Ideais fitness. Apelos que chegam a todos nós independentemente da idade, sexo e particularidades de saúde e nutrição de cada um. Que nos impulsionam sobre a necessidade, quase pressão, de ser “saudável” a qualquer custo. Que nos levam a começar uma dieta da moda ou o treino físico do momento. Copiar fórmulas alimentares e pegar pesado nos exercícios sem saber os limites do próprio corpo é um grande risco à saúde. Imprudência que pode ser gatilho de lesões, problemas metabólicos. Fora os riscos cardiovasculares silenciosos que matam milhares de brasileiros ano a ano, potencializados pela prática do exercício sem orientação.
O ex-militar do Exército Antônio Rodrigues, 67 anos, achava que estava apto para correr. Só que, no último mês de setembro, apesar do bom condicionamento físico, seu coração parou em plena corrida no Centro do Recife. Ele era cardíaco, mas, segundo a filha, a farmacêutica Andreia Menezes, 41, no dia da atividade, estava com a pressão controlada. “Ele aparentemente estava bem. Não havia restrição para corrida de forma moderada”, contou a filha. Além dele, outros dois corredores já faleceram durante as provas de rua no Recife, nos últimos anos, segundo a cardiologista Rosângela Leocádio, que defende a exigência de parecer cardiológico dos participantes para evitar novas mortes.
A cardiologista destacou que as pessoas precisam estar conscientes da importância de exames antes de realizar atividades físicas. “Entrou na academia, principalmente acima de 30 anos, o indicado é fazer uma avaliação com o cardiologista. Toda atividade requer avaliação com ausculta, eletrocardiograma e teste de esforço, que é o ergométrico”.
Apesar das indicações da Sociedade Brasileira de Cardiologia, a realidade é diferente no dia a dia de quem quer começar atividades. “Teoricamente, o correto é, antes de iniciar exercício, ir ao médico e fazer um check up. Na prática, isso acaba não acontecendo, pois os alunos querem começar a treinar de imediato. Por isso, as academias adotam uma anamnese com perguntas onde é possível criar fatores de risco daquele aluno”, disse o educador físico Renato Gouveia.
Especialista em reabilitação cardíaca, Gouveia destacou que esse procedimento pode viabilizar o início do treino de forma leve ou moderada, mas o ideal é o educador cobrar do aluno a ida ao médico para exames específicos. Ele também alertou sobre o risco dos modismos. “Há três anos, a moda era grupo de corrida. Há um ano e meio, era treinamento funcional. Agora é crossfit. Daqui a pouco aparece outra atividade”. De acordo com ele, na corrida começaram a aparecer lesões de joelho e problemas cardiovasculares. No funcional se percebeu que não havia um benefício grande quanto um aeróbico com exercício muscular bem feito. E hoje, no crossfit, há um nível de lesão altíssimo.
Dietas
Outro risco a saúde está na falta de personalização de dietas, principalmente nas radicais combinadas com atividade física intensa. O chefe do serviço de Endocrinologia do Hospital das Clínicas e diretor da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, Lúcio Vilar, reforçou que a dieta tem que ser balanceada e se adequar às necessidades de cada pessoa segundo orientação profissional.
Vilar advertiu ainda para o uso de shakes e substâncias vendidas como potencializadoras de treinos. “Os riscos são em função da duração dessas dietas e do uso desses suplementos. Os shakes, por exemplo, têm um baixo teor proteico e de vitaminas, e isso pode levar a insuficiência vitamínica, ou ainda consequências mais graves como a desnutrição”, afirmou.
O nutrólogo Eduardo Magalhães comentou que a única regra geral para uma boa dieta é evitar os alimentos industrializados. No mais, o cardápio ideal para cada um de nós deve levar em consideração nuances particulares como taxas de macro e micronutrientes e doenças associadas que as pessoas podem ter. “Não há um modelo que serve para todo mundo. Na maioria das vezes, se você seguir o que uma colega fez, uma famosa fez, exatamente ao pé da letra, a probabilidade de dar certo é muito pequena. Isso porque existe uma diferença metabólica gigante”, explicou.
Magalhães destacou que as dietas sem ingestão de carboidrato não são ideais. Para ele, a saída é cortar carboidratos ruins e inserir os mais naturais de maneira equilibrada. Para aqueles que apostam por muito tempo numa alimentação de alto valor de proteínas e sem carboidrato, ele aponta que a prática costuma acidificar o organismo, trazendo possíveis prejuízos futuros. “Isso faz com que seu corpo acabe eliminando mais potássio, o que ajuda a desenvolver uma arritmia, por exemplo. Pode ainda aumentar o ácido úrico”.
Da Folha de Pernambuco
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