúde na Internet tem acontecido cada vez mais também porque as consultas médicas em geral são cada vez mais rápidas e, com isso, muitas vezes os pacientes não conseguem tirar todas as suas dúvidas com o médico.
"Os pacientes acessam o Google para levantar esclarecimentos até mesmo sobre os exames solicitados pelos médicos que, com a pressa, não explicam os procedimentos em detalhes", conta.
O médico também recomenda a busca em sites com conteúdo confiável e, além disto, que tenham referências de credibilidade e sejam revisados por médicos especializados.
"Já é sabido que muitos pacientes têm como hábito pesquisar sobre questões de saúde no 'Dr. Google', mas chega a ser uma surpresa saber que a quantidade de sites com informações corretas é tão pequena", comenta.
"Acho a pesquisa da Nathália Monerat excelente para alertar a todos sobre essa realidade, levando os profissionais a esclarecer ao máximo seus pacientes para que estes não saiam de seus consultórios com tantas dúvidas", finaliza o médico.
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