Um ano após o início da vacinação contra a dengue na rede pública do país, o número de pessoas que receberam ao menos uma das doses representa 37% do público-alvo definido pelo governo. Ao todo, foram imunizados 3,1 milhões das 8,3 milhões crianças e adolescente entre 10 e 14 anos que vivem nos 1.932 municípios que receberam a vacina. O Ministério da Saúde relata dificuldades para ampliar essa cobertura.
De acordo com integrantes da pasta, há dois grandes gargalos para ampliar o número de vacinados contra dengue no país. O primeiro é a limitação do laboratório em entregar doses suficientes que permita enviar a vacina para mais cidades e contemplar todas as crianças e adolescentes aptas a serem imunizadas no país. O segundo é a baixa procura nos postos de saúde.
O diretor do departamento do Programa Nacional de Imunização, Eder Gatti, diz que, em razão dos estoques, a pasta evita traçar metas de vacinação da população.
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"Você vai ter uma cobertura baixa, mas a gente não está trabalhando com isso. Estamos trabalhando com disponibilidade e expansão territorial. Se o laboratório tivesse capacidade de entregar, a gente já começaria com 100% dos municípios. A gente não consegue por limitação imposta pela capacidade do laboratório", afirma.
A estratégia do ministério, no entanto, tem esbarrado na baixa demanda. Até o dia 3 de fevereiro, 50,15% das 6,5 milhões de doses distribuídas foram aplicadas — contando a segunda aplicação, que precisa ser realizada três meses após a primeira.
Claudio Maeirovitch, médico sanitarista da Fiocruz de Brasília, explica que a quantidade de vacina disponível é suficiente para começar uma estratégia de vacinação, mas ainda com impactos tímidos, protegendo apenas quem recebeu o imunizante. O grande risco é que, em razão da baixa cobertura, a estratégia não seja suficiente no momento mais agudo da doença, entre os meses de fevereiro e junho.
"É preciso avaliar a situação de cada estado e município para que se projete que, caso não seja possível atingir boa cobertura vacinal até março e abril, que seja ampliada a faixa etária para a oferta da vacina ou que haja estratégia específica de vacinação", diz o especialista.
A pasta afirma que a escolha da faixa etária ocorreu seguindo resultados de estudos clínicos e os índices de internação. Apesar da bula permitir a vacinação de crianças de 4 e 5 anos e a Organização Mundial de Saúde recomendar a vacinação de 6 a 16 anos, são os adolescentes de 10 a 14 que são mais internados. Outras idades tiveram uma resposta tímida ao imunizante.
Público difícil
Historicamente, adolescentes são considerados um público crítico para aderir a campanhas de vacinação. No geral, por serem saudáveis e não terem doenças agudas, como bebês, e crônicas, como idosos, eles frequentam menos as unidades de saúde.
Para 2025, o Ministério da Saúde já comprou mais 9,5 milhões de doses da vacina da farmacêutica japonesa Takeda, única a produzir o imunizante atualmente. Elas começarão a ser distribuídas nas próximas semanas, segundo previsão da pasta, que seguirá um calendário mensal de envio aos estados.
A primeira remessa, de 300 mil doses, já está em solo brasileiro para ser distribuída. Atualmente, o Ministério da Saúde não estuda ampliar a faixa etária autorizada a receber as doses e vai priorizar ampliar os municípios contemplados com os imunizantes.
"Para este ano não há uma diferença importante entre uma concentração de vacina em poucos municípios ou em maior município, desde que se respeite áreas que historicamente têm tido ocorrência maior de casos e acompanhando índices de infestação, para que a gente saiba os locais de maior risco", explica Maeirovitch.
Retorno do tipo 3
Todo o planejamento do ministério, no entanto, pode ainda sofrer alteração em razão do retorno do tipo 3 da doença. Embora estivesse fora de circulação há mais de dez anos, especialistas apontam que a variante do vírus tem potencial de reverter o cenário epidemiológico previsto para 2025, de menos infecções do que em 2024.
Ao todo, existem quatro tipos de dengue, sendo o 1 o mais comum na população, responsável por 73,4% das infecções. O tipo 3, contudo, disparou em janeiro, especialmente nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Amapá e Paraná.
Associado ao ressurgimento do sorotipo 3, considerado um dos mais virulentos da dengue, uma segunda preocupação é o alto volume de casos registrados em 2024, já que segundas infecções podem ter evolução mais grave.
Diante desse cenário, o Ministério da Saúde reforçou ações de prevenção e vigilância, como a antecipação em cerca de um mês da instalação do Centro de Operações Emergenciais em Dengue, além do reforço na compra de vacinas, testes e inseticidas.
Fonte - Agência O Globo
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