Dentro de todas as expectativas que cercam o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), a redação tem peso especial para os alunos. O tema escolhido para a redação que acontece no primeiro dia de aplicação das provas é sempre alvo de curiosidade e debates.
No próximo dia 3 de novembro, os participantes deverão escrever um texto dissertativo-argumentativo de até 30 linhas. Será proposta uma situação-problema, que servirá de base para o desenvolvimento da redação. A nota da redação é determinante na pontuação final do candidato e, consequentemente, nas chances de ingressar numa instituição de ensino superior.
No geral, os temas escolhidos pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) tendem a destacar assuntos de impacto e relevância social. O Diario entrevistou a professora de redação Fernanda Bérgamo, referência na preparação de alunos para o vestibular. Ela explicou como os alunos podem utilizar desse aspecto para se preparar para a prova.
“Esse é o momento em que o aluno não deve procurar apostar em temas específicos das várias listas que são apontadas nas redes sociais, nos veículos de comunicação. Uma ótima estratégia de preparação é esse candidato observar que o Enem tira o tema da redação de eixos temáticos. Ele se preparar para eixos temáticos, vai ser muito mais produtivo do que focar em cinco ou seis temas. O aluno que se mantém atualizado com informações dos diversos eixos vai estar preparado para qualquer temática”, destacou a professora.
Bérgamo também falou sobre a recorrência destes eixos temáticos e a relevância dos temas dentro da sociedade.
“O eixo mais utilizado no Enem é sobre direitos humanos e cidadania. O Enem já cobrou a importância do registro civil, mas também este eixo trata de temas importantíssimos, como a juventude. Direitos humanos e cidadania também envolve infância, e o Estatuto da Criança e do Adolescente está celebrando 34 anos agora em 2024. Temáticas que envolvam longevidade com qualidade de vida, como o país está preparado para ter uma população na terceira idade, a gente não pode esquecer, o país está envelhecendo. O eixo de direitos humanos e cidadania também trata das minorias sociais e étnicas. O Enem também usou recentemente o foco de uma das propostas foi discutir sobre os povos tradicionais”, complementou.
A profissional da educação comentou sobre outros possíveis assuntos explorados pela prova.
“O Enem pode tirar o tema de questões sociais. O eixo temático de meio ambiente é a maior aposta. Pode tirar o tema do eixo temático de saúde, pode tirar de arte, cultura, pode tirar de tecnologia, economia que também é muito forte por conta da Inteligência Artificial, os impactos do avanço tecnológico na educação. Falando em educação, pode se cruzar com o eixo da tecnologia. Pode se cruzar com o eixo da educação e da ciência. O eixo saúde, por exemplo, foi abordado em 2020, quando o tema foi o estigma relacionado às doenças mentais. Tem as discussões sobre o impacto dos cigarros eletrônicos porque a juventude anda fumando demais, também um tema que pode ser forte que essa questão do vício em apostas, por conta dessas bets”, explicou a profissional da educação.
“O meio ambiente é uma aposta forte se a gente pensar que o ano começa com a tragédia no Rio Grande do Sul. As queimadas foram uma preocupação ao longo dos meses, mais recentemente a gente observou o impacto do furacão Milton”, finalizou.
Outro ponto explicado pela professora foi sobre como o aluno deve proceder se sentir insegurança em relação ao tema da prova.
“Uma dica importante, e isso vale para o aluno que está preparado e aquele que teve uma preparação mais frágil, é se preparar para estar diante de um tema com a sensação de que ele não sabe nada sobre o tema. Isso às vezes é uma questão mais emocional mesmo do que real, porque o nervosismo faz com que aquele aluno, que não gosta daquele tema, ele ache que não sabe nada sobre aquele tema. Isso é autossabotagem, na verdade, e muitos passam por isso. É preciso fazer uma leitura atenta desse tema e se a sensação for de que ‘eu não sei nada’, o Enem é uma prova muito generosa na produção textual os textos de apoio tem informações suficientes para ele poder não só se informar sobre o tema, ter conhecimento sobre ele, mas vai ter conteúdo para que ele possa escolher as teses, os argumentos, os repertórios, as propostas de intervenção, tudo ele encontra nos textos de apoio. Só não vale copiar, o Enem quer saber que esse jovem ele consegue ler, compreender, interpretar e contextualizar. Então, se fazendo essa leitura usando as próprias palavras parafraseando os conteúdos, ele produziu o texto, ele tem em mãos uma redação sim com possibilidade de ganhar a nota máxima, mesmo que a impressão inicial seja ‘não sei nada sobre o tema’. Mas o mais importante é reforçar, não vale copiar, e sim parafrasear”, ressaltou Fernanda.
Fernanda Bérgamo compartilhou com o Diario algumas recomendações para esse momento dos estudos para a redação do Enem.
Continuar produzindo textos, mas não numa quantidade maior. Basta um por semana, e observar as falhas cometidas para evitar na produção seguinte;
Se manter atualizado, porque as notícias atuais podem significar um repertório muito enriquecedor para a redação;
Treinar a redação marcando o tempo gasto no relógio, pensando em completar a prova -- desde a leitura do tema até a leitura do texto final -- entre 1h30 e 1h40, para ter tempo suficiente para as 90 questões;
Ler o tema com bastante atenção, o tema tem um assunto geral e recortes que não podem ser ignorados.
"O aluno tanto pode começar a prova no dia 3 pela redação, como olhar o tema, dar uma olhada nos textos de apoio, e se por acaso ele se sentir bloqueado, ele já vai adiantando as questões objetivas, porque algumas têm conteúdos que vão fazer com que esse candidato reflita sobre a temática. Ele já se distanciou, já se acalmou e vai voltar para a redação mais tranquilo", orientou a professora.
A docente também deu dicas gerais para a prova.
Checar o local da prova e simular no final de semana anterior o caminho até lá e cronometrando o tempo para sair com antecedência para evitar atrasos no dia da prova;
Manter uma rotina de sono leve e boa alimentação;
Fazer simulados para entender os pontos a serem melhorados;
Traçar estratégias pensando no sistema de correção da prova, o TRI. Fazer imediatamente as questões fáceis, fazer rapidamente as questões médias que não têm muita complexidade, e pular todas as questões longas e difíceis para deixar para o final.
O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) disponibilizou, no último dia 2 de outubro, em seu portal na internet, a Cartilha do Estudante para a redação. O material procura esclarecer dúvidas sobre critérios para uma redação bem qualificada no Enem, com informações sobre a matriz de referência da prova, e exemplos comentados de redações que receberam pontuação máxima (1.000 pontos) no Enem 2023.
Reta final
O Diario também reuniu algumas indicações para a prova, confira:
Participar de aulões e simulados;
Contabilizar o tempo que demora na solução de cada problema/questão que cai no ENEM, nos simulados, e ter uma média de 3,5 minutos para cada questão, é o ideal;
Manter a mente tranquila, para evitar ansiedade e se dedicar às atividades físicas/esportivas;
Trabalhar a resistência física e emocional, pois são 5 horas de prova e muitas questões para dar conta, então, o foco intelectual é fundamental (evitar sair para o banheiro ou comer demais durante a prova);
Focar em temas emergentes e assuntos que aparecem com mais frequência.
Histórico
Os últimos dez temas de redação do Enem foram:
2023: "Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil"
2022: "Invisibilidade e registro civil: garantia de acesso à cidadania no Brasil"
2021: "A falta de empatia nas relações sociais no Brasil"
2020: "O estigma associado às doenças mentais na sociedade brasileira"
2019: "Democratização do acesso ao cinema no Brasil"
2018: "Manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados na internet"
2017: "Desafios para a formação educacional de surdos no Brasil"
2016: "Caminhos para combater a intolerância religiosa no Brasil"
2015: "A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira"
2014: "Publicidade infantil em questão no Brasil"
Números
O número de inscritos para realizar as provas do ENEM, em Pernambuco, segundo o MEC, é de mais de 275 mil.
O total de inscritos para o exame em 2024 supera os das últimas edições. Em 2023, o Enem teve 3,9 milhões de inscritos. Em 2022, cerca de 3,39 milhões se inscreveram.
Mais da metade dos inscritos – cerca de 2 milhões e 730 mil – não vão precisar pagar a taxa de inscrição porque tiveram a solicitação de isenção aprovada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Os concluintes, ou seja, aqueles que estão na última série do ensino médio, que irão disputar vagas pela primeira vez, correspondem a 1.655.721 inscritos, sendo que 1.330.364 inscrições desse grupo foram gratuitas e 325.357 deverão ser pagas.
A nota do ENEM pode ser utilizada para concorrer a vagas em instituições de ensino superior públicas e particulares, como nos processos do SISU e do ProUni. Os resultados individuais também podem ser aproveitados nos processos seletivos de instituições portuguesas que têm convênio com o Inep. Os acordos preveem acesso facilitado às notas dos estudantes brasileiros interessados em cursar a educação superior em Portugal.
Por Nicolle Gomes - Diário de Pernambuco
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