DOHA (CATAR) - Demorou, mas veio à altura. À altura do sonho do pequeno Lionel Andrés Messi que nascia um ano após o último título mundial da Argentina e que se transformou em realidade. Trinta e cinco anos depois. Praticamente o mesmo tempo que a albiceleste ficou sem conquistar o torneio. É como se o destino estivesse preparando uma nação para a redenção de um herói. Sim, herói. Não dá para usar um outro termo para descrever a carreira de Leo com a seleção argentina e a final da Copa do Mundo 2022 é uma prova disso.
A preparação não foi fácil. Regada às frustrações de quem bateu literalmente na trave nos mundiais de 1990 e 2014, ficando com o vice; à incredulidade de quem sucumbiu de forma precoce em 2002, sendo eliminada ainda na fase de grupos; à tristeza de quem não se conformava com os sucessivos fracassos, mesmo tendo o melhor jogador do mundo em campo; ao luto, de quem perdeu o melhor jogador da sua história.
Mas, aí veio a esperança de quem acreditava que o ‘melhor jogador da sua história’, agora, de algum lugar celestial, poderia emanar forças sobrenaturais e, por um elo, guiar o melhor jogador em campo a chegar na glória. E chegou. De forma mágica, brilhante, quase sobrenatural e, como quase sempre, dramática, mesmo que, no início, a ilusão tenha feito acreditar que não seria tanto assim.
O gol de pênalti de Messi aos 23 e o de Di Maria aos 36 minutos do primeiro tempo fizeram a atmosfera do “já ganhou” tomar conta das arquibancadas, sobretudo diante de uma ausência de reação por parte dos franceses que foram para o intervalo sem terem conseguido chutar uma única bola no gol de Emiliano Martínez. O retorno para a etapa complementar quase da mesma forma fez a torcida argentina gritar “Olé!” faltando 25 minutos para o apito final, afinal o placar de 2x0 deixava tudo sob controle.
O que poderia dar errado?
Os últimos 10 minutos do jogo chegaram como uma bomba nos jogadores e torcedores, seja os presentes ao Estádio Lusail ou os que estavam a mais de 13,2 mil quilômetros de distância dali, lotando as ruas de Buenos Aires. E essa bomba tinha nome, sobrenome e três fortes estágios de detonação.
O primeiro, aos 35 minutos, quando, de pênalti, Kylian Mbappé diminuiu o placar. O atacante francês sequer comemorou. Apenas correu até o fundo das redes para pegar a bola, chamou todo o time para o campo de defesa para que o jogo pudesse ser recomeçado. Parecia premeditar algo. No minuto seguinte, uma assistência por elevação do Thuram e a segunda detonação: Mbappé sequer deixou a bola tocar o chão e emendou um chute, causando uma explosão de alegria na torcida francesa e um banho de água fria nos argentinos.
Neste momento, tudo indicava que seria mais uma noite de fracasso, de frustração e de “quase”. O fim do tempo regulamentar e a ida para a prorrogação serviram para lembrar que havia alguém, em algum lugar, intercedendo por Lionel.
Aos três minutos do segundo tempo da prorrogação, Messi fez o segundo dele, colocou a Argentina na frente de novo a 12 minutos do fim. Agora, não teria mais como dar errado. No entanto, ainda faltava a terceira detonação da bomba Kylian: um pênalti, a dois minutos do fim da prorrogação. Mbappé marcou o terceiro gol dele no jogo, empatou a partida e é o segundo jogador a fazer um hat-trick em final de Copa do Mundo – o primeiro foi o inglês Geoff Hurst marcou três dos quatro gols da Inglaterra, na vitória por 4x2 diante da Alemanha, em 1966.
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Sequer esse feito histórico de Mbappé foi suficiente para tirar o brilho que estava sobre Messi. Era um brilho que transcendia o plano material. Lionel estava destinado a ser campeão.
Nos pênaltis, o 10 argentino abriu a sequência convertendo a primeira cobrança. Em seguida, o 10 francês deixou tudo igual. No empate entre os protagonistas, foi a vez do coadjuvante Emiliano Martínez que defendeu a cobrança de Coman. Dybala e Paredes abriram vantagem para os argentinos e Tchouameni bateu para fora. Agora, recaía sobre o lateral-direito Gonzalo Montiel, de 25 anos. Com a frieza de poucos veteranos, acabou de vez com o sofrimento e começava, a partir daquele momento, a felicidade eterna.
O último ato do capitão Lionel Andrés Messi com a camisa da seleção argentina em Copas do Mundo não poderia ser diferente. Após receber o prêmio de Bola de Ouro, como o melhor jogador do mundial, uma rápida ‘paquerada’ no objeto mais desejado da noite. Um beijo que fez todos entenderem que ele voltaria já para pegá-la. Voltou.
Com a taça da Copa do Mundo em mãos, Messi ergueu como se estivesse pondo à contemplação de Diego. Argentinos no Estádio Lusail, em Buenos Aires ou em qualquer lugar da face da terra sentiram o mesmo. Todos estão conectados através da terceira estrela albiceleste.
Por Victor Pereira - Folha de Pernambuco
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