Na campanha de 2010, a ex-ministra da Casa Civil Dilma Rousseff (PT) passou para a história como a primeira mulher eleita presidente do Brasil. Foi reeleita em 2014. Mas, no pleno exercício do segundo mandato, a petista corre o risco de entrar novamente para história, mas de uma maneira bem diferente. Na próxima quinta-feira, o Senado começa a julgar o impeachment de Dilma, que está afastada do cargo desde o dia 12 de maio, quando os senadores aprovaram a abertura do processo na Casa.
No Senado, onde os aliados da presidente afastada acreditavam que o quadro poderia ser revertido a favor dela, o número de parlamentares em favor do impeachment aumentou. Na votação que aprovou a abertura do processo foram 55 votos contra 22. Já na sessão que ratificou o relatório que recomenda o afastamento da petista foram 59 votos contra 21.
No cronograma definido pelos presidentes do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, e do Senado, Renan Calheiros (PMDB/AL), o depoimento de Dilma Rousseff está marcado para dia o 29. Em entrevista, a presidente afastada afirmou que os senadores irão ouvir a manifestação de uma presidente que será julgada em um processo de impeachament sem ter cometido crime de responsabilidade. A petista terá direito a falar por 30 minutos antes de ser interrogada.
Na avaliação de cientistas políticos ouvidos pelo Diario, o quadro é praticamente irreversível no Senado. Os argumentos usados por eles para justificar as declarações estão amparadas no insucesso da atual oposição e dos advogados de defesa que, segundo eles, não conseguiram convencer o STF da inocência de Dilma nem mudar a opinião de senadores favoráveis ao impeachment.
“O que estamos vendo agora é mais ou menos, o que se construiu na Câmara. O Senado caminha o impeachment e a manutenção do governo interino”, afirmou o cientista político e professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Ernani Carvalho. Ele comentou, inclusive, que o presidente Michel Temer (PMDB), mesmo na interinidade, já colocou na mesa os projetos que espera implementar no país. Ernani citou a proposta trabalhista, diminuição dos gastos públicos, o controle da inflação, reforma previdenciária e as privatizações.
Agenda
“Tudo isso está em curso. Ele (Temer) espera apenas o desfecho final para que possa colocar sua agenda em pauta”. Sobre a possibilidade de retorno de Dilma, frisou que esse é um cenário hipotético. “A primeira reação negativa será no mercado. A bolsas deve despencar, o dólar vai disparar e haverá uma forte retração de investimentos por parte do empresariado”, alertou Ernani Carvalho.
Para o cientista político e professor da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), Rudá Ricci, a decisão da Câmara será seguida pelo Senado. “A situação está definida. O que vai acontecer no Senado será um grande teatro”, ressaltou. Na opinião dele, o resultado da votação vai gerar três cenários. Primeiro vai criar para Michel Temer a ilusão de que a economia vai crescer a partir de agosto (no governo dele). “Mas é uma perspectiva já projetada para 2017. Também iremos ver qual será o futuro do Lulismo”, lembrou o cientista político. Quando fala de um terceiro cenário, Ricci abre as portas para os movimentos sociais e entidades populares. “Esse pessoal tá conversando todos os dias e daí deve surgir um corrente contra o Lulismo e uma reação contra o governo Temer”, analisou.
Do Diário de Pernambuco
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