A exposição fotográfica itinerante “Parteiras – Um Mundo pelas Mãos”, que retrata e homenageia uma ocupação considerada por muitos a mais antiga do mundo: a de parteira tradicional, acaba de entrar em sua segunda fase. Agora, o projeto, concebido pelo Instituto Nômades e pelo fotógrafo Eduardo Queiroga, abre nova mostra neste sábado (17), às 17h, na Praça da Matriz, em Trindade, no Sertão pernambucano, com a inclusão de fotos mais recentes. Depois do município, a exposição segue para Pesqueira (Agreste) e Goiana (Zona da Mata).
O trabalho de reunir fotografias sobre as parteiras, também popularmente conhecidas como assistentes, curiosas, cachimbeiras, fazedoras de emergência, surgiu ainda em 2008, com o fotógrafo e jornalista Eduardo Queiroga. Ele, que acompanhou os projetos do Instituto Nômades, o “Saberes e Práticas das Parteiras Tradicionais de Pernambuco” e o “Saberes e Práticas das Parteiras Indígenas de Pernambuco”, captou milhares de imagens de lá para cá. Dessas, foram selecionadas 200 fotos que compõem exposição, catálogo com distribuição gratuita e projeção de imagens que retratam a tradição das parteiras de Pernambuco. O projeto é incentivado pelo Funcultura e conta com apoio do Grupo de Pesquisa Narrativas do Nascer/UFPE, do Grupo Curumim e das Prefeituras de Trindade e de Pesqueira.
A ideia de retornar às localidades onde o inventário ocorreu é uma tentativa de "devolver" as imagens aos seus portadores e ao público em geral. “Parteiras – Um Mundo pelas Mãos” é composta por fotografias impressas em tecido no formato 100 x 150 cm sempre montada em local público, de preferência um que sirva de referência para as parteiras, na forma de um grande varal. “O conceito da exposição passa por algo muito presente no cotidiano das parteiras: o pano. Ele, que costuma estar nos varais, nos quartos, faz, muitas vezes, papel de porta ou de divisórias nas casas, também acolhe o recém-nascido e abriga as mães”, explica Eduardo Queiroga.
Segundo Eduardo, as fotografias foram estimuladas pela vontade de aprender sobre quem são as parteiras tradicionais. A ideia era buscar respostas sobre quem são essas mulheres, como e onde elas vivem. Mas não respostas definitivas. “Apesar dessa liberdade no olhar, trabalhei com alguns limites. Eu não poderia pensar na propriedade documental, no sentido de retratar fielmente ‘uma realidade’. Acredito na fotografia como uma linguagem encharcada de subjetividade. Poderia contar essa história de muitas maneiras, mas o fato de existirem tantas possibilidades e subjetividades não impede que a fotografia traga informações importantes para o registro dessa cultura”, afirma.
Além de promover a exposição, o projeto também pretende possibilitar a multiplicação e a continuidade por meio um de acervo que será doado para cada município visitado, composto pelas fotos expostas impressas em papel fotográfico com suporte em PVC. “Uma mostra com cópias ampliadas em papel fotográfico permanece em cada localidade sob os cuidados de associações e outras entidades locais, de modo a seguir uma itinerância própria, multiplicando o alcance e a disseminação da documentação, fazendo-a circular por escolas, bibliotecas e outros espaços culturais”, afirma Júlia Morim, coordenadora do Instituto Nômades.
“Cada imagem, cada texto que integra a exposição e o catálogo carregam elementos das outras imagens e textos, mas trazem também uma perspectiva singular que modifica a visão do todo, como um caleidoscópio, que a cada volta vai formando uma figura diferente a partir de elementos da anterior”, diz Dan Gayoso, também coordenadora do Instituto.
A exposição, que terá duração de sete dias em cada uma das localidades, ainda promove uma oficina de troca de saberes com a participação de parteiras tradicionais, estudantes e profissionais das áreas de saúde, educação e cultura, proporcionando o diálogo entre os saberes tradicionais e os técnico-científicos. “A ideia é tornar mais ativa a participação das parteiras tanto na montagem e envolvimento com as exposições, como também por meio de oficinas de trocas de saberes, fomentando o empoderamento e o reconhecimento das parteiras como representantes de um importante bem do nosso patrimônio imaterial”, explica Júlia Morim.
Na primeira temporada, a exposição passou pelo território indígena Pankararu e pelas cidades de Palmares e Caruaru.
O projeto - A exposição “Parteiras - Um Mundo pelas Mãos” foi concebida como um desdobramento de um projeto maior, que inclui os inventários “Saberes e Práticas das Parteiras Tradicionais de Pernambuco” e “Saberes e Práticas das Parteiras Indígenas de Pernambuco”. Os projetos, desenvolvidos entre os anos de 2008 e 2011, utilizaram a metodologia do Inventário Nacional de Referências Culturais (INRC), criada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), para identificar e registrar os saberes e as práticas de 225 parteiras de seis municípios e três etnias indígenas de Pernambuco como parte integrante do patrimônio cultural do Brasil. Esta e outras ações integram o Museu da Parteira, uma série de iniciativas de registro e promoção do ofício e de suas detentoras - um museu em processo.
Além de “devolver” os resultados às parteiras e aos municípios que participaram da pesquisa, a equipe do Instituto Nômades pretende que a ação contribua com a valorização e o reconhecimento dos saberes e práticas das parteiras tradicionais, bem como para a promoção da diversidade cultural brasileira. “Muitas pessoas acreditam que o ofício das parteiras está em extinção. O que não corresponde à realidade. Os inventários mostram que ainda existem muitas parteiras em atividade, inclusive em grandes metrópoles... Em muitos lugares está havendo o retorno do parto domiciliar”, explica Dan.
De acordo com Paula Viana, enfermeira obstétrica e parteira, a assistência ao parto e ao nascimento no Brasil não é homogênea. “Embora a maioria ocorra em ambiente hospitalar, partos domiciliares assistidos por parteiras tradicionais ocorrem no país, principalmente nas regiões Norte e Nordeste”, diz.
Mas engana-se quem pensa que apenas dificuldades financeiras ou de locomoção fazem com que parteiras sejam solicitadas. Mulheres em busca de uma vivência de parto mais respeitosa também têm buscado o serviço das parteiras tradicionais.
Da ASCOM
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