Anticoncepcional é medicamento e não deve ser banalizado. O alerta é da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), após uma mulher de 22 anos de São Paulo ter uma trombose cerebral pelo uso do contraceptivo e expor o caso nas redes sociais. “Nenhum médico me alertou para o risco de trombose”, relatou Juliana Pinati, que passou 15 dias internada, sendo três deles na UTI. Em Pernambuco, as internações por trombose e embolia venosa, arterial e pulmonar têm subido vertiginosamente nos últimos cinco anos. Em 2011, foram 252 casos, contra 820 em 2015, um aumento superior a 220%. Neste ano já são 404 hospitalizações até junho.
No alerta da Anvisa, há explicações sobre os riscos da automedicação hormonal contraceptiva e na prescrição da pílula para mulheres com contraindicações. Orientação que a advogada Karina Barretto, 35 anos, não recebeu. “No início de 2015 eu estava sentindo uma dor forte do peito até a costela. Doía para respirar. Fui à emergência e o médico disse que era muscular. Fui medicada. Melhorou, mas não passou. Com o passar dos dias foi se agravando.”
Anderson Stevens/Folha de Pernambuco
Karina, 35, teve trombo no pulmão
Karina deu outras três entradas no hospital até o diagnóstico certo: embolia pulmonar. Depois de vários exames, foi localizado um trombo na altura do tórax que por pouco não a levou à morte. Sofreu enfarto em parte do pulmão esquerdo. Ela tinha utilizado pílula por mais de dez anos e havia histórico de embolia na família. Depois do susto, um teste específico atestou alteração de coagulação. A advogada terá que tomar anticoagulante por mais um ano.
A presidente da Associação dos Ginecologia e Obstetras de Pernambuco, Luiza Menezes, explica que todas as pílulas, umas mais, outras menos, alteram o perfil do colesterol. Com uma tendência a diminuir o bom colesterol e aumentar o colesterol ruim. Então todas têm essa ação aterogênica, uma ação que pode contribuir para o tromboembolismo. Essa ação é justamente a formação de placas, que podem se desgarrar e gerar o embolo, que forma o tromboembolismo. “Esse embolo pode se desgarrar para o cérebro, para o coração”, explica.
A especialista destacou que, além do risco natural da pílula, algumas mulheres têm chances aumentadas de desenvolver tromboembolismo (ver arte). “A banalização é um risco. Tanto para o anticoncepcional como para qualquer remédio”. A médica descartou a realização em massa de testes de rastreio para o tromboembolismo hereditário, exame caro e complicados de serem liberados, visto que a condição é rara, e pode ser verificada pela anamnese. A Anvisa não possui legislação que possa obrigar os médicos a notificarem eventos adversos relacionados a medicamentos, incluindo a pílula. Mas o cidadão pode informar reações adversas pelo Anvisa Atende (0800. 642. 9782).
Da Folha de Pernambuco
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