De dentro de sua cela em Curitiba, onde está preso há 158 dias, Luiz Inácio Lula da Silva autorizou que Fernando Haddad fosse oficializado ontem terça-feira (11) o candidato do PT ao Planalto.
Em mensagem enviada à militância e lida durante ato em frente à sede da Polícia Federal, em Curitiba, Lula deu seu recado mais explícito ao afilhado político, pedindo diretamente votos para a ele, escolhido como seu representante daqui pra frente.
"Quero pedir, de coração, a todos os que votariam em mim, que votem no companheiro Fernando Haddad para presidente da República", escreveu. "De hoje em diante, Haddad será Lula para milhões de brasileiros", completou.
Lula usou a mensagem, novamente intitulada "Carta ao Povo Brasileiro", como a que marcou sua campanha de 2002, para dizer que é vítima de um processo injusto e que vai voltar para "estar junto com Haddad e fazer o governo da esperança".
"Nunca aceitei a injustiça nem vou aceitar", disse o ex-presidente.
Em seguida, de acordo com o roteiro traçado pelo próprio Lula, Haddad fez seu pronunciamento de menos de dez minutos. Ladeado por integrantes da cúpula petista, que haviam chancelado sua candidatura em reunião mais cedo, na capital paranaense, o agora candidato afirmou que sentia a dor "daqueles que não vão poder votar em quem queriam que subisse a rampa do Planalto".
Pediu o apoio da militância para a "tarefa monumental" que se abriu diante dele e disse que, por Lula, o PT vai ganhar a eleição presidencial de outubro. Com a renúncia do ex-presidente à candidatura, a chapa do PT, agora formada por Haddad e Manuela D'Ávila (PC do B), sairá em marcha com o desafio de, em menos de um mês, herdar o espólio eleitoral de Lula -que registrava cerca de 30% nas pesquisas de intenção de voto.
Segundo dirigentes petistas, Haddad, de saída, centrará esforços na conquista do eleitorado lulista que, sem definição sobre a candidatura, migrou para outros candidatos de esquerda, e se instalou principalmente na órbita de Ciro Gomes (PDT). Pesquisa Datafolha divulgada nesta segunda-feira (10) mostrou Haddad e Ciro tecnicamente empatados em segundo lugar, atrás de Jair Bolsonaro (PSL), com 13% e 9%, respectivamente.
O pedetista, por sua vez, ganhou seis pontos no Nordeste, reduto eleitoral mais fiel de Lula, e chegou a 20% na região. Haddad, cresceu oito pontos, mas ainda fica em 13%.
A cúpula da campanha avalia que, agora oficializado, Haddad sofrerá ataques de adversários como Ciro e Geraldo Alckmin (PSDB), que tentarão conter um possível crescimento do petista nas pesquisas.
Os dirigentes do PT, porém, acreditam que, ao informar o eleitor de que é o indicado de Lula, Haddad crescerá "naturalmente" entre os apoiadores cativos do ex-presidente.
Pesquisas internas feitas pela sigla mostram que o eleitorado lulista se divide em três: os que não votam em ninguém com a saída do ex-presidente da disputa, os que votam em um indicado por ele sem ressalvas e os que votam em seu herdeiro, mas querem conhecê-lo melhor antes.
A apenas 26 dias do primeiro turno, a transmutação de Lula para Haddad será cercada do apelo ao "vote 13", número do PT, para tentar driblar o desconhecimento do ex-prefeito de São Paulo em regiões como o Nordeste, por exemplo.
O xadrez, conduzido por Lula desde o dia de sua prisão, em abril, foi jogado para tentar garantir ao máximo a transferência do apoio de seu eleitorado a seu herdeiro político quando ele fosse ungido candidato.
Lula e grupos do PT ainda resistentes a Haddad insistiam em adiar a troca na chapa até o limite, em 17 de setembro, mas a decisão do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), que barrou a candidatura do ex-presidente, fez com que o partido elaborasse um novo roteiro, desta vez mais curto.
Ainda que a presidente da sigla, Gleisi Hoffmann (PR), e alguns de seus aliados, permanecessem com o discurso de que era preciso ir até o fim com Lula, a ordem do petista foi respeitar a data estabelecida pela Justiça Eleitoral para a substituição, 11 de setembro, ao mesmo tempo em que sua defesa recorresse à instância máxima, o STF (Supremo Tribunal Federal), para corroborar o discurso de que foi até o limite.
E assim foi feito. A partir de então, o próprio Haddad, que temia não ter tempo suficiente para conseguir a transferência de votos do padrinho em tão pouco tempo, acompanhou diretamente a elaboração da estratégia.
O ex-presidente pediu sugestão de seus principais auxiliares, por carta, sobre como a troca deveria ser feita.
Na segunda-feira (10), sem uma resposta do Supremo sobre o mais recente recurso de sua defesa, Lula colocou o plano em marcha. Reuniu-se por horas com Haddad e advogados e orientou o até então vice de sua chapa sobre o pronunciamento que deveria fazer no dia seguinte.
Fernando Haddad foi lançado como candidato substituto à presidência da República pelo PT, com Manuela D’Ávila (PCdoB) também assumindo a candidatura a vice-presidente. O ex-prefeito de São Paulo estava acompanhado da sua esposa, Ana Estela Haddad. O advogado e um dos fundadores do PT, Luiz Eduardo Greenhalgh, leu mais uma carta de Lula ao público aonde ratificava a condição de candidatos dos seus aliados.
Ainda estavam presentes a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffman; ex-presidente e candidata ao Senado em Minas Gerais, Dilma Rousseff (PT); o senador Lindbergh Farias (PT-RJ); além da presidente nacional do PCdoB e candidata a vice-governadora de Pernambuco pela Frente Popular, Luciana Santos.
Da FolhaPress
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