Pesquisador da Fiocruz Pernambuco e doutor em biologia molecular, Rafael Dhália, fala sobre desafios da vacina contra o coronavírus. Confira a entrevista.
Por que a vacinação é o meio mais eficaz para se combater uma epidemia por um vírus?
O grande diferencial da vacina é que se trata de uma medida profilática, ou seja, de prevenção mesmo. À medida que as pessoas vão ficando imunes, em consequência da vacinação, elas passam a ser capazes de neutralizar o vírus, diminuindo aos poucos a sua transmissão. Mantendo-se as campanhas de vacinação ao longo dos anos, a circulação desses vírus cai drasticamente até serem considerados praticamente erradicados, como já ocorreu no caso do sarampo, meningite e poliomielite, por exemplo. Logo a vacinação é um caminho importante em dois sentidos: evita a circulação do vírus, diminuindo a sua transmissão entre as pessoas, e protege das formas graves da doença.
Uma vez iniciada a vacinação contra Covid poderemos voltar ao que se chama de vida normal? Por quanto tempo ainda iremos conviver com os cuidados que temos hoje, como uso de máscara e álcool em gel?
Essa percepção de que a vacina vai resolver a pandemia como se fosse um passe de mágica, é uma triste ilusão. Vacina é uma medida efetiva de controle de transmissão populacional, mas esse efeito de redução é gradual (à medida que as pessoas vão se vacinando) e requer anos de cobertura vacinal. Significa dizer que surgirão bolhas de imunizados e que até que essas bolhas se juntem, formando uma única bolha, que chamamos de imunidade de rebanho (quando 60-70% da população encontra-se protegida), levará alguns anos. Diria que teremos pelo menos mais dois anos pela frente, onde teremos de conviver ainda com máscara e álcool gel.
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Muitas vacinas estão sendo aprovadas no mundo inteiro. O ideal seria apostar em apenas uma ou combinar vacinas poderia ampliar a proteção contra o coronavírus?
Se as 19 vacinas que se encontram mais avançadas fossem hoje produzidas na capacidade máxima de seus produtores, não teríamos vacinas suficientes para imunizar nem a metade da população mundial. Dessa forma, apostar em uma única me parece ser uma decisão equivocada, para não dizer burra. Vamos ter de usar a maior quantidade de vacinas seguras e eficazes possíveis, existem pelo menos 64 delas que já estão em testes em humanos. A priori os esquemas de vacinação não poderão ser misturados, ou seja, quem aderir a uma determinada vacina terá de tomar a segunda dose da mesma.
Ao longo do ano algumas variantes do Sars-Cov-2 foram descobertas no mundo. Até que ponto o surgimento destas variantes podem ser um problema para as vacinas que estão sendo criadas e já aplicadas na população?
Aparentemente a principal proteína do vírus que está sendo utilizada nas formulações vacinais, a espícula ou “spike”, tem vários alvos para anticorpos neutralizantes, o que significa dizer que mesmo com todas essas variações as vacinas atuais teriam uma meia-vida razoável, para continuarem funcionais. Em relação as mutações observadas, as vacinas de RNA têm uma vantagem enorme (pois a informação genética que ela carrega pode ser alterada na base de produção e rapidamente produzida para vacinação em massa), ou seja, as vacinas podem ser rapidamente alteradas acompanhando as variantes do vírus. Então não parece ser um problema de imediato, portanto as vacinas atuais são extremamente úteis e novas gerações de vacinas devem chegar nos próximos meses, para se somar as atuais.
Por Wellington Silva - Folha de Pernambuco
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