quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

ELEIÇÕES 2022 - AS PESPECTIVAS PARA O ANO ELEITORAL MAIS DISPUTADO DESDE 1989


Com o encerramento da CPI da Pandemia e o esfriamento dos protestos contra Jair Bolsonaro (PL), o debate eleitoral assumiu a primeira posição na pauta da política brasileira. O resultado de 2022 será determinante para o futuro do país.

Especialistas apontam que a eleição presidencial do próximo ano deve ser a mais concorrida desde 1989. Naquele ano, houve recorde de candidatos ao cargo mais importante da República (22). Às vésperas de mais um ano eleitoral, doze políticos já lançaram (e mantiveram) suas pré-candidaturas.

No momento...

De acordo com as últimas pesquisas realizadas, o ex-presidente Lula (PT) é favorito para receber a faixa presidencial na próxima sucessão, pontuando com mais de 40%. O atual presidente, Bolsonaro, vem ocupando a segunda posição, na casa dos 20%. Bem atrás do atual e do ex-mandatário, figura Sergio Moro, ex-juiz da Operação Lava Jato e recém filiado ao Podemos. Há mais tempo na corrida, Ciro Gomes (PDT), que outrora esteve na terceira colocação, perdeu lugar para Moro e hoje possui menos de 10% das intenções de voto. Os demais candidatos, como André Janones (Avante), João Doria (PSDB) e Rodrigo Pacheco (PSD), têm 5% ou menos.

Desde que foi instituída, em 1997, através de emenda parlamentar, a reeleição premiou todos os chefes de governo que disputaram um segundo mandato. Fernando Henrique (PSDB), Lula e Dilma (PT) se mantiveram no cargo quando foram testados nas urnas; o declínio de Bolsonaro nos levantamentos atuais indica um destino diferente para o presidente?

Juliano Domingues, mestre e doutor em Ciência Política, lembra que dados obtidos recentemente evidenciam uma quantidade importante de eleitores que está longe de tomar uma decisão. “A última pesquisa CNT/MDA, por exemplo, mostra que um percentual bem razoável dos eleitores, algo em torno de 40%, diz que ainda não decidiu em quem vai votar. 25% dizem que só vão decidir depois do início do guia eleitoral e dos debates, e 15% dizem que só vão decidir uma semana antes das eleições.”

“Então, isso acaba conferindo ao processo um grau de incerteza ainda muito grande. Mas, pelo menos diante dos dados disponíveis até esse momento, tudo indica que haverá uma dificuldade razoável para o presidente vencer a eleição”, completa.

Com presença incontornável nos mais diversos âmbitos das nossas vidas, a internet chegou para ficar na política. Com potencial democratizante, a ferramenta também expôs a capacidade de ameaçar instituições e processos democráticos. Em 2018, as eleições ficaram marcadas pela disseminação das chamadas fake news. Reproduzidas não apenas pelos eleitores, como pelos próprios candidatos, a exemplo do atual presidente, as narrativas infundadas ainda poluem o ambiente político.

Este mês, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) aprovou resolução que versa sobre o tema, estabelecendo novas diretrizes que visam coibir notícias e mensagens falsas acerca dos candidatos e propostas, pressionando veículos a darem maior transparência às informações veiculadas e enquadrando disparos em massa.

A doutora em Ciência Política e professora da Faculdade de Ciências Humanas de Olinda (Facho), Priscila Lapa, enxerga a questão com ceticismo. “Eu não tenho muita esperança de que a gente tenha uma eleição limpa e isenta desse processo, não. Acho que a gente se mantém nesse mesmo nível de 2018. Talvez com alguma sofisticação dos mecanismos de combate. Eu acho que sem dúvida houve um avanço de entendimento das instituições de controle e órgão tribunais em relação a esse tema”, pontua.

Por outro lado, aponta que “esse não era o tema da agenda eleitoral no Brasil, e agora é. Então diante disso pode haver um amadurecimento nessa relação do eleitor com a informação que chega pra ele, pode ser que haja um amadurecimento no sentido positivo”.

Na avaliação de Domingues, o próximo pleito, diferente do último, deverá ser mais propositivo, devido ao cenário de empobrecimento da população e da manutenção do alto nível de desemprego. “Desta vez, comparativamente a 2018, há questões muito objetivas como o combate a fome, a miséria, a geração de emprego... E essas questões demandam propostas, soluções, e certamente o eleitor vai estar atento a como os candidatos vão se colocar diante desse cenário de demanda, um cenário que pede propostas. Isso não significa dizer que o tom agressivo ou a propaganda negativa também não estejam presentes. Certamente, esses elementos estarão presentes na disputa pela percepção do eleitor, mas, sem dúvida alguma, a busca por propostas estará mais colocada do que esteve em 2018”, afirma.

‘Terceira via’

Defendida por alguns como solução para driblar a “polarização” entre as lideranças de PT e PL, a chamada terceira parece cada vez mais se consolidar na candidatura de Sergio Moro. Fragilizado após tensa prévia partidária, o tucano João Doria ainda não decolou nas pesquisas.

No último levantamento realizado pelo Ipec, Lula e Bolsonaro possuem, respectivamente, 48 e 21% das intenções de voto. Ou seja, quase 70% do eleitorado se mostra dividido entre o petista e o atual chefe do executivo federal.

“Cenários de crise profunda, como estamos vivendo nesse momento no Brasil, empurram o eleitor para um comportamento mais conservador, a testar soluções que já foram testadas. Pessoas que não necessariamente foram brilhantes, mas que já são conhecidas. A ideia de testar algo novo num cenário de crise é [tida como] arriscada”, analisa Lapa. Para ela, as necessidades materiais deverão se sobrepor à mera expectativa por novas lideranças, a exemplo do que ocorreu nas eleições municipais de 2020, quando partidos tradicionais tiveram a preferência do eleitorado.

A terminologia apresentada, no entanto, desagrada a cientista. “Isso que a gente está chamando de ‘terceira via’ na verdade é o que era normal na política brasileira. Eu consigo imaginar muito claramente qualquer um desses que está sendo colocado como terceira via debatendo com Lula numa boa sobre os temas que eram o normal de uma discussão para uma eleição presidencial; discutindo privatização, reforma tributária, reforma da Previdência... Isso foi diferente em 2018, mas será assim em 2022. Eu acho que a gente volta a essa normalidade política, e aí estes partidos que se colocam como terceira via se esvaziam desse conteúdo de ser ‘terceira via’.”

De acordo com ela, “terceira via política é quando eu sou uma alternativa política a duas candidaturas radicais, extremas, mas a candidatura de Lula não é isso, pelo contrário, a gente está vendo Lula tentando negociar com Geraldo Alckmin”.

O fator Nordeste

Em 2011, após dois mandatos, Lula deixou a presidência batendo recorde de popularidade: segundo levantamento do Datafolha, 83% dos brasileiros classificavam a governança do petista como boa ou ótima. Entre as regiões, o Nordeste conferiu a maior popularidade ao ex-presidente (88%). Aliado ao boom das commodities (matérias primas produzidas em larga escala e valorizadas no mercado internacional, como petróleo e soja) no início dos anos 2000, o PT implantou uma série de políticas públicas e programas de transferência de renda que transformaram, substancialmente, a realidade de milhões de pessoas e fizeram a economia girar em localidades menos favorecidas, como algumas cidades do interior do Nordeste, historicamente desassistidas pelo governo federal.

Somado a outros fatores, como a interiorização do ensino superior, o resultado deste ciclo consolidou a preferência do eleitorado da região, que, nas eleições seguintes (2010 e 2014), depositou a maioria dos votos à sucessora do ex-presidente, Dilma Rousseff. Na última eleição presidencial, o favoritismo petista se confirmou e Fernando Haddad (PT) – apesar de tido como desconhecido dos nordestinos por alguns analistas – recebeu a maior parte dos votos da região (50,60% do eleitorado no primeiro turno e 69,69% no segundo).

Essa aproximação com os governos petistas é um fator a ser considerado no pleito do próximo ano, mas, para Lapa, a questão vai além. “Os subúrbios do Sudeste estão parecidos com as regiões menos favorecidas do Nordeste, então há uma agenda comum, do sofrimento, da miséria, do desemprego, da fome. Isso pode diminuir um pouco esse peso que sempre paira sobre o eleitor nordestino, de que ele votou por causa do Bolsa Família, que ele vota guiado pelo assistencialismo, etc. A situação nacionalmente não é confortável do ponto de vista socioeconômico, então isso vai pesar e talvez dilua um pouco essa polarização que sempre acontece em Nordeste e Sudeste.”

Em 2018, exceto o caso de Ciro Gomes (PDT) no Ceará, nenhum partido que busca se apresentar como alternativa a Lula e Bolsonaro animou os nordestinos. No primeiro turno, Alckmin (PSDB) recebeu 598.969 votos (2,08%). Já o partido de Sergio Moro, o Podemos, obteve apenas 71.208 em toda a região (0,25% dos votos).

Pernambuco

À frente do governo do estado desde 2007, o PSB ainda não definiu quem será o candidato do partido nas eleições de 2022. O nome natural para a disputa seria o do ex-prefeito do Recife, Geraldo Julio, que atualmente chefia a Secretaria estadual de Desenvolvimento Econômico. No entanto, o secretário já deixou claro que não tem interesse em concorrer ao cargo. Os deputados federais Danilo Cabral e Tadeu Alencar são ventilados como alternativas do partido, que deve tomar a decisão no próximo mês.

Em tratativa com a sigla, o PT caminha para um apoio aos socialistas, assim como ocorreu em 2018. A demora para uma definição nas hostes pessebistas, porém, tem causado inquietação no partido de Lula, que já indicou o senador Humberto Costa como pré-candidato da legenda.

No campo oposicionista, a movimentação em torno do Levanta Pernambuco – movimento suprapartidário composto por Cidadania, PSC, PSDB e PL – deverá desaguar na candidatura da prefeita de Caruaru, Raquel Lyra (PSDB).

Apesar da presença do PL de Bolsonaro no grupo, bolsonaristas mais fervorosos, como a deputada estadual Clarissa Tércio e o ministro do Turismo, Gilson Machado Neto (ambos do PSC), podem ser lançados à disputa com o apoio do presidente, representando a extrema direita local.

“O que se tem observado é o surgimento, nos últimos anos, de jovens lideranças que têm se colocado no cenário com um grau de protagonismo razoável. Acho que quem tem que se destacado mais nesse sentido é Raquel Lyra, que se apresenta como uma espécie de líder, nesse sentido de organização – ela ao lado de Priscila [Krause, deputada estadual] – dos grupos insatisfeitos, dissidentes ou historicamente de oposição ao PSB; isso causa um obstáculo à manutenção do PSB no poder, no entanto, eu acho que a gente não pode dizer que terá facilidade”, vislumbra Domingues.

“O PSB tem, sim, uma candidatura competitiva, apesar de não ter um nome”, afirma Lapa. De acordo com ela, a corrida pelo executivo pernambucano deverá acompanhar as definições e os debates nacionais. A cientista também traça paralelos: “[Em 2018] a oposição tinha força, tinha capacidade de disputar a eleição, porque existe um desgaste muito grande do PSB, um desgaste de material político muito grande da máquina estadual, mas por outro lado você tinha a ausência de um candidato que pudesse catalisar essa insatisfação e trazer um pouco dessa perspectiva para o eleitor, como uma alternativa de poder. Mas o que a gente observa para 2022 é uma inversão disso. Agora a oposição tem muitos nomes; a dificuldade da oposição agora é criar uma melhor estratégia para não se dividir tanto e evitar que evitar que uma candidatura governista tenha força.”

Porém o caminho para assegurar o poderio no estado não é tão simples para o partido do governador Paulo Câmara. “A gente tem um governo que vem de uma fórmula cansada, que vem perdendo aliados sistematicamente, que não tem conseguido manter as bases tão fortalecidas assim, dando margem a essa proliferação de candidaturas oposicionistas”, considera Lapa.

Por João Victor Paiva - Diário de Pernambuco

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