Um avião bimotor, modelo King Air B200, que retornava de Teresina, no Piauí, com dez pessoas a bordo, a maioria empresários pernambucanos, caiu às 11h15 de ontem, no bairro de San Martin, na Zona Oeste do Recife, e por pouco não provocou um dos maiores acidentes aéreos da história de Pernambuco. O piloto morreu na hora e um dos passageiros, a caminho do hospital. As outras oito pessoas ficaram feridas, uma delas em estado grave. O número de mortos e feridos, entretanto, não foi maior graças à habilidade do piloto. Os 25 anos de experiência permitiram que salvasse diversas famílias que passavam o domingo em casa, nas estreitas ruas do bairro, com 23 mil habitantes. Sete casas foram atingidas, mas havia moradores em apenas duas delas. Uma dona de casa sofreu arranhões leves. O piloto Eurico Pedrosa Neto, 47 anos, que quebrou o pescoço no acidente, conseguiu jogar o bimotor quase no meio da Rua Imbituba, uma via estreita de terra com muitas casas humildes. Conseguiu desviar de dezenas de imóveis, evitando uma tragédia. Mesmo assim, o bimotor destruiu parcialmente o primeiro andar de duas residências e o telhado de outras quatro situadas nas Ruas Imbituba e Mineirolândia. Com o impacto, o avião se partiu. O trem de pouso e destroços da aeronave foram lançados a uma distância de 20 metros, caindo no quintal de duas casas. Parte do motor ficou no primeiro andar da segunda residência atingida. O piloto Eurico Neto ficou desfigurado com a queda e o corpo permaneceu por quase três horas no interior do bimotor, até a chegada dos peritos do Instituto de Criminalística (IC) e da equipe do Instituto de Medicina Legal (IML). O produtor financeiro da Banda Calypso, José Gilberto Silva, 46, morreu a caminho do Hospital Getúlio Vargas, no bairro vizinho do Cordeiro. Os feridos são o piloto Bruno Carvalho Carneiro, 29, que não estava de serviço, Luiz Augusto Nóbrega de Oliveira, 53, um dos sócios do Chevrolet Hall e empresário de várias bandas, como a Calypso e Capim Cubano, o deputado federal Eduardo da Fonte (PP-PE), 36, Rogério Paes e Silva, 40, produtor de eventos, Helena Lúcia Ferreira, 40, prima de Rogério Paes, Valmir João Oliveira, 42, empresário, Eduardo Henrique Rocha do Ó, 35, um dos donos do Hospital Alfa, e Davidson Tolentino de Almeida, 37, chefe de gabinete do Metrorec e assessor do deputado Eduardo da Fonte. O único em estado grave é o empresário Valmir João Oliveira, internado no Hospital Santa Joana com um coágulo no cérebro e problemas no pulmão e na região abdominal. San Martin se transformou num cenário de guerra. As pessoas corriam de um lado para o outro, desesperadas. Algumas assustadas, outras ansiosas por socorrer as vítimas. Muitas, inclusive, com medo de se aproximar pelo risco de o avião explodir. Testemunhas do acidente contaram que um dos passageiros chegou a ser lançado fora da aeronave, com os pés machucados. Os que conseguiram sair do avião, sangravam muito e caíram no meio da rua, pedindo socorro. “Foi desesperador. Eu estava em casa, quando ouvi aquele som surdo, de alguma coisa caindo. Pelo jeito, o motor do avião já não funcionava porque não fazia barulho. Logo em seguida, um estrondo forte. Quando corri para ver o que era, vi o bimotor pegando fogo. De imediato, só pensei em sair de casa e socorrer as pessoas”, contou a professora Madjane Pereira, 43, que mora na Rua Imbituba, em frente às casas atingidas no acidente. Com o impacto da queda da aeronave, as janelas da residência da professora se quebraram.
SOLIDARIEDADE
O técnico em enfermagem Rômulo Batista, morador do bairro, foi um dos primeiros a chegar ao local e confessou nunca ter visto tamanho sofrimento. “Ouvi o barulho da queda e, assim que soube se tratar de um acidente aéreo, corri para prestar socorro às pessoas. Foi difícil ver tanta dor. Ajudei a tirar o co-piloto do avião e a todo instante ele me pedia para salvar o piloto, amigo dele, que, infelizmente, estava morto”, contou. O princípio de incêndio no bimotor foi controlado pelos moradores com baldes de água. No desespero para retirar os feridos, eles quebraram os vidros da aeronave com pedras e cabos de madeira. Apesar da agonia dos feridos, algumas pessoas aproveitaram o episódio para saquear pertences das vítimas. Malas foram roubadas. Em uma delas, apreendida pela polícia, havia R$ 5 mil, US$ 800 e 800 euros. A causa mais provável do acidente é o que entre os pilotos chama-se de pane seca, ou seja, falta de combustível. “Acreditamos que o avião ficou sem combustível porque os motores pararam e, ao cair, não explodiu. Agora, panes aéreas podem ser provocadas por várias coisas. É preciso investigar”, afirmou um dos muitos pilotos amigos de Eurico que estiveram no local. O avião é de propriedade do cantor Chimbinha, guitarrista da Calypso, mas há oito meses foi arrendado à empresa de táxi aéreo Exclusive Fly, do Recife. Segundo a assessoria de imprensa da banda no Recife, a responsabilidade sobre a aeronave é da empresa. A reportagem do JC não conseguiu falar com a Exclusive Fly. O bimotor saiu do Recife sábado, com destino a Teresina, para um show da Banda Calypso, do cantor Daniel e da dupla sertaneja Zezé de Camargo e Luciano. Levou como passageiros Rogério, Luís Augusto, Gilberto e Helena. Bruno acompanhava o piloto. Ao retornar, ontem pela manhã, trouxe de carona o deputado Eduardo da Fonte, Davidson, Valmir Oliveira e Eduardo do Ó. Os caronas estavam na festa de aniversário do deputado federal piauiense Ciro Nogueira (PP-PI), candidato à presidência da Câmara Federal. Por serem amigos, resolveram voltar no mesmo vôo.
Veja mais imagens chocantes no slide abaixo.
Fonte-JC
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