À frente de um dos cargos mais cobiçados pelos políticos do Centrão, mas blindada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a ministra da Saúde, Nísia Trindade, chega ao fim do primeiro semestre conseguindo executar uma série de promessas feitas ao ser nomeada, como a Campanha Nacional de Vacinação, a retomada do complexo econômico industrial da saúde e o novo Mais Médicos.
Nem tudo, no entanto, saiu do papel ou está funcionando como ela esperava: é o caso da política de distribuição gratuita de absorventes e o aumento das taxas de vacinação.
Trindade, que no discurso de posse em janeiro se comprometeu a reverter as baixas coberturas vacinais, admite que a queda da adesão segue como um dos principais obstáculos do ministério. Apesar dos esforços do Movimento Nacional Pela Vacinação, lançado em fevereiro, dados do departamento de informática do SUS mostram que a cobertura nacional de vacinação com os imunizantes previstos no Programa Nacional de Imunizações (PNI) está em 47,9%, longe da meta de 90% preconizada pela pasta.
A ministra tem associado a baixa cobertura atual ao movimento antivacina e ao negacionismo científico que aumentaram durante a pandemia de Covid-19. Uma das estratégias da Saúde para virar o jogo é reforçar a imagem do personagem Zé Gotinha, principalmente entre o público infantil.
— Desde o início da gestão, estamos fazendo uma série de ações para reconstrução do SUS, recuperação da confiança da população nas vacinas e da cultura de vacinação do país. — disse Nísia ao GLOBO. — O ministério também retomou o Complexo Econômico Industrial da Saúde para garantir que ações de ciência, tecnologia e inovação em saúde favoreçam a autonomia do país e o acesso às tecnologias adequadas, como vacinas e medicamentos.
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Política assinada por Nísia em 8 de março, em celebração ao Dia da Mulher, a distribuição gratuita de absorventes também anda a passos lentos. A ideia é que os itens sejam distribuídos em escolas, unidades básicas de saúde, unidades de acolhimento e no sistema prisional. A gestão divulgou os critérios para a distribuição em junho, incluindo beneficiários do CadÚnico, pessoas em situação de rua, famílias de baixa renda e em vulnerabilidade social. Contudo, quatro meses após o anúncio, a iniciativa ainda não foi colocada em prática.
Alguns municípios, como São Paulo, já distribuem o item de forma independente. Coordenador da política menstrual no Ministério da Saúde, o secretário de Atenção Primária, Nésio Fernandes, afirma que a nacionalização depende de planejamento estratégico que leva mais do que alguns meses. Essa lapidação é feita por um grupo interministerial desde março, e o esperado é que todos os estados e municípios adotem a política até o final do ano.
Mas o secretário avalia como “grande sucesso” um outro programa que fica sob sua chancela: a retomada do Mais Médicos, uma das ações prioritárias do novo ministério. Nesse novo desenho, o programa bateu recorde de inscrições de médicos brasileiros. Foram mais de 35 mil inscritos, com interesse de profissionais também em áreas remotas e periféricas — uma das maiores dificuldades das gestões passadas.
— Nós temos a certeza de que 100% das vagas serão preenchidas e que não faltarão médicos para nenhuma das vagas ofertadas — disse.
A meta é preencher 28 mil vagas até dezembro. As mudanças na legislação do programa e o endurecimento na fiscalização de diplomas também agradaram representantes da categoria médica, como o presidente da Associação Médica Brasileira (AMB), César Fernandes. Na versão anterior, era permitido que médicos estrangeiros — ou brasileiros formados no exterior — participassem do programa sem a revalidação do diploma no Brasil. No novo desenho, isso foi alterado: agora, eles têm que fazer testes periódicos no país.
Fernandes, contudo, questiona a fixação dos profissionais em locais de difícil acesso e defende a implementação de uma carreira de estado para os médicos participantes.
— O bom é que apenas médicos brasileiros se inscreveram, e esperamos que esses médicos que vão para regiões distantes do país possam encontrar condições para se fixarem lá. — disse. — A saúde é tão importante quanto o Judiciário e precisa ter um tratamento a mesmo nível, com carreiras de Estado, senão, o médico não vai encontrar muitas razões para atuar em certos locais.
Médica sanitarista e professora da UFRJ, Lígia Bahia avalia que a pressão do Centrão pelo cargo de Trindade afetou o ritmo de trabalhos do ministério. Para a especialista, a titular terá mais foco nos programas da pasta nos próximos meses, após ter a permanência reforçada pelo presidente Lula:
— As turbulências da rota provocadas pelas pressões do Centrão certamente afetaram um pouco a velocidade da implementação de ações que dependem de articulações entre governo federal, governadores e prefeitos Agora, haverá mais espaço para programas essenciais para a saúde pública, entre eles a vacinação.
Fonte - Agência O Globo
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