A paralisação dos caminhoneiros gerou um estrago na inflação. Interrompeu a queda da taxa dos últimos meses, acelerou a de maio e ainda jogou nova carga inflacionária para este mês de junho. A Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), que coleta preços no município de São Paulo, apurou uma evolução de 0,19% na inflação de maio, contra deflação em abril.
Para este mês, as previsões foram refeitas e a instituição estima uma inflação de 0,57%. A maior pressão no índice vai ocorrer no final do mês, quando completará um mês da greve.
A pesquisa da Fipe é quadrissemanal. Ou seja, apura taxas acumuladas de quatro em quatro semanas, em relação a igual período do mês anterior. Conforme entra uma semana nova, sai a primeira da lista."A inflação sempre tem um grande vilão. Desta vez, porém, foram dois: gasolina e batata", diz Guilherme Moreira, coordenador do IPC da Fipe.
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Os consumidores já pagaram caro por vários itens, principalmente pelos produtos "in natura", mas a pressão continuará neste mês no setor de semielaborados, diz ele.
Moacir Yabiku, gerente de pesquisa do IPC da Fipe, destaca o estrago da batata e da gasolina no índice. Na última semana do mês passado, período da greve, a batata teve alta de 74% em São Paulo, em relação à última semana de abril. No mesmo período, a gasolina subiu 9%.
Essa comparação de preços é chamada pela Fipe de ponta a ponta. Compara os preços de uma semana isolada, em relação a outra de igual período anterior. Os números médios de maio, incluindo a comparação de todas as semanas em relação às de abril, indicaram o quanto a batata ganhou preço e pesou no bolso do consumidor: a alta foi de 19%. Nos últimos 12 meses, o produto tinha registrado queda de 2%.
Já a gasolina, que subiu 3,7% em maio, vinha de evolução de 22,3% nos últimos 12 meses. De janeiro a maio, o reajuste nos preços desse combustível nas bombas foi de 6,4%, conforme a pesquisa mensal da Fipe.
A inflação de maio foi praticamente provocada pela gasolina e pela batata, segundo Moreira. A primeira foi responsável por 46% do IPC, enquanto a batata teve responsabilidade por 25% do índice. Outros itens que pesaram no índice no mês passado foram limão, leite e viagens.Para este mês, os consumidores podem esperar uma reversão dos preços das proteínas.
O principal aumento será no frango. As barreiras colocadas pela União Europeia no produto brasileiro tinham provocado um aumento na oferta dessa carne no mercado interno e derrubado os preços. Sendo o setor mais afetado pela greve dos caminhoneiros, devido à interrupção na oferta de insumos para alimentar as aves e à alta mortandade de animais, a avicultura necessitará de várias semanas para voltar ao patamar normal de oferta de carnes.
Moreira diz que é difícil medir os efeitos inflacionários da greve em cada um dos setores da economia. O grande problema, porém, não é a inflação, mas a parada da economia gerada pelo movimento. A inflação deverá fechar o ano próximo de 3,15%, mas o ritmo da atividade econômica vem caindo, como mostram as previsões do Focus, boletim semanal do Banco Central.
Da Folha de São Paulo
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