CRIME SEXUAL - POLÍCIA INVESTIGA SÉRIE DE ABUSOS CONTRA MENINAS EM ARARIPINA

Seis meninas do município de Araripina, no Sertão de Pernambuco, acusam o marido da proprietária do colégio onde estudam, no distrito de Nascente, de abusos sexuais. Ontem pela manhã, cinco das garotas foram trazidas até o Recife e submetidas a exame sexológico no Instituto de Medicina Legal (IML), em Santo Amaro, área central da cidade. A perícia indicará se houve estupro ou atentado violento ao pudor. De acordo com a delegada de Araripina, Lívia Maria Callou, o número de vítimas pode ser maior. “Há uma suspeita de que mais 15 crianças da comunidade tenham sido abusadas pela mesma pessoa”, informa.


O caso veio à tona no último sábado, 33 dias após a mãe da garota de 9 anos que ficou grávida de gêmeos do padrasto, em Alagoinha, Agreste do Estado, ter denunciado o companheiro. As meninas de Araripina – duas irmãs de 9 e 6 anos, duas primas de 8 e 6 anos e uma colega de 8 anos – também passaram por exames complementares no Instituto Materno Infantil Professor Fernando Figueira (Imip), na área central do Recife. Duas apresentavam problemas de infecção, por causa dos abusos.

Enquanto aguardavam atendimento no IML, as mães das estudantes, todas professoras de escolas municipais de Araripina, contaram o relato das vítimas. “Ele usava a filha adotiva, de 8 anos, para atrair as meninas até a casa dele, onde praticava os abusos”, disse a mãe de uma das garotas de 6 anos. O acusado, Jailson Alves Bezerra, 38, trabalhou um ano como motorista do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti).


Uma delas soube de tudo 15 dias atrás, quando as duas filhas recusaram-se a ir à escola. Ela levou as meninas até a casa da dona do colégio. Na conversa, a mais nova, de 6 anos, disse que sabia o que era abuso sexual, porque tinha visto uma reportagem na televisão sobre o assunto. “Nessa hora, a mais velha, de 9 anos, começou a tremer. A proprietária da escola falou: se alguém fizer isso com vocês, contem para mamãe, para a pessoa ser presa, porque isso é crime.” Depois de perguntar se deveria contar, mesmo se fosse um conhecido, a criança revelou que “o tio” fazia isso com elas.

“Minha filha disse que ele massageava a vagina dela e pedia que segurasse o pênis dele. Ela é uma criança muito amada e vai superar tudo.” Isso teria acontecido uma vez, no ensaio para o desfile de 7 de Setembro de 2008. “Ele dizia que era carinho de pai e minha filha afirma que ele fez o mesmo com a filha dele, antes de abusar dela, num quarto com a porta fechada.” Em conversa com a mãe, outra menina, de 9 anos, afirmou que o acusado teria abusado de quatro crianças num mesmo dia. “Ele pegava nas genitais da menina com uma mão e com a outra segurava o pênis até ejacular.”


Com lágrimas escorrendo pelo rosto, a mãe da garota de 8 anos estava revoltada. “Não convivo com o pai da minha filha e ele sempre a tratou muito bem. Era a referência paterna e eu era grata por isso. Ele dava brinquedos, chocolate, levava ao parquinho. Estava fora de suspeita. Agora, quero justiça.” A mãe das duas irmãs disse que a mais velha, de 9 anos, sofria abusos desde os 7. O acusado fugiu no sábado, após ser formalizada a primeira queixa.

Justiça decreta prisão preventiva de acusado

A prisão preventiva de Jailson Alves Bezerra foi decretada ontem à tarde pela Justiça. “Continuamos as buscas, mas ainda não o localizamos”, informa a delegada Lívia Maria Callou. Segundo ela, o acusado trabalha como apicultor. “Não efetuamos a prisão em flagrante porque as mães demoraram a fazer a denúncia.”
Hoje, com o retorno das vítimas para Araripina, ela continua a ouvir as meninas e os responsáveis por elas. Até ontem, a delegada tinha cinco inquéritos instaurados. “A sexta vítima nos procurou hoje (ontem), encorajada pelas demais, mas ainda não formalizou a queixa”, diz.

A esposa do acusado prestou depoimento quarta-feira. “Ela foi intimada, disse que desconhecia os abusos e está sob efeito de medicamentos. Há indícios de que a filha do casal também seja uma vítima, mas a menina nega que tenha sido violentada pelo pai”, declara Lívia Callou.

Conforme a delegada, anos atrás o acusado teria abusado de outra menina de Nascente, distrito com 15.000 habitantes, distante 48 quilômetros da cidade de Araripina. “A esposa disse que desconhecia esse fato.”

As mães reforçaram que acreditam na proprietária da escola. As meninas vieram ao Recife com a conselheira tutelar de Araripina, Cícera de Carvalho. “Ninguém esperava por isso, ele é uma pessoa esclarecida, criado na comunidade”, diz ela.

O gestor da Gerência de Polícia da Criança e do Adolescente (GPCA), Zanelli Alencar, acompanhou as famílias no Recife, para agilizar os procedimentos. “É fundamental acreditar nas crianças, não conheço uma, abaixo de 12 anos, que tenha inventado uma história dessa.” Antes do IML no Recife, as meninas foram submetidas a exames em Araripina e Petrolina. Como não havia peritos ginecologistas, passaram pelo terceiro exame, na capital. O resultado fica pronto em 20 dias. De acordo com as mães, muitas crianças foram tiradas da escola, após o escândalo ser revelado.

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FONTE-JC