Um acidente vascular cerebral (AVC), também chamado de derrame cerebral, pode deixar diversas sequelas a longo prazo, entre elas o comprometimento motor de membros como o braço, impactando a autonomia do paciente durante as atividades diárias.
Um acidente vascular cerebral (AVC), também chamado de derrame cerebral, pode deixar diversas sequelas a longo prazo, entre elas o comprometimento motor de membros como o braço, impactando a autonomia do paciente durante as atividades diárias.
Ainda não há tratamento que consiga reverter a paralisia crônica, porém pesquisadores das Universidades de Pittsburgh e Carnegie Mellon, ambas nos Estados Unidos, descobriram que um determinado estímulo elétrico na medula espinhal consegue devolver parcialmente a mobilidade ao braço e à mão de pacientes com a sequela.
Em estudo publicado nesta segunda-feira na revista científica Nature Medicine, os cientistas mostraram que a tecnologia desenvolvida por eles melhorou instantaneamente a movimentação de dois participantes que fizeram parte dos primeiros testes da novidade em humanos.
A tecnologia consiste em um par de eletrodos finos, comparáveis a fios de espaguete, que foram implantados ao longo do pescoço dos pacientes para envolver circuitos neurais que permanecem intactos após o derrame.
“Os acidentes vasculares cerebrais podem interromper os comandos descendentes das áreas corticais motoras para a medula espinhal, o que pode resultar em déficits motores permanentes do braço e da mão. No entanto, abaixo da lesão, os circuitos espinhais que controlam o movimento permanecem intactos e podem ser alvo de neurotecnologias para restaurar o movimento”, explicam os autores do estudo na publicação.
Os eletrodos emitem pulsos elétricos que ativam as células nervosas do local. Nos testes, isso permitiu que os voluntários abrissem e fechassem totalmente o punho, levantassem o braço acima da cabeça e utilizassem um garfo e uma faca para se alimentar pela primeira vez em anos.
"Descobrimos que a estimulação elétrica de regiões específicas da medula espinhal permite que os pacientes movam o braço de maneiras que não seriam capazes de fazer sem a estimulação. Talvez ainda mais interessante, descobrimos que, após algumas semanas de uso, algumas dessas melhorias perduram quando a estimulação é desligada, indicando caminhos empolgantes para o futuro das terapias de AVC", explica um dos autores do estudo Marco Capogrosso, professor de cirurgia neurológica da Universidade de Pittsburgh, em comunicado.
No estudo, os dois voluntários participaram de diversos testes que avaliaram a realização de tarefas de diferentes complexidades, como mover um cilindro de metal, pegar objetos domésticos comuns e abrir uma fechadura. Os resultados mostraram que a estimulação elétrica teve um efeito praticamente imediato em melhorar a força, a amplitude do movimento e a função do braço e da mão.
De forma inesperada, os cientistas observaram ainda que os efeitos mantiveram-se mesmo após a remoção dos eletrodos, aparentando serem mais duradouros do que eles pensavam. Agora, os pesquisadores estão recrutando mais pacientes para ampliar a pesquisa e otimizar os protocolos para diferentes níveis de gravidade da sequela.
Os pesquisadores explicam que tecnologias semelhantes já são utilizadas para tratar dores crônicas de alta intensidade, e que diversos cientistas de uma série de países têm avançado em estudos que empregam a técnica para restaurar o movimento das pernas após uma lesão na medula espinhal.
Capogrosso destaca ainda que se trata de um protocolo fácil de utilizar, uma vez que adapta “tecnologias clínicas existentes aprovadas pela FDA (agência reguladora dos EUA) que podem ser facilmente traduzidas para o hospital e rapidamente movidas do laboratório para a clínica”.
"É importante ressaltar que o paciente mantém o controle total de seus movimentos: a estimulação é assistencial e fortalece a ativação muscular apenas quando os pacientes estão tentando se mover”, frisa o também autor do estudo, e professor de engenharia mecânica no Instituto de Neurociências da Carnegie, Douglas Weber.
A professora de medicina física e reabilitação da Universidade de Pittsburgh, Elvira Pirondini, ressalta que a criação de soluções para pessoas com sequelas que comprometem o movimento após um derrame tem se tornado um objetivo “cada vez mais urgente”.
“Mesmo déficits leves resultantes de um derrame podem isolar as pessoas da vida social e profissional e se tornar muito debilitantes, com deficiências motoras no braço e na mão sendo especialmente desgastantes e impedindo atividades diárias simples, como escrever, comer e vestir-se”, diz a especialista.
Fonte - Agência O Globo
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