Um grupo de cientistas conseguiu desalojar o vírus da Aids das células onde se refugia quando os pacientes são tratados com antirretrovirais, em um novo avanço no combate à doença, apresentado nesta terça-feira (22) na Conferência Internacional sobre Aids, realizada em Melbourne, Austrália.
A experiência, feita com seis voluntários, tem como objetivo desalojar e eliminar (uma abordagem conhecida como "kick-and-kill") o vírus, uma das estratégias testadas pelos cientistas para encontrar um medicamento.
Tomar medicação antirretroviral reduz a quantidade de vírus no sangue a níveis indetectáveis e permite aos pacientes levar uma vida quase normal. No entanto, estes medicamentos devem ser tomados todos os dias, são caros e têm efeitos colaterais.
Se o paciente parar de tomar os remédios, o vírus ressurge em questão de semanas e volta a infectar as células imunológicas, deixando o indivíduo vulnerável a muitos micróbios, alguns deles fatais.
Por isso, os cientistas tentam há três anos desalojar o vírus de seu refúgio e matar as células onde se esconde quando o paciente está tomando antirretrovirais.
Na Conferência Mundial sobre Aids, realizada em Melbourne, um grupo de cientistas da Universidade de Aarhus na Dinamarca apresentou suas conclusões. Seis pacientes tratados com antirretrovirais, também tomaram romidepsina, um anticancerígeno que faz a quantidade do vírus aumentar entre 2,1 e 3,9 vezes no sangue.
Em cinco dos seis pacientes, o vírus se tornou localizável.
Os cientistas terão agora que determinar se todos os vírus escondidos foram "revelados" e encontrar uma forma de matar as células de refúgio, onde o vírus se multiplica assim que se interrompe o tratamento com antirretrovirais.
"Demonstramos que com a romidepsina podemos ativar um vírus que hiberna", declarou Ole Schmeltz Sogaard, chefe da equipe de cientistas.
"É um passo na direção certa, mas o caminho ainda é longo e os obstáculos são muitos antes de que possamos falar de uma cura da Aids", acrescentou.
DESTRUIR AS CÉLULAS REFÚGIOS - Quando vai para o sangue, o vírus "reativado" deixa uma marca na parte externa das células imunológicas infectadas CD4, que pode ser vista em microscópio.
Os cientistas esperam que esta marca, similar às impressões digitais, possa ser rastreada pelas células T (linfócitos T), que combatem as infecções. A equipe de cientistas quer combinar a romidepsina, que "desperta" o vírus da imunodeficiência humana (HIV), com uma vacina chamada vacc-4x, para incitar as células T a identificar e em seguida destruir as células onde o vírus se refugia.
Os seis voluntários do experimento não sofreram efeitos colaterais importantes ao tomar romidepsina e este medicamento anticancerígeno não interferiu no efeito do tratamento com antirretrovirais.
A Conferência Internacional sobre Aids, que reúne a cada dois anos especialistas do mundo todo, foi marcada dias antes de sua abertura pela decepção do caso da "menina do Mississippi".
Trata-se de uma menina americana, nascida com HIV de mãe soropositiva e que não tinha sido tratada. A menina recebeu ao nascer fortes doses de medicamentos durante 18 meses, antes de os médicos perderem o rastro do vírus.
Cinco meses depois, os médicos não conseguiram encontrar traços do vírus, uma descoberta assombrosa, já que o HIV invariavelmente aumenta menos de um mês depois de suspenso o tratamento.
No entanto, há alguns dias descobriu-se que, após viver 27 meses sem HIV nem remédios, o vírus tinha voltado a aparecer.
Do NE10
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