quarta-feira, 12 de junho de 2013

FUTEBOL - COPA DAS CONFEDERAÇÕES VAI SER O GRANDE TESTE PARA AS ARENAS E AS CIDADES

Que a Copa das Confederações vai ser o grande teste para as arenas e cidades brasileiras que receberão os jogos - e posteriormente a Copa do Mundo - é quase pleonasmo. Mas há algo muito mais significativo em meio a assentos e naming rights: o torcedor. É ele que, hoje, passa 90 minutos de pé, mata a fome com churrasquinho, queijo assado e salsichão; entra nos banheiros e encontra os vasos arrancados; entra no estádio pulando catraca com ingresso do jogo anterior comprado ao cambista.

Como num passe de mágica, muita coisa vai mudar a partir de domingo. O churrasquinho vai dar lugar ao espaço gourmet. O concreto duro que acumula lodo no inverno e ferve no verão agora é lugar marcado. Não pode entrar com guarda-chuva, comida nem pensar. As quase centenárias charangas também serão barradas, pois será proibido entrar com instrumentos musicais. Acender um cigarro, atitude automática de quem está muito nervoso no jogo, nem pensar. Diante disso fica a pergunta ao torcedor: uma mudança radical de cultura será absorvida tão rapidamente?

Quando o Consórcio Arena Pernambuco divulgou uma série de regras de comportamento para a o estádio justamente no dia de sua inauguração, em 22 de maio, a recepção foi a pior possível no Blog do Torcedor. O internauta que assina o comentário como Will ironiza: "Devem estar pensando que o estádio de futebol é uma sala de cinema (...) ainda querem proibir o torcedor de torcer com bandeiras e instrumentos musicais".

Outro questionamento refere-se ao veto a guarda-chuvas. Embora justifique-se de que o objeto pode esconder armas, a chiadeira foi geral, ainda mais lembrando que as duas principais competições acontecem no inverno. Outro internauta reclamou justamente disso. "As crianças têm que sair do estacionamento na chuva? Acabou-se o futebol."


Stela Ramos é torcedora do Náutico foi assistir seu time enfrentar o Sporting no já citado 22 de maio e garante que, a partir de julho, não deixará seu amado time sozinho na arena. Mas não queria trocar o chão batido das sociais dos Aflitos pelas cadeiras em São Lourenço da Mata. Sentiu-se constrangida quando entrou na praça esportiva, como se estivesse invandindo um lugar que não lhe pertence.

"No meio daquele povo todo chique a gente fica até com medo de pagar mico. Até pra xingar: vai ladrão, seu piiiiii (censura o palavrão). Fica o tempo todo naquela posição, a cadeira parece uma cuia. Quando a gente levanta ela fecha de repente (imita o barulho do assento fechando). É maravilhoso, de primeiro mundo, mas falta o aconchego que a gente sente aqui."

O vendedor Sílvio Romero é fumante e já sabe que o hábito não será tolerado. Mas não vai ser problema. Nos Aflitos ele só sucumbe enquanto o entorno está vazio. "Quando tem muita gente perto eu não fumo". O maior teste de fogo vai ser olhar para a frente e não ver aquele emaranhado de ferros. Sim, o maior companheiro dele é o alambrado, o mesmo que recebeu alforria nas novas arenas.

"Fico no alambrado da hora que chego no estádio até a hora de sair. Fico ali a vida toda, não tem como ficar sentado. Vai ser difícil (na arena) porque tem um bocado de norma. Ou cumpre ou é excluído. Tem que se reeducar", reconhece.

Ao lado de Sílvio estava o economista Álvaro Moreira. Ele testemunhou nada menos que o mítico hexacampeonato nas arquibancadas do velho Eládio de Barros Carvalho. Mas não vê a hora de colocar a Arena Pernambuco no seu roteiro. "Moro em Olinda e não vai ter problema nenhum, não se pode viver de passado. Não vou ter saudade de jeito nenhum", arremata.

ARRUDA - Ricardo Rozas é funcionário público federal e só deve pisar na arena no próximo ano, quando seu Santa Cruz enfrentar o Náutico, até agora único mandante do novo estádio. E acha que vai ser bom que todo mundo seja obrigado a sentar. Nas sociais do Arruda, sofre por conta da atrose que incomoda seu joelho direito. O problema vai ser educar as pessoas.

"Vai demorar muito a educar esse nosso povo a assistir sentado. Tem que haver uma reciclagem no torcedor. Eu acho ótimo assistir sentado, até porque tenho problema no joelho. Mas acho que não vai mudar rápido. Vai ser preciso uma campanha na mídia", acredita.

Para os rubro-negros, o entrave é a falta de um lugar para a torcida confraternizar. Explica-se. O veto às bebidas alcoólicas restringe-se a área interna dos estádios pernambucanos - arquibancadas, cadeiras e camarotes. Na Ilha do Retiro, por exemplo, existem ao menos três bares dentro do clube onde os torcedores se encontram.

"É melhor ficar em casa, pois não vai ter nenhum lugar para o pessoal confraternizar. Aqui você encontra os amigos, toma uma cerveja", diz. As restrições internas da arena não o assustam. "Para mim é indiferente não poder pular por causa da cadeira ou a falta do alambrado", aponta o administrador de empresas Édson Cirilo.

Do NE10

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