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segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

SÃO BENTO DO UNA - ESPERANÇA DE ÁGUA E UM GOLPE NA CAATINGA

A instalação da Barragem São Bento do Una embora deve contribuir para a regularização do abastecimento para mais de 80 mil pessoas nos municípios de São Bento do Una e Capoeiras, no Agreste pernambucano. Isso exigirá a supressão de 101,15 hectares de Caatinga. Para se ter ideia da proporção, o quantitativo é equivalente a mais de cem campos de futebol.

O cenário se torna ainda mais preocupante, visto que a barragem vai ocupar Áreas de Preservação Permanente (APPs) de um ecossistema frágil e importante para a manutenção da biodiversidade que nele habita. Só de área florestada ainda protegida às margens do rio Una restam apenas 8% e, na bacia como um todo (incluindo afluentes) sobra 6,8% APPs , segundo o Centro de Pesquisas Ambientais do Nordeste (Cepan).

O diretor de projetos do Cepan, Severino Ribeiro, avalia que, apesar de a obra servir para trazer segurança hídrica aos dois municípios, que hoje dependem de fornecimento por meio da Adutora de Pau Ferro, em Quipapá, não entrou no cálculo da gestão estadual os serviços socioambientais que as APPs proporcionam.

Na prática, suprimir esse ecossistema contribui para o assoreamento, a desproteção do solo, a perda da manutenção do volume hídrico e o avanço das frentes de desertificação. “As APPs se destinam a proteger solos e, principalmente, as matas ciliares. Esse tipo de vegetação cumpre a função de proteger os rios e reservatórios de assoreamentos, evitar transformações negativas nos leitos, garantir o abastecimento dos lençóis freáticos e a preservação da vida aquática”, reforça.

Por lá podem ser encontradas espécies características do bioma, como imburana-de-cheiro, angico-de-caroço, mulungu, jurema-preta e branca, catingueira, juazeiro, marmeleiro-branco, quixabeira, aroeira-do-sertão, baraúna, umbuzeiro, mororó, pau-ferro, pinhão-bravo e feijão-bravo, além das não nativas aveloz e algaroba.

“Vai se extinguir toda uma floresta madura e, consequentemente, toda uma fauna endêmica”, afirma o professor Felipe Melo, do Departamento de Botânica da UFPE. 

“Fora que não há uma clareza de como se dará a compensação, onde será e quais métodos serão usados para compensar. Mas é assertivo dizer que, mesmo que haja replantio, e se houver, a agressão é irreparável. Você estará mexendo num bioma intacto para tentar compensá-lo em outro lugar. É o mesmo que trocar laranja por banana”, compara.
A Agência Estadual do Meio Ambiente (CPRH), que acompanhará todas as fases técnicas da obra, informa por meio de nota que “o projeto de reposição florestal ainda não foi apresentado à CPRH e que a autorização só será emitida após aprovado o projeto e assinatura de termo de compromisso para execução”.

O órgão ambiental também acrescenta que “deverá, preferencialmente, ser compensada com a preservação ou recuperação de ecossistema semelhante, sendo no mínimo correspondente à área degradada, e que garanta a evolução e a ocorrência dos processos ecológicos, anteriormente à conclusão da obra”.

Por fim, esclarece que “assim que chegar à CPRH lei autorizativa aprovada pela Assembleia Legislativa, com os termos que já foram analisados pelo corpo técnico da CPRH, estará sendo cumprida uma das exigências para a supressão em APP, restando a apresentação e análise do projeto”.

Barragem

Orçada em R$ 54,5 milhões (recursos da Secretaria de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco e do Ministério da Integração Nacional), a Barragem São Bento do Una terá capacidade para acumular 18 milhões de metros cúbicos de água, beneficiando 82 mil habitantes de São Bento do Una e Capoeiras.

Uma adutora com 18 quilômetros de extensão complementará a obra. A Secretaria está realizando os trâmites para convocar a segunda empresa candidata na licitação para executar, ainda neste semestre, as obras em São Bento do Una, já que a primeira desistiu “por motivos internos”.

Da Folha de Pernambuco

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