Não apenas as atividades econômicas foram afetadas pela pandemia do coronavírus. A vida pessoal de grande parte da população também sofreu mudanças de uma hora para outra. As medidas de isolamento social levaram muitas pessoas a ficarem em casa, mas isso não significou descanso. Pelo contrário. A rotina ficou ainda mais puxada com o acúmulo de funções, ao conciliar o trabalho em home office com a educação dos filhos e as tarefas domésticas.
Uma realidade que mudou a relação dos brasileiros com a própria casa, já que eles assumiram as funções antes delegadas a empregadas e diaristas. Ao sentir na pele, o trabalho doméstico passou a ser mais valorizado e a lista de bens essenciais se tornou ainda maior. Eletrodomésticos que antes eram considerados supérfluos se tornaram importantes e viram as vendas crescerem durante esse períod de pandemia.
A servidora pública Lívia Filgueiras, de 31 anos, conta com a ajuda de uma doméstica há mais de 10 anos. Por isso, confessa que “antes da pandemia, só ia ao supermercado e fazia as besteiras do fim de semana, que nem contam na limpeza de casa”.
Agora, contudo, está desde o começo do isolamento sem a ajuda da funcionária, Cláudia, e teve que assumir a arrumação do lar. “Eu a liberei desde o primeiro dia da quarentena, porque não adiantava ela ficar pegando transporte coletivo, arriscando-se para vir trabalhar”, conta. Lívia admite, contudo, que as consequências práticas dessa decisão não foram tão simples. “Não era nada que eu não sabia fazer. Mas cuidar da casa, fazer comida, lavar louça, varrer, tirar o pó, lavar a roupa e administrar tudo isso com a rotina de trabalho, mesmo trabalhando de casa, foi complicado”, admite.
Neste período Livia passou a valorizar mais o trabalho doméstico, principalmente depois de entender que varrer a casa pode se tornar uma tarefa complicada. “Descobri que tinha um tapete, aqui em casa, que solta muito pelo. Eu não percebia porque não varria. Quando chegava em casa, estava tudo limpo. Mas, agora, até tirei o tapete da sala. Liguei para a Cláudia e brinquei ‘como você nunca me disse que era um inferno esse tapete?’”, brinca. Além de ter guardado o tapete, ela comprou um aspirador robô, produto que promete tirar o pó da casa com um simples comando.
A servidora pública não está sozinha neste barco. Equipar a casa com eletrodomésticos que antes eram considerados supérfluos virou um investimento necessário aos brasileiros para deixar a rotina mais leve e simples durante a quarentena.
Em Pernambuco, o setor de móveis e eletrodomésticos registrou crescimento de 29% em maio em comparação com o mesmo mês do ano passado. O resultado positivo foi puxado, principalmente, pelo desempenho das vendas de eletrodomésticos, que tiveram alta de 45,5% no período, segundo dados da Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), divulgada pelo IBGE.
Segundo Rafael Ramos, economista da Fecomércio-PE, no acumulado do ano, o segmento de eletrodomésticos está com crescimento acumulado de 40% em Pernambuco e alguns fatores levam a este desempenho positivo. “Primeiro porque teve o auxílio emergencial e gerou uma oportunidade de comprar um eletrodoméstico, que traz essa relação de bem estar maior pelas facilidades que acarreta. Além disso, maio já é um mês que naturalmente já se compra mais eletrodomésticos por conta do Dia das Mães. E também porque muita gente está em casa, e os aparelhos trazem uma facilidade maior nas tarefas domésticas”, explica.
Rotina atribulada gera mais demandas
O isolamento trouxe uma realidade atribulada para muitas famílias, que precisaram conciliar várias atividades na rotina diária. Cuidar da casa é uma delas e varrer chão, lavar roupa e louça, limpar o banheiro passaram a fazer parte da agenda de muitos brasileiros. Atividades que passaram a ser mais valorizadas, por demandarem esforço físico e também tempo. Justamente por isso, houve uma busca por uma maior facilidade para deixar a casa limpa e organizada. E, além do robô aspirador, outros eletrodomésticos tiveram um pico de vendas durante a pandemia.
No Brasil há cerca de 6,5 milhões de domésticas e 11% das famílias brasileiras contavam com o apoio de uma empregada doméstica ou mensalista, segundo pesquisa do Instituto Locomotiva. Durante o isolamento social, 78% dos brasileiros que contam com o auxílio de uma diarista e 61% dos que têm uma empregada mensalista estão sem a ajuda de mais ninguém para cuidar do lar. Segundo a instituição, 49% dos brasileiros que têm uma empregada ou uma diarista não lavavam as próprias roupas, 37% começaram a cozinhar, 25% passaram a lavar pratos e 23%, a arrumar a casa.
Além disso, outro dado dá conta que 38% desse pessoal precisa conciliar os serviços domésticos com o home office e, por isso, 44% dos “patrões” admitem estar mais cansados agora do que quando passavam o dia na rua. “Essas pessoas tiveram que aprender a lavar roupa, estão deixando de cozinhar só por hobby e começaram a ver que o trabalho doméstico é tão importante e cansativo quantas outras profissões”, comenta Renato Meirelles, presidente do Instituto Locomotiva.
Por isso, os eletrodomésticos se tornaram aliados para facilitar a rotina exaustiva, e o robô aspirador foi um dos que viu as vendas alavancarem. “As pessoas ficaram em casa e passaram a usar mais os aparelhos. Os que estavam quebrados ou com defeitos foram comprados novamente. Os eletrodomésticos não deram conta com o serviço diário, que antes não acontecia. Tem também quem comprou o que não tinha antes pela necessidade por estar em casa. Além disso, tem a nova rotina das pessoas em casa e existe uma necessidade de aceleração das atividades domésticas, o que criou a necessidade de comprar alguns algo que facilite”, ressalta Rafael Ramos, economista da Fecomércio-PE.
Fonte - Diário de Pernambuco/ Correio Braziliense
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