Entender o método de correção utilizado no Enem deve fazer parte da estratégia de cada candidato. A maneira como o fera responde aos quatro cadernos pode fazer a diferença no resultado final, já que o sistema de avaliação divide a prova em diferentes graus de dificuldade e identifica os chutes. Utilizada pelo Ministério da Educação desde 1995, a Teoria da Resposta ao Item (TRI) também é aplicada em todos os países que participam do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa).
Baseada em um modelo matemático, a teoria classifica as questões em fáceis, medianas e difíceis. Para avaliar se as respostas estão coerentes com o desempenho no restante da prova, a TRI usa três critérios. Entre esses parâmetros estão a discriminação, que verifica se o participante domina ou não o assunto da questão; o grau de dificuldade, que permite avaliar os estudantes em diferentes níveis de conhecimento; e a possibilidade de acerto ao acaso. É esperado que o estudante acerte uma maior quantidade de itens fáceis, seguidos de medianos e difíceis. Caso contrário, a TRI considera que houve “chute”, e a nota final será menor.
Segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), o propósito é garantir coerência pedagógica. “Entende-se que a aquisição do conhecimento ocorre de forma cumulativa, de modo que habilidades complexas requerem domínio de habilidades simples”, justificou.
Quando a prova é composta por muitos itens fáceis, a nota máxima será mais baixa, como acontece ano a ano com o caderno de linguagens, por exemplo, nos quais as médias ficam em torno de 500. Quando a prova é composta por muitos itens difíceis, o mínimo tenderá a ser mais alto. Então, a nota mínima pode não ser zero, mesmo se um aluno errar todas. O mesmo ocorre com a nota máxima, que pode passar de mil se as questões estiverem com nível alto, como aconteceu com as médias de matemática no ano passado.
Seguindo a matriz de referência do exame, que toma como base documentos oficiais que subsidiam o Ensino Médio, os 45 itens apresentados nas quatro áreas de conhecimento do Enem (matemática, linguagens, ciências da natureza e ciências humanas) têm peso em conjunto e não individual. Na correção, as questões são avaliadas levando em consideração se houve coerência. Esse sistema de avaliação permite que seja elaborada apenas uma prova de múltipla escolha para os mais de seis milhões de inscritos no exame, já que mesmo se dois candidatos tiverem a mesma quantidade de acertos, aquele que responder de forma mais coerente terá nota maior.
O professor de matemática do Colégio Damas, Rui Lima, faz uma analogia com a técnica do jogo pega-varetas, já que é preciso seguir uma estratégia para responder às questões. “Como no jogo, os alunos devem eliminar primeiro as ‘varetas’ mais fáceis e só depois partir para as complexas”, explica.
“Em matemática, o aluno pode perceber esses diferentes graus por aqueles assuntos básicos, como proporção, regra de três e juros. Já os itens que envolverem logaritmos e geometria analítica, por exemplo, ou que trazem situações novas, serão as mais difíceis”, comenta.
Uma dica é ler a prova toda antes de responder, para identificar os níveis de dificuldade. Para adquirir experiência, fazer provas anteriores é importante. O fera de engenharia da computação Marcelo Veloso, 17, responde aos simulados desta forma e percebeu melhora no desempenho. “A TRI permite que as notas não sejam iguais e ainda diminui a nota de quem está chutando, tornando a seleção mais justa”, considera o estudante.
Critério de desempate
Uma das principais características da Teoria da Resposta ao Item é a escala criada pelo Inep, especialmente para o Enem, que tem como objetivo medir o conhecimento do participante nas quatro áreas. Todas as notas são calculadas dependendo do valor de referência, que representa o desempenho apresentado no ano anterior pelos concluintes do Ensino Médio da rede pública e o valor de dispersão, que diz respeito a uma medida de variabilidade média das notas desses concluintes em relação ao desempenho médio geral.
O cálculo das notas segue seis etapas que exigem tripla conferência envolvendo grupos de especialistas em estatística, matemática e psicometria, além de recursos computacionais que garantam a confiança nos resultados. “Essa teoria serve para calibrar a nota do aluno de acordo com o conhecimento. Para cada questão existe um gráfico que mostra a relação da proficiência e a dificuldade de cada item resultando na pontuação. O aluno que acerta aleatoriamente vai ganhar o ponto, mas não se tiver a proficiência terá uma nota baixa”, lembra Rui Lima.
A única prova que não segue a TRI é a de redação, já que é dissertativa e avalia o candidato em cinco competências que valem até 200 pontos cada, totalizando o máximo de mil pontos. A redação é lida por dois professores que avaliam se o estudante domina a língua portuguesa, compreendeu a proposta do texto base, defendeu um ponto de vista, construiu uma argumentação e elaborou uma proposta de intervenção para o problema abordado.
Para o fera em engenharia biomédica Guilherme Teixeira, 17, o desempenho nas provas de redação e linguagens faz a diferença na média geral. “Por ter um conhecimento mais básico, a prova de português vai gerar uma nota mais baixa, já que não varia muito no nível de dificuldade. Então acertar o máximo possível garante a base da nossa nota. Já a redação tem um peso bastante relevante para todos os vestibulandos, independentemente do curso ao qual irá concorrer. Acredito que as duas formas de avaliação sejam justas para o aluno que se prepara”, analisa o estudante.
Do Diário de Pernambuco
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