O cartão de crédito é um importante instrumento de compra, mas, mesmo com todas as vantagens e benefícios que oferece, pode ser uma porta aberta para o endividamento. Usá-lo com parcimônia é a melhor dica, sobretudo neste momento de inflação alta, já que a fatura pode ser paga em até 30 dias. Jamais quite apenas uma parte do saldo devedor. Certamente, no mês seguinte, os débitos serão ainda maiores e o risco de se cair na lista de maus pagadores é enorme. Os juros médios sobre o saldo devedor passam de 450% ao ano.
Pesquisa feita pelo Boa Vista Serviço Central de Proteção ao Crédito (SCPC) aponta que 30% dos brasileiros endividados estão entre os caloteiros por causa do mau uso do cartão. Flávio Calife, economista da SCPC, considera que o dinheiro de plástico é um ótimo meio de pagamento, desde que bem administrado. “Além de ser seguro e prático, é possível escolher o parcelamento sem juros, por exemplo”, diz. “Mas, para usar o cartão é preciso ser organizado. A fatura permite um bom acompanhamento das despesas presentes e das futuras”, acrescenta.
Tornou-se comum transformar o cartão de crédito em vilão quando o descontrole toma conta do bolso. Mas, infelizmente, os consumidores só aprendem a lição depois de cair e insistir no erro. Foi o caso da promotora de venda Milane Lorena, 32 anos. Ela acumulou uma dívida de R$ 1 mil sem ter condições de pagar. Acabou inadimplente e foi obrigada a cancelar os quatro cartões que tinha. O trauma foi grande. “Há três anos, tenho somente um cartão, e não preciso mais do que isso”, afirma. Mesmo assim, ela usa esse instrumento de compra com pouca frequência, apenas em situações de emergência. Para usufruir das vantagens do meio de pagamento, Milane fez o que recomendam os especialistas.
Nada de vilão
Mauro Calil, consultor financeiro e especialista em investimentos do Banco Ourinvest, explica que o ideal é ter, no máximo, dois cartões. “Colocar o vencimento da fatura a cada 15 dias pode ajudar no controle dos gastos. Com muitos cartões, o consumidor se perde”, destaca. Para ele, o cartão não estimula o consumo, só facilita. “É uma ótima ferramenta e não tem nada de vilão. O problema é que as pessoas não se organizam para utilizá-lo de forma correta”, frisa.
Na opinião de Calil, o fato de concentrar os gastos numa só fatura é um grande benefício. “É possível conciliar o vencimento dos débitos com o dia do recebimento do salário. Assim fica mais fácil controlar os gastos”, comenta. O consultor recomenda que não seja fixado, no cartão, um limite de despesas maior ou igual à renda mensal. “A soma dos limites não pode ultrapassar 50% do ganho do mês”, alerta. “Trata-se de uma trava importante às tentações”, emenda.
Levantamento realizado pela Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviço (Abecs), os brasileiros gastaram, em 2015, R$ 1,08 trilhão por meio do dinheiro de plástico, aí incluídas as funções crédito e débito, saldo 8,4% maior que o registrado em 2014. Somente o cartão de crédito, as transações somaram R$ 676 bilhões, alta de 6,9%. “Além de ser um meio de pagamento seguro e eficiente, o cartão de crédito possibilita maior inclusão financeira e garante o financiamento do comércio brasileiro com o parcelamento sem juros”, afirma Marcelo Noronha, presidente da Abecs.
Uso consciente
A caixa Ângela Santos, 43, diz que, para ela, o cartão sempre foi um grande aliado. Agora, nem tanto. “Usava muito, mas, neste ano, com a economia tão ruim, está apertado”, diz. A última compra dela no cartão de crédito foi em janeiro. “Comprei o material escolar dos meus filhos e parcelei em três vezes sem juros”, acrescenta. A divisão das despesas só foi possível porque não havia juros embutidos nas parcelas. Ângela só gasta com o essencial, por isso, vê o cartão de crédito como útil na sua vida. “Acho um ótimo instrumento de pagamento e me considero controlada”, justifica.
Segundo dados do Banco Central, 73,2% do saldo a receber em cartões não têm incidência de juros. Isso mostra que a grande maioria das pessoas usa o sistema de forma consciente, ou seja, paga toda a fatura no dia do vencimento e sabe aproveitar seus benefícios sem pagar juros. Em compensação, informa o BC, daqueles que recorrem ao rotativo, quatro em cada 10 acabam se tornando inadimplentes.
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