O presidente Luís Inácio Lula da Silva (PT) não vive o melhor momento aos olhos do povo - pelo menos é o que revela as pesquisas divulgadas nas últimas semanas por institutos como Datafolha, Ipec, AtlasIntel e Quaest. Desde o início de março, a popularidade da gestão do petista registrou queda, chegando a marcar 46% nos cenários mais pessimistas. O saldo ainda é positivo, mas a diferença cada vez menor pode prejudicar tanto o presidente, quanto seus aliados.
A última pesquisa do Datafolha, divulgada na última quinta-feira (21), revelou que 58% dos brasileiros acreditam que Lula não está alcançando as expectativas prometidas, e fez menos do que esperavam, registrando um aumento de um ponto percentual comparado a dezembro do ano passado. O levantamento foi feito com 2.002 pessoas de 147 municípios. O mesmo estudo também mostrou a aprovação e rejeição do petista tecnicamente empatada, com 35% contra 33%, e 30% considerando a gestão “regular”.
Como de praxe, Lula é preterido por homens, evangélicos, escolarizados e pessoas com renda familiar de cinco a dez salários mínimos, enquanto entre mulheres, nordestinos, católicos e pessoas com renda menor a cinco salários mínimos, a variação nos índices de aprovação não viu o mesmo impacto.
Segundo levantamentos do Ipec, AtlasIntel e Quaest registrados ao longo do mês, a rejeição a Lula chegou, respectivamente, a 32%, 41% e 34%, em questionários com as respostas “bom ou ótimo”, “regular” e “ruim ou péssimo”. Analisando apenas a dicotomia ‘bom’ e ‘ruim’, a Quaest revelou uma aprovação de 51% contra rejeição de 46% em fevereiro - uma diferença de cinco pontos percentuais, a menor da série histórica - enquanto a PoderData marcou 45% de desaprovação em março.
Em discurso, o presidente da República compreendeu as críticas e opiniões negativas ao seu governo, e reconheceu que não estava entregando o que havia prometido, mas justificando que este ano é o momento de colher os frutos do trabalho realizado no primeiro ano de seu terceiro mandato. “Eu estou aquém do que o povo esperava que eu estivesse, eu não estou cumprindo aquilo que prometi, e eu tenho conhecimento disso. É esse ano que vamos começar a colher tudo o que prometemos”, garantiu.
Causas
A popularidade decrescente do presidente não é resultado de apenas um problemas simples, mas produto de múltiplas polêmicas vividas pela gestão neste início de ano. A população tem observado uma alta no valor dos alimentos, cuja justificativa frequente tem sido as mudanças climáticas e a chegada do El Niño, que castigou a safra brasileira. O aumento nos preços do combustível também pesou no bolso do brasileiro - em fevereiro, a gasolina chegou ao maior valor em 17 semanas.
Para o cientista político Alex Ribeiro, esses fatores são os principais incômodos do perfil de eleitor que Lula mais precisa conquistar. “Os regimes de trabalho estão diferentes do contexto do segundo governo Lula. Isso pode ser uma das justificativas para a mudança de posição do eleitorado. Questões como a subida de preços de alimentos ou combustíveis são motivos para mudança de postura do eleitor voltado mais ao centro, ou seja, aquele que não abraça a causa petista, nem os discursos da direita ou extrema-direita do Brasil. Esse eleitor indiferente a essas causas ideológicas representa quase 40%”, analisa.
As falas de Lula sobre o conflito em Gaza também dividiu opiniões, deixando o petista num holofote negativo na mídia. Em fevereiro, o presidente chegou a comparar as ações militares de Israel às da Alemanha Nazista durante o Holocausto, desagradando o primeiro-ministro sionista Benjamin Netanyahu, e parte da opinião pública. A cientista política Priscila Lapa analisa que uma questão internacional impactando tão fortemente a popularidade de Lula se dá por uma mudança da participação política do eleitor.
"Uma fala como essa, que poderia ficar segmentada especificamente a um conjunto da população que é mais atento e sensível a pautas dessa natureza e às relações internacionais, e parece que teve um efeito mais massivo do que se poderia imaginar. Não podemos subestimar esse perfil do eleitor evangélico que foi fortemente impactado por essa fala. Os caminhos de formação da opinião pública em 2024 são diferentes do que o presidente estava acostumado a lidar"
“Os especialistas têm observado que há um descolamento entre a economia e a avaliação do presidente. É uma tendência que vem acontecendo desde a pandemia, e nos últimos anos é como se os referenciais para avaliar o governo por parte do eleitor estivessem se deslocando para outras questões. E ainda não houve um acerto da pauta econômica que possa reverberar no cotidiano da população. O cidadão só vê o encurtamento da renda”, completou.
Ano de eleição
A popularidade oscilante de Lula pode repercutir nas eleições municipais. Hoje, o petista é o principal cabo eleitoral em diversos estados brasileiros, e quanto menor a distância entre os índices de aprovação e rejeição, menos o seu apoio agrega à chapa. Para Alex Ribeiro, essa questão se torna mais preocupante nas regiões mais polarizadas do Brasil, em que as figuras protagonistas do âmbito nacional ainda dominam o debate, mas pode não ser um problema para municípios com personalidades mais autônomas no pleito.
“Dependendo da região, a polarização pode contribuir significativamente para o pleito, mas na maioria dos casos, as eleições locais são voltadas aos problemas destes espaços. É um pleito no qual, muitas vezes, o eleitorado se identifica mais porque estão em questão os problemas do seu município, que o atingem mais diretamente”, afirma.
Por Guilherme Anjos - Diário de Pernambuco
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