A raiva é uma doença endêmica no Brasil, o que significa que ela está presente no país inteiro. Apesar disso, os casos são considerados poucos. Em Pernambuco, por exemplo, foram registradas 27 ocorrências em 2025. Todas em animais. Neste domingo, 28 de setembro, é instituído o Dia Mundial Contra a Raiva.
Por conta da baixa incidência, muitas pessoas podem pensar que não é preciso tomar tanto cuidado. Elas não poderiam estar mais erradas. Segundo o diretor-geral de Vigilância Ambiental, Eduardo Bezerra, a raiva só não está fazendo mais vítimas por conta de estratégias de saúde utilizadas para prevenir a ação do vírus.
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“A gente não pode dizer que a raiva tem pouco perigo para a população, pelo contrário. A raiva é um perigo em qualquer local do mundo. Onde se tem circulação do vírus ele é um perigo. Não identificamos mais casos porque temos uma situação de investigação muito forte. A gente faz identificação dos casos, aplicação da vacina em tempo hábil, localização de casos. São serviços preparados, um tipo de cobertura que faz com que tenhamos menos contato com a raiva, mas ela é um perigo sim. Tanto é que tivemos o caso de Santa Maria do Cambucá no início do ano”, explicou o diretor.
Infectada em 2024 por um sagui, uma mulher de 56 anos natural de Santa Maria do Cambucá, no Agreste de Pernambuco, morreu em janeiro de 2025 após batalhar contra a raiva no Hospital Universitário Oswaldo Cruz da Universidade de Pernambuco (HUOC/UPE).
Ela foi um exemplo do quanto a doença é letal. Para não dizer que a ciência é feita de certezas, se diz que a raiva tem letalidade de quase 100%.
Medidas pré-exposição
A principal estratégia para quebrar o ciclo de transmissão no ambiente urbano e proteger a população urbana é a vacinação anual de cães e gatos.
“A vacinação de cães e gatos faz uma cobertura de proteção na população,através da imunização de animais domésticos, que são os que temos mais contato, gato e cachorro. Esse é o método mais efetivo que a gente tem,” explicou Bezerra.
A vigilância ambiental também atua no monitoramento do ciclo silvestre, realizando a chamada "vigilância episódica". Isso envolve o recolhimento e o monitoramento de saguis e morcegos encontrados mortos, a fim de verificar se a circulação do vírus está próxima da zona urbana. Além disso, em áreas onde se identifica a raiva (por exemplo, após um caso em raposa), a Vigilância Ambiental se concentra em ficar mais atenta à população de animais de corte, como ovinos, caprinos e bovinos, que também desenvolvem a doença.
O baixo número de óbitos por raiva humana em Pernambuco, que passou oito anos entre um caso e outro, é uma prova de que a rede de saúde funciona de forma eficaz.
“A grande questão é que a gente tem um sistema que funciona muito bem, que exige muito trabalho e tem muita gente envolvida. Se ele não funcionasse, a gente teria muito mais mortes por conta da raiva nesse período, muito mais. Com certeza.” contou Eduardo Bezerra.
Transmissão
O vírus é transmitido através da saliva de animais infectados. Uma vez no organismo, ele atinge o sistema nervoso central e se dissemina para vários órgãos e glândulas salivares.
A transmissão é classificada em três ciclos principais: o Urbano, representado sobretudo por cães e gatos; o Rural, que envolve animais de produção como bovinos, equinos, suínos e caprinos; e o Silvestre, que inclui raposas, guaxinins, primatas e, principalmente, morcegos.
É importante ressaltar que animais vacinados não transmitem a raiva. Então, mordidas do seu pet em casa não são perigosas se ele estiver imunizado.
Além disso, a ideia de que o animal deve ser sacrificado quando há a suspeita ou confirmação de raiva é equivocada. Nesses casos, o contato é extremamente arriscado, até porque a tentativa de eutanásia do animal infectado pode transmitir a doença ao profissional que a realiza.
"Quando um animal, como um cão, é contaminado, ele, infelizmente, não vai durar muito tempo. O vírus da raiva afeta a musculatura, especialmente a da face, o que impede o animal de comer ou beber. Animais infectados, depois que apresentam sintomas, não vivem muito tempo por conta do vírus mesmo. Em vez de sacrificar, a recomendação da saúde é isolar o animal e evitar o contato", explicou Eduardo Bezerra.
Medidas pós-exposição
A exposição ao vírus, contudo, pode ser contida se a vacina for aplicada em tempo hábil. Por isso, existe a recomendação de procurar vacina antirrábica após a possível exposição ao vírus. A profilaxia antirrábica pós-exposição, que inclui a aplicação da vacina e/ou soro, deve ser iniciada o mais rápido possível.
Não há um prazo máximo especificado para a aplicação da vacina, mas a eficácia do tratamento depende criticamente de sua administração antes do aparecimento dos sintomas. O período de incubação do vírus em humanos é extremamente variável, com uma média de 45 dias, podendo ser de apenas alguns dias ou até anos.
Uma vez manifestados os sintomas (como fraqueza, febre, dor de cabeça, alucinações e espasmos musculares involuntários), a doença é fatal.
A recomendação fundamental, portanto, é que, após lavar o ferimento com água e sabão e aplicar um antisséptico, a pessoa procure imediatamente uma unidade de saúde. O sistema de saúde fará a avaliação do ferimento e indicará a aplicação da vacina e/ou soro. É crucial cumprir os prazos da vacina e seguir as recomendações do profissional de saúde, pois os insumos são "muito efetivos" se "feitos direitinho no tempo certo". A falha nesse acionamento ou na interrupção do tratamento (não tomar o soro, por exemplo) pode permitir que a doença se desenvolva, levando ao óbito.
O que fazer?
Para comunicar a suspeita de um animal com raiva ou solicitar a apreensão segura de um animal suspeito, é preciso entrar em contato com a vigilância sanitária municipal.
Após a exposição, é preciso procurar um posto de saúde, policlínica ou centro de referência em vacinação que tenha a vacina antirrábica. O mais próximo primeiro.
Vacinação Preventiva
Pessoas que têm maior risco de exposição (como médicos veterinários, estudantes de veterinária e zootecnia, e profissionais que trabalham com proteção animal) podem procurar serviços de saúde para receber a vacinação preventiva, que está disponível em locais como os Hospitais Regionais no interior ou unidades de referência em vacinação.
Por Maria Priscila Martins - Folha de Pernambuco
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