A necessidade de trabalhar e contribuir com as despesas da casa empurraram Niedjane Monte para o mercado ainda cedo. O sonho de cursar publicidade e propaganda, despertado ainda no ensino médio, vem sendo postergado desde 2013. Foi quando a renda de sua família começou a cair, um fenômeno nacional identificado por instituições de pesquisa e consultoria, como a Ceplan. Desde o final do ano passado, com o agravamento da crise no País, esta tendência vem se tornando ainda maior, segundo o IBGE e o Dieese.
Para Niedjane, é preciso ganhar dinheiro, trabalhar, ajudar em casa. Iniciar a graduação vai ficando para depois, quando der. “Comecei a trabalhar logo porque eu precisava arcar com as minhas necessidades, deixar de ser dependente e ajudar no orçamento de casa. Infelizmente, o curso que realmente quero fazer não cabe no meu orçamento hoje”, diz ela.
Como Niedjane, a geração de jovens com idade entre 16 e 26 anos vem sendo sacrificada pela conjuntura de recessão, inflação e juros altos. “Quando o chefe da família perde o emprego, e a renda diminui, a tendência é que o filho vá para o mercado. Com isso, há um aumento na oferta de membros secundários da família no mercado de trabalho. O chefe não consegue sozinho segurar a barra e os filhos precisam ajudar e contribuir com o orçamento”, explica o economista Jorge Jatobá, sócio da Ceplan.
Jovens com idade entre 16 e 26 anos vem sendo sacrificada pela conjuntura de recessão, inflação e juros altos.
De acordo com a Pesquisa Mensal de Empregos (PME) do IBGE, entre os jovens entre 16 e 24 anos, o aumento do desemprego passou de 12% no primeiro trimestre de 2014 para 16,2% em abril. Em relação ao mesmo período de 2014, quando essa taxa era de 15,8%, também houve aumento. Ao mesmo tempo, o rendimento real das famílias foi de R$ 2.138,50, 0,5% menor do que no mês anterior. Esse foi o terceiro mês consecutivo de queda no salário real frente ao mês anterior. No comparativo com o mês de abril do ano passado, o recuo da renda foi ainda maior, de 2,9%. Por terem menos experiência, os jovens tendem a ser os primeiros atingidos na onda de demissões.
Em um ano, o número de desempregados no Brasil cresceu 32,7% de abril de 2014 a abril de 2015, a maior taxa da série histórica. No total, 1,6 milhões de brasileiros estão sem trabalho. Essa majoração acentuada no contingente de desempregados é reflexo tanto das demissões provocadas pela crise econômica quanto pelo fato de que os jovens que antes não declaravam que estavam buscando uma colocação, agora afirmam o inverso.
“O mercado realmente fechou, só estão contratando gente experiente. Eu tenho um bom currículo, mas não consigo emprego pela falta de experiência”, comenta a estudante Bruna Araújo, que possui ensino superior incompleto e inglês fluente.
“De fato, os jovens são mais instáveis no mercado de trabalho. Isso não é uma característica só do Brasil, mas do mundo todo. Uma forma de minimizar essa questão é através de uma qualificação adequada. Se ele ingressa no mercado precocemente e deixa de adquirir conhecimento, consequentemente há comprometimento do seu potencial”, comenta Jatobá.
“O mercado não está suscetível a aceitar recém-formados ou profissionais sem experiência. Afirmo por experiência própria. Grandes talentos podem ser desperdiçados por as empresas não possuírem programas básicos para trainees”, confirma o recém-formado em administração Caio Mota. Diante desse cenário nebuloso, o cerne da questão é como criar mecanismos de proteção contra a desocupação. Uma das consequências mais graves desse crescimento da taxa de desemprego é o aumento da informalidade.
Para a Organização Internacional do Trabalho (OIT), a informalidade entre os jovens representa um duplo desafio para o desenvolvimento, já que enquanto novas oportunidades de emprego devem ser criadas, também é fundamental garantir que esses postos de trabalho garantam aos profissionais condições dignas de trabalho. De acordo com o informe da Organização sobre o panorama do mercado de trabalho para os jovens na América Latina e Caribe, entre os 20% mais pobres, apenas 22% têm contrato de trabalho. Além disso, seis em cada dez empregos disponíveis são em condições de informalidade e 32% dos que trabalham formalmente sofrem com alguma irregularidade.
Do JC Online
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