O diagnóstico de câncer de ovário representa o início de uma das mais difíceis batalhas para as mulheres. Como a doença ainda não tem cura e o diagnóstico é geralmente tardio, as pacientes que apresentam o problema contam com pouco tempo de sobrevida. A estimativa do Instituto Nacional do Câncer (Inca) é de 5.680 novos casos este ano. Frente a esse quadro, uma equipe de pesquisa da Fundação Ezequiel dias (Funed), coordenada pela doutora em biologia celular Luciana Maria Silva, pretende desenvolver exame laboratorial para ajudar a definir qual o melhor tratamento para a doença.
Para chegar a esse exame, a pesquisadora vai fazer um amplo sequenciamento do DNA e identificar se algum gene pode tornar a mulher mais suscetível ou mais resistente aos medicamentos para o tratamento desse tipo de câncer. Por ser desenvolvido pela Funed, uma das contrapartidas é subsidiar exames para o Sistema Único de Saúde (SUS). A previsão é que esteja disponível no mercado em três anos.
A pesquisa será desenvolvida no laboratório de biologia celular da fundação, que, desde 2008, tem a oncologia como uma das linhas de pesquisa. “Embora tenha baixa incidência, o câncer de ovário é altamente letal e a forma de diagnóstico é mais precária. Não é como, por exemplo, o câncer de mama”, afirma Luciana.
Desde 2012, ela está empenhada na pesquisa de um método que possa ajudar os médicos a determinarem melhores procedimentos terapêuticos. “Os tumores são descobertos em estágios avançados. É importante averiguar o perfil molecular das pacientes e cruzar com os dados de tratamento para ver se algum gene se apresenta como marcador de resistência da paciente aos medicamentos,” sugere.
Trata-se do tumor ginecológico mais difícil de ser diagnosticado e o de menor chance de cura, embora menos frequente que o câncer de mama. É a causa mais comum de morte nas pacientes com tumores ginecológicos. No entanto, de acordo com dados do Inca, cerca de três quartos dos cânceres só são descobertos já em estágio avançado. A maioria é carcinoma epitelial (câncer que se inicia nas células da superfície do órgão), o mais comum. Outro é o tumor maligno de células germinativas, que dão origem aos espermatozoides e aos ovócitos, popularmente conhecidos como óvulos.
O tratamento do câncer de ovário pode ser feito por meio de cirurgia para retirada do tumor (citorredução) nos casos de câncer primário. Na fase metastática, é realizada a quimioterapia. O problema é que muitas mulheres têm resistência ao tratamento quimioterápico, que pode tanto ser à base de cisplatina, que é o mais convencional, ou à base da proteína recombinante, como o TRAIL, que é um tratamento novo, ainda em fase de testes clínicos. “No caso da quimioterapia, não há o conhecimento da biologia do tumor de cada paciente e, por isso, o tratamento é generalizado”, enfatiza a pesquisadora. Para ela, a partir do estudo, futuramente poderão ser determinados outros tipos de condutas terapêuticas.
EFICÁCIA
Os medicamentos atuam em diferentes processos, até levar à morte a célula cancerígena. Os pesquisadores pretendem fazer sequenciamento dos genes de mulheres com câncer de ovário para saber quais deles podem ou não trazer informações para tornar os medicamentos mais eficazes. Os genes atuam como vias de sinalização. Em outras palavras, são eles que dão o comando para diversos processos no interior das células. Ao determinar o perfil molecular, é possível antecipar se determinado medicamento poderá ser mais eficaz ou não no tratamento.
Luciana lembra que a descoberta do Her2, que é um receptor tipo 2 do fator de crescimento epidérmico humano, e do gene Her2, responsável pela produção da proteína do mesmo nome, foi fundamental para avançar no tratatamento do câncer de mama. Um erro aleatório nesse gene pode levar ao desenvolvimento do câncer. “A descoberta do Her2 aumentou a sobrevida das pacientes. Depois disso, a hormonioterapia mudou a linha de tratamento”, pontua Luciana.
A pesquisa será realizada com cerca de 100 pacientes com câncer de ovário. Será feito um sequenciamento de mais de 20 mil genes. O passo seguinte será estabelecer um cruzamento dos dados do mapeamento genético com os dados clínicos das pacientes, como por exemplo, tempo de prolongamento da vida e resistência ao tratamento.
“Queremos identificar qual o perfil de expressão do grupo de sobrevida baixa e do grupo de sobrevida alta. Se, dos 20 mil genes, chegarmos a um gene que determina a sobrevida, teremos uma importante descoberta”, ressalta. Por fim, será desenvolvido o exame laboratorial, que permitirá, ao identificar o perfil molecular da paciente, um tratamento individualizado. Espera-se, com isso, resultados mais efetivos num intervalo de tempo muito menor.
A pesquisa recebeu o prêmio de projeto de incentivo à inovação da Funed e será desenvolvida em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), com o objetivo de oferecer novos produtos em saúde. A ideia é que, ao fim, seja possível a criação de um exame laboratorial que possa ser comercializado. É a primeira experiência desse formato na Funed.
Márcia Maria Cruz - Estado de Minas
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