A sífilis, uma das Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) mais antigas da humanidade, ainda desponta como um desafio à saúde pública de Pernambuco. Isso porque os novos casos não param de crescer no Estado. Apenas nos últimos três anos, o número de pessoas que adquiriram a enfermidade foi multiplicado por cinco, numa clara demonstração da escalada da ISTs. As notificações subiram 152% entre 2014 e 2015, e mais 103% se observamos 2015 e 2016.
Essas estatísticas oficiais podem ser a ponta de um cenário ainda maior, já que muitas pessoas nunca se testaram para a doença e os dados sobre as formas adquiridas, gestacional e congênita apresentarem de forma muito desigual. Apesar das melhorias e agilidade no diagnóstico, um dos principais desafios está em tratar, curar e impedir que os pacientes voltem a se reinfectar ampliando a cadeia de contaminação.
“Saber que existem muitos outros casos a gente sabe, mas falta o diagnóstico”, destacou o gestor do Programa Estadual de Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST/Aids/Hepatites Virais), François Figueiroa. A Secretaria Estadual de Saúde (SES) junto com várias prefeituras tem tentado expandir a testagem rápida de sífilis em todos os municípios, oportunizando a acesso.
Numa próxima estratégia irá treinar 150 multiplicadores para atuar junto a população sobre a necessidade de realização do exame. Contudo, Figueiroa defende que um ponto chave no combate a proliferação de casos esta na prevenção. “Fico me perguntando porque as pessoas parecem que não se veem mais em risco. Não tem para onde correr: prevenção é com usos de camisinha”, comentou sobre o abandono o uso do preservativo entre casais que não realizaram testes para IST recentes.
Além da proteção para evitar o contágio, o gestor acredita que se todos inserissem na rotina de check-up exames para a sífilis, a situação epidemiológica seria de melhor monitorada. Por falar em controle, outro alerta: “É possível curar a sífilis, mas você pode pegar de novo e muitas vezes. A pessoa não fica vacinada e havendo nova exposição há reinfecção. Podendo haver sequelas”, destacou. Entre esses danos irreversíveis à saúde estão problemas no nervo óptico, cardiovascular, ósseos e nervosos. Para compreender melhor a prevalência dos acometimentos cardíacos em pacientes que tiveram sífilis, o Departamento de IST/Aids/Hepatites Virais pretende iniciar um estudo de revisão de casos de pacientes.
No mapa da sífilis adquirida em Pernambuco há registro da doença em praticamente todo o território. Contudo, os municípios do Recife, Jaboatão dos Guararapes, Goiana, Ipojuca, Vitória e Camaragibe vêm se destacando nos últimos anos e juntos concentram, quase 80% dos diagnósticos pernambucanos. A Capital, que já chegou a receber o apelido pejorativo de “Recífilis”, vem perdendo em número de notificações para Jaboatão. Esta cidade teve nos últimos cinco anos um aumento de 636% na notificação de doentes.
A superintendente de Vigilância à Saúde do município, Vânia Freitas, informou que a atual gestão verificou a explosão de casos dos últimos anos e criou recentemente um núcleo especifico para enfrentar a questão. Coincidentemente, o aumento de sífilis lá aconteceu no mesmo período de maior adensamento populacional na região provocado pelo ir e vi de muitos trabalhadores do complexo de Suape. “O ano de 2016 já foi reflexo de 2015, quando houve um grande boom na área de Candeias e Barra da Janga, quando realmente tínhamos muitas pessoas de fora”, disse.
Da Folha de Pernambuco
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