A busca por mudanças nas matrizes energéticas vem ganhando força em Pernambuco. Nas indústrias do Sertão do Araripe, esta substituição tem percorrido um caminho moroso, partindo da origem elétrica hidráulica para a solar e, mais recentemente, com a troca da lenha pelo Gás Natural Liquefeito (GNL). Nesta terça-feira, a governadora Raquel Lyra vai ao município de Araripina, a 700 km do Recife, para anunciar investimentos e a chegada da rede da Copergás para o polo gesseiro. O setor conta com cerca de 700 empresas formalizadas, incluindo 50 mineradoras e mais de 15 mil postos de trabalho.
De acordo com o presidente da Federação das Indústrias de Pernambuco (Fiepe), Ricardo Essinger, o panorama de fontes mais limpas e sustentáveis é positivo. Contudo, ainda precisa ser aliado à necessidade de se tornar economicamente viável para quem produz. "Temos defendido e cobrado esta implantação, há mais de uma década, nos trazendo alegria esta pavimentação de caminho. O desafio que agarramos agora é o aprimoramento de tecnologias, com o objetivo de ajudar as empresas a se adaptarem e alcançarem melhores resultados. Não é uma mudança simples, mas que precisa ter este primeiro passo", explica.
Segundo o gestor, a chegada da rede de gás natural representa um avanço, atravessando o estado de uma ponta a outra. "A nossa perspectiva é de conseguir um produto melhor, com mais uniformidade, organizando as fábricas e impulsionando uma mão-de-obra mais qualificada, o que deve desencadear mais geração de renda. Cabe agora o apoio necessário para que tudo consiga, de fato, sair do papel", complementou Essinger, lembrando as carências estruturais das demais cidades envolvidas, como Trindade, Ipubi Ouricuri e Bodocó, que juntas somam mais de 260 mil habitantes.
Para o presidente do Sindicato das Indústrias do Gesso de Pernambuco (Sindusgesso), Jefferson Duarte, a decisão gera expectativa. “Estamos diante de uma grande virada de chave para o setor. Entendemos que já estamos no limite do consumo de lenha e precisamos nos alinhar. No entanto, apenas a vinda do gás não consegue sanar os demais entraves que enfrentamos, como o peso tributário, dificuldades para escoar a produção e até problemas de força de trabalho. Esta migração demanda dinheiro e larga mudança física. Não tivemos ainda acesso a quanto de recurso seria necessário, pois não conhecemos os tipos de equipamentos. Mas, já enxergo que 90% das empresas que hoje operam não conseguiriam arcar com esse investimento”, diz.
O governo do estado afirma que o apoio aos empreendedores deve ir além, incluindo linhas de crédito específicas e canais para facilitação. “Prezamos por um desenvolvimento sustentável, trabalhando sob todos os aspectos. Não adiantaria chegar apenas com uma mão, descobrindo a outra. O propósito é também incluir incentivos fiscais e todo um pacote de ações para que as empresas consigam saltar, fazer suas aquisições, mas também caminhar sozinhas. Tudo está sendo tratado com prioridade pela governadora e desenhado sempre com muito diálogo com quem está na ponta”, afirmou o diretor-presidente da Agência de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco (Adepe) André Teixeira, sem revelar o volume de investimentos.
- Madeira escassa e gás ainda distante
A produção do gesso em Pernambuco é responsável pelo abastecimento de 80% do país, segundo números do setor. O especialista em produção gesseira, Werson Kaval, explica que a medida é um caminho sem volta. “Hoje já percebemos que, em um raio de pelo menos 200 km, já não se encontra madeira nativa para poder abastecer as empresas, que ficam na dependência exclusiva desta linha para poder calcinar a gipsita para virar gesso. Existe uma carência de um plano de manejo florestal. Para se ter uma ideia da escassez, a matéria-prima tem vindo de lugares cada vez mais distantes, como o Piauí”, revela o consultor, que promove estudos com 14 mineradoras e calcinadores do Sertão.
A solenidade com Raquel Lyra acontece no Centro Tecnológico do Araripe (CTA), localizado em Araripina. A iniciativa vem sendo capitaneada pela deputada estadual Socorro Pimentel (UB), atualmente a única representante da região na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe). “Nós teremos duas vertentes importantes que vão ser beneficiadas. Primeiramente, o desenvolvimento econômico da região, colocando o nosso produto em pé de competitividade com o gesso oriundo de outras áreas do país, e teremos também a preservação do meio ambiente, algo certamente essencial. Então buscamos algo sustentável de verdade e este é um ponto central, irradiando crescimento para o estado como um todo”, afirmou a parlamentar.
Por Marcílio Albuquerque - Diário de Pernambuco
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