Em Pernambuco, Dilma Rousseff (PT) assumiu um tom de despedida com a possibilidade de ser afastada na próxima semana, após votação no Senado. “Trazer água para o Nordeste era uma das exigências para que aqui a gente pudesse ter condições dignas para a população, era fundamental. Se tiver uma coisa que vou ficar muito triste na minha vida é não ver o dia que Dona Maria e Seu João abrirem a torneira e eu não estar aqui para comemorar com vocês”, disse em discurso. A presidente chegou a Terra Nova, vizinha de Cabrobó, no Sertão pernambucano, às 16h desta sexta-feira (6) para visitar a segunda estação de bombeamento da Transposição do Rio São Francisco.
Antes de desembarcar no Estado, Dilma sofreu uma derrota no Senado. Por 15 votos a favor e cinco contra, o relatório que orienta pela admissibilidade do afastamento da presidente foi aprovado em comissão especial. O processo de impeachment foi muito criticado ao longo de uma hora e 15 minutos de cerimônia para moradores do Sertão, principalmente agricultores e representantes de movimentos sociais que apoiam a presidente. “Eles (a oposição) sempre quiseram que eu renunciasse. Sabe o por quê? Por uma coisa: sabe o tapete? você levanta o tapete e esconde as coisas embaixo. Se eu renunciar, vou para debaixo do tapete. Eu não vou para debaixo do tapete, eu vou ficar aqui brigando”, disse a petista. “Eu sou a prova da injustiça”, acrescentou.
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Dilma ainda afirmou, usando o discurso que tem sido adotado pelos aliados, que um eventual governo do seu vice e agora rival, Michel Temer (PMDB), pode diminuir o Bolsa Família, o principal projeto usado na propaganda petista. “O impeachment é uma forma disfarçada de eleição indireta. Se forem para a eleição direta, o povo não vota neles. Quem vai votar em quem quer diminuir programas sociais?”, questionou. “Agora eles resolvem que essa crise tem que ser enfrentada reduzindo os programas sociais. Às vezes eles mudam a palavra para rever, as vezes revisitar”, falou.
Dilma aproveitou a presença de aliados para criticar, sem citar nomes, o ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). “Eu não tenho conta no exterior, eu não sou conhecida por receber dinheiro de corrupção. não recebo propina”, alfinetou. Cunha foi afastado do mandato de deputado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) nessa quinta-feira (5).
Dilma foi aplaudida e iniciou um discurso com um “eu te amo” para uma das pessoas que foram a Terra Nova para vê-la. A presidente cumprimentou os deputados federais que votaram contra o impeachment na Câmara, no dia 17, e também o representante da Mendes Júnior, empresa à frente da obra. Em Pernambuco, a empreiteira, que entrou em recuperação judicial e é alvo da Operação Lava Jato, deixou obras paradas. A construção do canal da Transposição começou há quase 10 anos, com previsão inicial de acabar em 2010. Seis anos depois, o eixo norte, visitado pela presidente, está com 87,7% das obras concluídas. Dilma vistoriou, em Terra Nova, dois conjuntos de bombas, ainda em testes, com capacidade de elevar 14 metros cúbicos de água por segundo.
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Mesmo com os atrasos e os problemas da obra, que é uma das principais propagandas das gestões petistas de Dilma e do ex-presidente Lula, o fato de ela estar sendo executada foi exaltado nos discursos desta sexta-feira. “Essa é uma obra que há muito tempo é proposta para o Brasil, desde a época de Dom Pedro Segundo. A pergunta é: por que essa obra só agora, com o governo de Lula e no meu governo, se decidiu fazer?”, argumentou Dilma, já acrescentando em seguida: “Por um motivo simples: porque um governo é feito de escolhas. Lula saiu aqui do Nordeste, em um caminhão, como retirante, sabe bem o que é isso. Não ter água é não ter vida.”
O mesmo tom foi adotado pelo governador da Paraíba, Ricardo Coutinho (PSB, partido que não está entre os aliados da presidente). “Nós precisamos da água e não podemos correr o risco de as grandes obras ficarem paradas”, disse, fatalista. “Quando o governo era desses homens elitistas, restava ao trabalhador do Semiárido quebrar pedra com uma marreta para ganhar R$ 30”, falou ainda. Contrário à posição do próprio partido, Coutinho ainda criticou o processo de impeachment. Também socialista, porém da ala que defende o afastamento da presidente, o governador de Pernambuco, Paulo Câmara, não foi a Terra Nova e enviou como representante o secretário de Desenvolvimento Econômico, Thiago Norões. Paulo Câmara está em Brasília.
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Do Blog de Jamildo
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